Digo com convicção que sou uma daquelas pessoas que absolutamente ama receber. Ao mesmo tempo, adoro poder ir visitar amigos que moram em outros países. E é por isso que me pergunto: Será que existe uma etiqueta para visitar a família no exterior?
Bem, quando falamos em etiqueta, me refiro a comportamentos aceitáveis e recomendáveis para se conviver com outras pessoas. Mas não estou falando aqui sobre como se relacionar intimamente com um amigo ou familiar, e sim, como fazer isso no período em que estamos na casa da pessoa.
E, por essa razão, confesso que a primeira coisa que me vem à cabeça é que o tipo de convivência que temos quando vamos passar dias na casa de alguém no exterior, deveria ser por si só uma experiência proibida: inaceitável e não recomendada (risos).
Qual será o problema?
O que me faz dizer isso é que, quando vamos ao exterior, convivemos com uma cultura entre leve e extremamente diferente da nossa, ao mesmo tempo que estamos adentrando a intimidade de alguém. Além disso, na maioria dos casos, existe a barreira do idioma que faz com que aqueles que estão visitando, geralmente, tornem-se muito mais dependentes dos seus anfitriões.
Como se não bastasse, para aqueles que moram no Brasil, muitas vezes, por conta da distância e do preço das passagens, vale muito mais a pena passar períodos de tempo mais extensos visitando os familiares e fazendo essa viagem menos vezes. Isso tudo, cria um caldeirão de: saudades, expectativas, convivência e intimidade, exageradas.
E nada disso me parece combinar com etiqueta, não é?
E existe uma solução?
Mas, então, será que devíamos desistir de visitar pessoas queridas se não queremos, ou não podemos gastar verdadeiras fortunas com hotel ou AirBnb? Devíamos abrir mão de poder tomar um chá, ou vinho, com os amigos até altas horas? E o que falar, então, do quanto faz bem à alma poder abraçar e dar um beijo de boa noite no seu pai, ou sua mãe novamente?
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Não, não há absolutamente nenhuma razão que me convença a não trocar momentos de paz e tranquilidade sozinhos, por momentos de caos e intimidade com aqueles que queremos bem.
Por isso, acredito que, primeiramente, devemos aceitar que visitar alguém por vários dias no exterior é uma espécie de loucura coletiva aceitável e, por essa razão, não devemos ter em mente expectativas de regras muito rígidas. Mas, ao mesmo tempo, devemos sim nos colocar em uma posição de alguém que busca evitar a invasão do espaço alheio.
Desta forma, vamos a algumas considerações…
Entenda qual é o seu papel naquela situação
Procure conhecer o seu anfitrião e se comportar de maneira que deixe os donos da casa à vontade. Você precisa se lembrar de que está entrando na intimidade de alguém e, assim sendo, provavelmente verá alguns defeitos na pessoa que está lhe recebendo. Você pode até pensar que é o mesmo para quem visita, mas a verdade é que quem está recebendo, dificilmente conseguirá lhe dizer que está na hora de você dar uma saída sozinho, ou ir embora antes do planejado – cabe a quem visita o bom senso de “sentir o ambiente”.
Dessa maneira, se o seu anfitrião for formal e lhe pedir para não ajudar com a louça e o cafezinho, por exemplo, aceite e encontre outra forma de agradecer a sua hospitalidade. Eu já fui visitar amigos que não gostam nem que a gente recolha o próprio prato e, apesar de me sentir menos à vontade com isso, respeitamos o seu pedido.
Se o seu anfitrião, por outro lado, tiver uma vida corrida e ficar feliz com uma ajudinha em absolutamente tudo, é isso que você deveria fazer. Porém, cabe aqui um cuidado que vamos discutir no próximo ponto.
Jamais se comporte como se estivesse em casa
Isso mesmo. Não interessa se é casa de filho, nora e genro, de irmão, ou até de pai e mãe, você não está na sua casa.
Ainda que o seu anfitrião goste de ajuda com a louça, a roupa e a limpeza, não tome conta da casa dos outros.
Outro ponto é que, pode acontecer de alguns membros da família resolverem brigar na sua frente. Você pode até achar que isso é inaceitável, mas lembre-se de que é você quem está na intimidade dos outros e, assim sendo, não se convide a mediar brigas ou discussões dos donos da casa.
Dê sua opinião de maneira educada
Se tem algo que você gostaria muito de fazer nas suas férias ou algo que realmente não gostaria de fazer, o melhor é comunicar-se de maneira tranquila e direta sobre o assunto. Acho que falo por muitas pessoas quando digo que o pior é você não dizer que não come algo, ou que não curte um tipo de passeio, e depois ficar chateado pelo erro do anfitrião.
Dito isso, pense duas vezes se é necessário comentar o quanto algo é ruim, ou menos conveniente, do que no Brasil. A ideia é: foque naquilo que pode ser elogiado, discretamente apontado e valorizado.
Se você acha tudo isso muito formal, pergunte-se por quê será que familiares brigam muito mais do que amigos? E lembre-se de que estamos falando em etiqueta e comportamentos a serem buscados – nem eu e nem você jamais seremos perfeitos.
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Dê um tempo para os seus anfitriões
Como mencionei mais acima, quando estamos na casa dos outros no exterior, geralmente estamos em uma situação um tanto dependente de nossos hosts. Infelizmente, isso pode ser cansativo e estressante para ambos, ainda que natural.
Por isso, considere dar uma desculpa como responder uns e-mails, dar uma organizada nas malas ou deitar mais cedo de vez em quando, para deixar os anfitriões com algum tempo para organizar a bagunça, fazer planos mais à vontade e, também, descansar um pouco de você. Minha mãe adotou esse approach de uns anos para cá e eu acho muito bacana da parte dela, quero muito ter a mesma lucidez quando for a minha vez de visitar meu filho, quando ele for adulto.
Experiência própria
Já como visita, a situação mais desafiadora pela qual passei, foi chegar na casa do meu irmão e de sua amiga e acabar permanecendo por 3 meses, enquanto encontrávamos uma casa para nossa família aqui na Inglaterra. Como eu passava mais tempo em casa do que eles, a vontade de limpar tudo e reorganizar os armários era enorme, mas eu resistia… me limitava a limpar a sujeira e organizar a bagunça da minha família e, até para fazer uma boa faxina, eu perguntava se podia fazê-lo, ou se era melhor ajudar a pagar uma diarista.
Além disso, eu também sentava para tomar um café quando a dona da casa chegava do trabalho, mas depois, procurava passar um tempo no quarto, para deixá-la curtir a casa dela sozinha.
Ao mesmo tempo, já passei por situações em que notei que a pessoa não estava feliz com a visita (fomos várias meninas para a casa de uma amiga acostumada a morar sozinha e, provavelmente, foi demais para ela). Neste caso, eu achei um lugar bacana para conhecer onde não valeria a pena retornar para dormir… Pronto, amizade salva!
Por isso, meus amigos, quando visitarem alguém no exterior, entre a intimidade e o decoro, escolha o segundo. Todos nós cometemos gafes – como convidados e como anfitriões – mas o esforço compensa: garanto que o relacionamento continuará maravilhoso e, assim sendo, você será sempre bem vindo!