Maternidade em Macau.
A confiança nos costumes da cultura em que você foi inserido é um dos fatores que mostra que você realmente está adaptado. Falo isso porque, em vários aspectos, o choque cultural é muito grande e se você realmente aprende a conviver com a diferença, parabéns, você está integrado!
Hoje, dentre tantas mudanças e adaptações, contarei para vocês um pouco de como funciona o sistema de saúde de Macau e a minha visão após ter tido a experciência de ter um filho no território.
Assim como em todo o lugar, Macau tem sistema público e privado de saúde mas, no entanto, há somente um hospital público de grande porte: o Hospital Conde de São Januário, e dois privados: o Hospital Kiang Wu (grande porte) e o Hospital Universitário (este de médio/pequeno porte). No mais, há postos de saúde espalhados pelos bairros da cidade e várias clínicas particulares.
Dentre os tantos programas do governo, foi implementado na RAEM o vale saúde, benefício anual ao qual todo cidadão permanente tem direito, no valor de MOP 600 (R$ 245,95), que podem ser usados na rede particular de saúde.
Toda pessoa que mora no território deve ir ao hospital Conde de São Januário fazer o cartão de saúde, que é gratuito e armazena todos os seus dados e serviços/consultas que você tenha realizado. É importante ressaltar, que o governo subsidia parte dos procedimentos de saúde e, em alguns casos, os paga na sua totalidade. Existe também uma diferenciação desses subsídios conforme o tipo de visto de residência que você possui: Blue Card, Residente Não Permanente ou Residente Permanente.
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Algo bem interessante para nós ocidentais é a ultilização da medicina tradicional chinesa associada à medicina ocidental. E é aí que, normalmente, ficamos muito céticos. Mas como eu disse no início desse texto, se já estivermos adaptados, não haverá problemas.
Um exemplo: uma fratura pode ser tratada tanto utilizando o gesso como com uma mistura de ervas e ataduras. Outra coisa que me chamou a atenção no hospital foi a liberação da entrada de alimentos, pois você pode levar a comida que for para o paciente, caso ele não esteja em dieta restritiva.
O maior contato que tive com o hospital foi a partir de 2008, quando resolvemos ter um outro filho e, devido a distância do Brasil, optamos por tê-lo no território. Importante mencionar que, ao contrário do que podem pensar, ter um filho em Macau não dá o direito à residência (ver aqui).
“Nos termos do artigo 4º da Lei n.º 8/2002 (Regime do bilhete de identidade de residente(BIR) da Região Administrativa Especial de Macau): são residentes da RAEM os menores, naturais de Macau se, ao tempo do seu nascimento, o pai ou a mãe residiam legalmente em Macau”, ou seja, quando o bebê nasce, se o pai ou a mãe tiverem a Autorização de Permanência na RAEM válida ou o bilhete de identidade de residente de Macau válido, este poderá requerer o BIR de Macau junto ao órgão competente nos termos da Lei.
As diferenças em relação ao atedimento são muitas, ainda mais para mim, que nunca tinha usado o sistema de saúde pública no Brasil. Vou pontuar algumas, na área da maternidade:
- Você é atendido, durante toda a sua gestação, nos postos de saúde do “bairro”;
- você não escolhe o médico(a) e caso queria manter o atendimento com o mesmo, basta marcar as consultas no dia em que ele(a) estará atendendo no posto;
- você, na primeira consulta, recebe uma espécie de boletim, onde serão anotados todos os dados sobre sua gestação. Após o nascimento do bebê, você receberá outro boletim, com os seus dados desde o momento do nascimento como, por exemplo: o peso, o apgar, o tipo de parto e um boletim de vacinação;
- você não escolhe o tipo de parto que quer;
- o parto é feito pelo obstetra plantonista disponível; salvo os casos especiais;
- a roupa utilizada, tanto da mãe quanto do bebê durante a estadia, pertence ao hospital;
- os bebês não podem dormir com as mães, voltam ao berçário à noite;
- a duração da internação é de 3 dias para partos normais e 5 dias para cesária;
- toda medicação, exames durante a gravidez e parto, são gratuitos para os residentes;
- normalmente são realizados três ultrassons durante toda a gravidez, salvo em casos especiais;
- os quartos no hospital têm três camas e existe horários de visitação, incluindo para os pais.
Lógico que existem casos especiais, como o meu, que tive uma gravidez considerada de alto risco. Nesses casos, os pacientes são encaminhados para um acompanhamento no hospital, feito por médicos especialistas em gravidez de risco e os procedimentos mudam um pouco, como, por exemplo, o número de ultrassons que passa a ser maior do que três e é acompanhado pelo mesmo médico.
Foi muito interessante a minha experiência, principalmente em lidar com as diferenças culturais. Por exemplo: neste período as mulheres não tomam banho, fazem somente o “asseio”, não lavam a cabeça durante um mês, não amamentam os bebês o dia todo (algumas nem amamentam). Mas o mais dificil mesmo, foi não ter o meu marido o dia todo no hospital, pois ele era considerado visita e só podia entrar em horários pré-determinadados.
Quanto a questão das vacinações, todas as vacinas são dadas pelo governo, mas não são nem metade das que tomamos no Brasil, pois muitas das doenças que justificariam uma vacinação coletiva, como por exemplo a vacina contra a febre amarela, não existem aqui. Não é fácil conseguir essas vacinas pelo sistema particular.
Enfim, o sistema de saúde pública em Macau é um tanto precário, considerando o poder econômico do território, mas, funciona razoavelmente bem.
Até a próxima!