Coisas que aprendi morando na Suécia.
Se você me perguntasse há alguns anos se eu desejava morar fora do Brasil, minha resposta seria não. Mas a vida dá voltas. Muita coisa aconteceu e aqui estou eu, morando em Estocolmo, na Suécia, há 7 meses. Para alguns, isso pode ser considerado pouco tempo, mas foram os 7 meses mais intensos da minha vida. Morar fora do seu país é um processo de autoconhecimento, amadurecimento, resiliência e aprendizado. Aprendi tanta coisa e adquiri tantos novos hábitos, nesses meses, morando na Suécia! Alguns deles, divido com você, agora.
Faça você mesmo
Como já mencionei em um texto anterior, no Brasil, vivemos com muitos luxos e nem nos damos conta disso. É muito comum as brasileiras irem com certa frequência ao salão fazer suas unhas, depilação e escova. As famílias terem empregadas domésticas, babás ou, ao menos, diaristas. O acesso aos mais diversos serviços no Brasil é muito fácil e barato. Já na Europa, os serviços são muito caros. E digo: todos os tipos de serviço! A ponto de você se arrepender muito de ter perdido a chave de casa, precisar contratar um chaveiro e causar um rombo em seu orçamento. Morar fora é um constante aprendizado do “faça você mesmo”. Arregaçamos as mangas e colocamos a mão na massa. Somente na prática assimilamos o quanto “terceirizamos” coisas que podemos fazer nós mesmos, e, acredite, a “mão não vai cair” por isso.
Sem sapatos dentro de casa
Quando engravidei, muitas pessoas me falaram que eu deveria incluir esse hábito na minha rotina para manter a casa mais limpa para o bebê que iria chegar, engatinhar e colocar a mão na boca. Confesso que, no Brasil, nunca consegui colocar isso em prática. Mas ao chegar na Suécia, acabamos aderindo a esse costume. No início, achávamos um saco aquele tira e põe de sapato na porta (tá bom, ainda acho um saco!), mas nos forçávamos. No inverno, vimos o quanto isso é necessário, pois o sapato fica cheio de terra e neve, e você não quer essa lama toda espalhada pela casa, né!? Além disso, agora que “fazemos nós mesmos” a limpeza, por que não manter a casa mais limpa possível e não ter que aspirá-la duas vezes ao dia?
“Tá bom, mas eu odeio ficar descalça!” Eu, particularmente, tenho um chinelo que uso só para ficar dentro de casa. Mas quando vou à casa de alguém, fico de meia, mesmo. Aliás, o mais comum por aqui é as pessoas ficarem de meia. Mas, ou as meias são pretas básicas, ou super, ultra, mega estilosas, seja qual for o sexo ou idade.
Decorar janelas
Uma das primeiras coisas que notei quando cheguei na Suécia eram todas aquelas janelas decoradas. Sempre com plantas e castiçais, cujas velas eram acesas todas às noites, religiosamente. No início, confesso que pensei que talvez o inverno fosse tão rigoroso que chegasse a faltar luz, e esse hábito era para não ser pego desprevenido. Mas achava tão bonitinho, um charme, que resolvi aderir. O inverno chegou e percebi que não ficávamos sem luz – nossa, quanta criatividade minha. As velas, na realidade, esquentavam e davam um charme à toda aquela escuridão que se iniciava às 14h30. Adicionalmente, os aquecedores ficavam ligados quase 24 horas por dia, o que tornava o ar mais seco. E foi aí que descobri que as plantas não eram só decorativas, mas também para ajudar a umidificar o ar.
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Não há frio insuportável
Como uma carioca nata, passei a minha vida inteira pegando o casaco antes de sair de casa porque marcava 20ºC. Ou porque os 23ºC do ar-condicionado do escritório fazia eu me sentir no Alaska. Pensava que não suportaria temperaturas abaixo de 10ºC e me trancafiaria dentro de casa durante os meses de inverno.
