Casos absurdos de discriminação contra estrangeiros no Japão
A discriminação contra estrangeiros no Japão é um assunto sério, que precisa ser discutido e tratado com a rigorosidade que merece. O problema afeta grande parte da população não-nipônica que, em sua maioria, está no país em busca de boas oportunidades de emprego e só quer se inserir na sociedade, contribuir como cidadão e viver uma vida pacífica.
A comunidade brasileira no Japão já tem três décadas de história, desde que o governo decidiu abrir as portas para os descendentes de segunda ou terceira geração. Apesar da relevância, não é a única comunidade de destaque e apenas mais uma a relatar casos de preconceito, humilhações e dificuldades com alguns serviços por não ser um nativo do país.
As comunidades chinesas e coreanas possuem longas histórias em território japonês e também sofrem preconceitos com bastante frequência. No caso dos coreanos, muitos são de famílias que migraram ao Japão quando a Coreia era território japonês (1910-1945). São descendentes coreanos que nasceram e cresceram em terras japonesas, muitos só falam japonês e mesmo assim sofrem preconceitos, tendo muitas vezes que ocultar os nomes coreanos para que os colegas de escola não percebam suas raízes no país vizinho.
No caso dos chineses, caí sobre eles uma má fama de serem mal educados, não respeitarem filas ou de deixarem lixo em lugares públicos. Com mais de 730 mil residentes em terras nipônicas, são os chineses que ocupam o primeiro lugar nas comunidades estrangeiras, enquanto que os brasileiros estão na quinta posição, com cerca de 200 mil residentes, perdendo para coreanos, filipinos e vietnamitas.
No mês de abril, o governo japonês introduziu novos vistos para trabalhadores estrangeiros, em um esforço para atrair mais 500 mil pessoas para o país até o ano de 2025. O crescimento das comunidades estrangeiras tem se tornado uma necessidade, devido à expressiva falta de mão de obra, envelhecimento e encolhimento populacional, que tem causado danos graves para a indústria do país.
Em um cenário onde a presença de estrangeiros se torna cada vez mais comum, é fundamental que os japoneses também aprendam a conviver com as diferenças culturais e estejam abertos para construir uma sociedade de respeito e compreensão mútua. Mas será mesmo que a maioria dos japoneses está disposto a isto? Até o momento, pela atitude do próprio governo que busca o rodízio de trabalhadores estrangeiros ao invés da imigração, fica claro que manter uma sociedade homogênea, com pouca influência externa na cultura japonesa, ainda é uma prioridade.
Já que estamos falando sobre discriminação, aproveito para deixar alguns casos ocorridos nos últimos anos, que acabaram ganhando visibilidade na mídia. São casos de discriminação que mostram que, infelizmente, ainda há um logo caminho a percorrer até que os estrangeiros se sintam parte da sociedade do Japão.
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CHINESES EM OKINAWA
Em uma bela praia na ilha de Miyako, em Okinawa, no extremo sul do Japão, turistas chineses tiveram que enfrentar um caso absurdo de discriminação em agosto de 2017. Trabalhadores temporários que forneciam guarda-sol e cadeiras de aluguel para os visitantes da praia, colocaram uma placa na areia que anunciava custo de ¥2 mil (R$70) para japoneses e ¥20 mil (R$700) para o caso do cliente ser chinês.
A placa gerou repercussão na mídia japonesa e reclamações na prefeitura local. O comerciante foi obrigado a remover o anúncio e tentou se justificar, dizendo que os turistas chineses quebravam as cadeiras de plástico e iam embora sem ressarcir o comerciante pelo prejuízo.
PROTESTO CONTRA COREANOS
Em 2014, uma escola sul-coreana na cidade de Osaka foi alvo de protestos de grupos xenofóbicos de extrema-direita, que proferiram ofensas contra os nativos do país vizinho e até ameaças contra aqueles que saissem da escola durante a ação do grupo. Este caso específico gerou repercussão nas redes sociais com a publicação de um vídeo.
Os atos xenofóbicos daquele ano chegaram a chamar a atenção da ONU, que fez solicitações para que o primeiro-ministro Shinzo Abe e autoridades do governo japonês tomassem iniciativas mais duras contra crimes de racismo. O que mais gerou revolta na época foi o fato de a polícia acompanhar os protestos, mas não tomar nenhuma medida ao ver os participantes proferindo ameaças e ofensas aos estrangeiros.
BRASILEIROS
Não são poucos os casos envolvendo discriminação contra a comunidade brasileira no Japão e, eventualmente, alguns casos ganham grande repercussão, chegando a se tornar foco de atenção e discussão até mesmo nos veículos de comunicação japoneses. Um dos casos mais conhecidos é de 2014, quando um pastor brasileiro foi ofendido por um médico no Hospital Geral de Iwata, em Shizuoka, região central do Japão.
O pastor levou a filha de 6 anos para consultar em uma madrugada, depois do aparecimento de manchas nas pernas da menina, mas os médicos do plantão não viram urgência no caso e disseram ao brasileiro para voltar no horário normal de atendimento. O pastor tinha dificuldade em se comunicar em japonês e insistiu que o caso da filha merecia atenção imediata, o que fez com que um dos médicos proferisse palavrões como “Kuso” (merda) e “shine” (morra). As palavras foram traduzidas por outra filha do pastor e o brasileiro, indignado, gravou um vídeo da equipe do hospital pedindo desculpas, que gerou grande repercussão nas redes.
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Um outro caso notório ocorreu em 1998, em Hamamatsu, também na província de Shizuoka. A jornalista brasileira Ana Bortz entrou com um processo contra uma joalheria na cidade, após ter sido expulsa por ser estrangeira. Os donos da joalheria, na época, chegaram a colocar uma placa na frente do estabelecimento, proibindo a entrada de estrangeiros. A justiça japonesa acabou condenando os donos a pagar uma indenização de ¥1,5 milhão para a brasileira.