Meu coração viajante pelo jornalista André Luis Cia.
Quando a Ann me convidou para escrever o segundo texto como convidado do Clube do Bolinha para o Brasileiras pelo Mundo, fiquei pensando muito sobre o tema que escreveria desta vez, pois queria que fosse diferente do meu anterior, que falava sobre as minhas experiências em alguns países e do meu espírito cigano.
Depois de muito refletir cheguei à conclusão que deveria contar um pouquinho do que talvez tenha me levado a desenvolver este gosto pelo diferente, pela aventura de vivenciar novas experiências, e de conhecer novas culturas e pessoas.
Comecei a sonhar muito cedo. Lembro-me bem de que ainda na infância, uma de minhas diversões preferidas era acompanhar o programa de TV “Sítio do Picapau Amarelo” (TV Globo), baseado nas histórias do escritor Monteiro Lobato. Nelas, o trio de protagonistas, liderados pela boneca de pano Emília, e pelos irmãos Pedrinho e Narizinho, utilizavam o secreto pó de pirlimpimpim, que tinha o poder mágico de transportá-los para qualquer lugar do mundo.
E assim, como os personagens de Lobato, na minha pura inocência de criança, eu imaginava também que, ao fechar os olhos e me concentrar firmemente num destino, eu também seria transportado para ele como acontecia na TV, inclusive, eu falava várias vezes a palavra mágica: pirlimpimpim, pirlimpimpim. No entanto, me frustrava quando abria os olhos e me deparava com o mesmo lugar.
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Ficava tão irritado que chorava intensamente. Como morava numa chácara e raramente tinha a presença de crianças da minha idade, nunca tinha oportunidade de compartilhar com elas estas viagens imaginárias porque elas só aconteciam quando não havia nenhum adulto por perto, e eram sempre na chácara.
Com o tempo e com as constantes frustrações de não sair do mesmo lugar comecei a ler. Me tornei um leitor voraz na escola. Era um dos alunos mais assíduos da pequena biblioteca. Tudo que chegava de novidade eu já reservava. Se o livro fosse mais fino, eu conseguia ler no mesmo dia, e na manhã seguinte eu já pegava outro romance. E como foi gostoso e prazeroso esse despertar pela leitura. Eu não acreditava mais no pó de pirlimpimpim, porém, sonhava com cada um daqueles lugares que os personagens haviam visitado.
Foi nessa época que conheci o livro “Meninos sem pátria”, do autor Luiz Puntel, que narrava a história de uma família de um jornalista que, após publicar a tortura de um padre por questões políticas, começou a ser perseguida e tiveram que fugir para a Bolívia, depois para o Chile e França. Eu não tinha noção do que era uma ditadura, pois não tinha passado por isso, mas a luta daquela família me comoveu tanto que era como se eu estivesse fugindo com eles para cada um dos países que eles foram. Brotava ali o desejo de conhecer a França um dia. Eu tinha me apaixonado por aquele país só de ler o romance.
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E como foi mágico quando realmente tive a oportunidade real, anos depois do pirlimpimpim e de ler Meninos sem pátria, de pisar os meus pés na França. Isso aconteceu em 2009, e foi um dos momentos mais lindos da minha vida. O que eu lia nos livros ou via pela TV ou pelo cinema era verdadeiro: Paris, sem dúvida, era e é um dos lugares mais encantadores do planeta. Passei apenas uma tarde ali. Foi no sistema bate-volta, mas valeu cada minuto daquela viagem. Era um dos meus sonhos de adolescente sendo transformado em realidade.
Paralelo à leitura de livros e jornais, outra paixão foi surgindo na infância e se desenvolvendo com mais intensidade durante a adolescência: a de escritor. Ao invés de só ler a história de outros autores, comecei a sentir necessidade de contar as minhas próprias histórias. Óbvio que em cada uma delas, os meus personagens iam para lugares que um dia eu também gostaria de visitar.
Quando chegou o vestibular e escrever já tinha se tornado uma rotina na minha vida, a primeira opção de curso que pensei foi a de jornalista. Acho que não havia outra que eu me identificasse mais do que aquela. Só que, ao contrário da ficção, no jornalismo, eu precisaria sair do campo ficcional e mergulhar na veracidade dos fatos. Era o meu compromisso ético como profissional.
Graças ao jornalismo, pude embarcar literalmente em muitas histórias interessantes- uma delas, com quatro blogueiras do Brasileiras pelo Mundo e também com a editora chefe deste blog, Ann.
Foi também por causa do meu trabalho como repórter que fiz duas séries internacionais sobre o sonho de brasileiros no exterior: as séries sonho americano e a sonho italiano.
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Elas sintetizavam um pouco da minha própria história, ou seja, essa vontade que sempre tive de conhecer outros lugares. Assim como cada um dos brasileiros que entrevistei, eu também deixei o Brasil algumas vezes em busca desse sonho e coração viajante. Morei temporariamente em Portugal (seis meses), na Irlanda (sete meses), nos EUA (quatro meses), e na Itália (um mês). Somando todas as experiências, fiquei fora do Brasil pouco mais de um ano e meio. Mas tudo foi tudo tão intenso e maravilhoso, que é como se eu tivesse vivido anos em cada um destes lugares.
No ano passado, depois de muita luta e também de determinação, consegui minha cidadania italiana. Agora, poderei vivenciar sem tempo determinado para voltar novas aventuras pela Europa. Mas essa jornada não acabará lá. Tenho certeza que se Deus me der forças e permitir, ainda irei a muitos lugares, pois viajar é um dos melhores e mais bonitos prazeres.
Para quem começou sonhando com os efeitos do pirlimpimipim, a lição que tirei desta história toda é que sonhar é preciso, mas botar os sonhos em prática, é vital. Por isso, vamos sonhar e viver cada segundo dessa dádiva que é a vida.
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Parabens André luis sua história é linda isso e superação que bom seria se todos os jovens fizesse isso ao invés de se envolver com coisas erradas e culpar esse ou aquele porq droga só destrói vidas !!!