Mas como me disseram assim que eu cheguei aqui e eu não acreditava: “Não existe frio insuportável, apenas roupas inadequadas”. Isso eu aprendi na prática. No início, eu usava 3, às vezes, 4 camadas de roupa e sentia muito frio. Enquanto isso, as suecas estavam de meia calça, um vestido ou camiseta e somente um casaco por cima. Aos poucos, aceitei que as minhas roupas de frio do Brasil não eram adequadas. E hoje, consigo me vestir com uma quantidade menor de roupas e não congelar. Confesso, inclusive, que encaramos os dias com quaisquer temperaturas positivas como “quentinhos”. Entre 0ºC e -10ºC é frio, mas totalmente suportável ficar na rua. Quem diria, hein!?
Olhar sempre a previsão do tempo
No Brasil, eu olhava a previsão do tempo muito raramente. Só para saber se faria sol ou não, no final de semana ou feriado. Mas, aqui, senti a necessidade de fazer isso diariamente. Como falei no item anterior, a roupa certa faz toda a diferença. Mas não adianta, também, você colocar o seu melhor casaco se a temperatura for subir ao longo do dia e ficar positiva. Muito provavelmente você ficará derretendo dentro dele. E o pior, não vai poder tirá-lo porque sem ele passará frio, ainda mais suada. Então, é muito importante olhar sempre a previsão do tempo. E não estou falando só da temperatura mínima e máxima, ou se vai fazer sol ou chuva. Mas principalmente a sensação térmica e o vento. Ah, o vento! Ele é capaz de acabar com o seu dia se você não estiver com a roupa certa.
Leia também: Como se vestir no inverno na Suécia
Reciclagem
Este também é um hábito que eu poderia ter adquirido no Brasil. Afinal, no condomínio onde eu morava tinha coleta seletiva. Mas, no Brasil, falta a cultura de reciclagem. Não tivemos exemplos em casa e não aprendemos a sua importância na escola. Já na Suécia, as crianças aprendem a separar o lixo na escola e você pode ser notificado por jogar lixo reciclável junto com o lixo orgânico do condomínio, por exemplo. Existem vários pontos de coleta espalhados pela cidade. Todo mundo já leva o seu lixo limpo e separado e coloca na lixeira correspondente (papéis e jornais; papelão; plástico; alumínio; vidro transparente; ou vidro colorido).
Na Suécia, a reciclagem é levada muito a sério. Para você ter uma ideia, existe, em Estocolmo, um shopping só de produtos decorrentes da reciclagem. Existem máquinas nos mercados nas quais você coloca latas e garrafas pet e recebe um valor por cada uma delas. Além disso, o lixo orgânico é utilizado para a produção de energia elétrica, o que faz com que a energia seja bem barata por aqui. Mas a eficiência na separação do lixo pelos suecos é tão grande que eles não produzem lixo suficiente para alimentar as plantas e gerar a energia elétrica que eles consomem. Então, a Suécia acaba comprando lixo dos outros países da Europa.
Agora, sim, sinto que fazer a minha parte na reciclagem realmente faz a diferença para o todo. No início, achava que seria difícil me adaptar, mas hoje, para mim, já é totalmente natural deixar tudo limpo e separado.
Morar em outro país é isso. Um constante aprendizado de novas culturas, hábitos e forma de viver. E, por fim, incorporamos à nossa vida tudo aquilo que acreditamos.
4 Comments
Amei seu texto, Monique! Muito verdade tudo isso 😀 a Suécia tem muito a nos ensinar sobre sustentabilidade e estilo de vida!
Obrigada, Pri! Isso aí! Todo dia um aprendizado novo… e eu que pensava que só ia passar frio por aqui…rs
Oi Monique. Td bem?! Nossa, um grande aprendizado; Eu quero manter contato com você vá nós contando mais novidades. Pretendo em breve morar por aí!
Olá Jéssica. Tudo ótimo! Que bom que gostou. Você pode me acompanhar pelo meu instagram @nnickygarcia. Qualquer dúvida, pode entrar em contato comigo. Terei um imenso prazer em ajudar.