Continuando com o assunto Procurando Emprego na Suíça, sigo com mais dicas valiosas.
6) Mulher no mercado de trabalho
A Suíça foi o último país na Europa a permitir que mulheres votassem, em 1971, o que reflete bem a posição da mulher Suíça no mercado de trabalho, esta luta ainda é um “work in progress”. Um fator importante é a estrutura de trabalhar e ter filho que ainda é bem deficiente e quase impossível de conciliar. Ter um trabalho para ter seu dinheirinho talvez a 40% do tempo integral (40 horas/ semana), ainda vai, mas fazer carreira profissional, é outra coisa. Além de ser mal visto por muitas pessoas que te questionam: Para que você quer ter filho se seu filho vai ser cuidado por outra pessoa enquanto trabalha? A pressão é grande, retornar ao mercado competitivo de trabalho após os filhos ja estarem maiores, é muito difícil.
7) Hora extra e noção de tempo “suíço”
Tendo minha experiência de países realmente competitivos como Alemanha, USA, Países Escandinavos, UK, Franca, o Suíço é lento, na forma de falar, de se mover, no dia a dia, como já disse em outro post “Até na Suíça se pode ser infeliz”, se país tivesse idade a Suíça estaria na terceira idade. Entretanto já li várias entrevistas onde os Suíços falam de stress, na minha opinião é mais o perfecionismo, a pressão que vem dos outros, que causa stress, é parte da mentalidade de consensus, que eles cultivam politicamente aqui desde de pequeno. O Suíço trabalha as horas que tem que trabalhar e o faz com rigor e responsabilidade, mas não são exatamente proativos em fazer nem a mais, nem a menos, do que lhes é pedido. O Suíço começa a trabalhar cedo e gosta de parar também cedo. Qualidade de vida é muito importante para eles, e horas extras só se nao tiver outro jeito mesmo. Outro fator importante, Suíços não são multi-tasks, são perfecionistas, uma coisa após a outra, senão eles se sentem estressados. Mas não se iluda com as aparências, como são bem qualificados, e possuem um ótima infra-estrutura são também eficientes.
8) Improvisação
Esqueça, esta palavra não existe na Suíça, tudo é planejado até os últimos detalhes, realizado segundo o plano, bem definido, certificado, assegurado ou então, pode saber que é proibido. Rss…
9) QI – Quem indica
A minha experiência é que em qualquer lugar do mundo, ter um bom network que te aprecia, não te faz mal, entretanto aqui você tem que imaginar que primeiro Suíços não gostam de misturar vida de trabalho com vida particular. Segundo não são “macaco gordo” para quebrar galho, as pessoas irão realmente verificar o que é melhor para o trabalho. Se estiver entre você como estrageiro e um Suíço, provavelmente sera o Suíço que terá prioridade e depois virá você como estrangeiro. Mas não façamos disso uma lei absoluta, muitas vezes os Suíços até preferem os estrangeiros simpáticos e mais flexiveis que seus compatriotas rígidos e distantes, naturalmente dependendo da área. Mas estas são excessões e não regras. As multinacionais também são bem abertas a estrangeiros. Por outro lado a Suíça é uma roça grande, e todo mundo conhece todo mundo, de forma que muitos empregos são preenchidos por recomendações e/ou “Head Hunters”, antes mesmo de serem anunciados publicamente.
10) Pontualidade
Quem ja escutou falar sobre ”pontualidade Suíça? Por que vocês acham que somos o país dos relógios de alta precisão? Preciso falar mais? Imagino que não, mas só para confimar, falta de pontualidade é crime e dos sérios aqui, é considerado falta de respeito e as pessoas tomam como muito pessoal. Não só nos encontros, mas nas entregas dos trabalhos também. Aqui não tem desculpa de trânsito, doença, morte na família, justificativas/desculpas é o que mais aprendemos no Brasil, mas aqui seus problemas são seus, e você é adulto e deve resolvê-los sem deixar influenciar no seu trabalho. Empatia o Suíço mostra se voluntariando em organizações de serviço social, fazendo doações, não “favores” no local de trabalho.
Bem para terminar o texto com chave de ouro, vou falar sobre o fator Xenofobia (preconceito contra estrangeiros), que já me foi questionado muitas vezes.
Você encontra preconceito em achar trabalho como estrangeiro na Suíça?
Depende e muito! Eis alguns fatos: mais de 75% das empresas aqui na Suíça são de pequeno e médio porte (menos que 100 funcionários), e a maior parte familiar e tradicional. As multinacionais trazem seus expatriados,, sendo que no final a Suíça se encontra junto com a Austrália com o maior percentual de sua força de trabalho, aproa. 25% sendo realizada por estrangeiros. Não se esqueça que o Suíço é tradicional, não venha querer mudar as coisas, porque você não terá como ganhar, não venha inventar novas fórmulas, pois não serão bem vindas. A Suíça é o único país do mundo, que eu conheco, onde as pessoas gostam das coisas como elas eram há 100 anos ……
Para aqueles que nao sabem, eu leciono na universidade o curso de “Cross Cultural Business Issues”, se quiserem mais informacao acadêmica sobre o assunto: Teoria de Hofstede e Teoria de Trompenaars.
Segue um link para procurar emprego na Suíça: Experteer
Caso você se interesse pelo assunto, aconselho o livro em português da minha amiga Suzana Doblinski, lançado no Brasil, veja o livro “Negocio Fechado, volume 2”
Procurando emprego na Suíça, parte 1
12 Comments
Ana, parabéns pelo texto. Escreveu com muito profissionalismo e nada ‘sugar talk’ (que parece ser tão apreciado por nós, brasileiros).
Oi Gi obrigada querida, a gente sempre tenta dar dicas que funcionem, e acho que se quisermos ir pra outro pais e ter sucesso é importante sabermos como as coisas são “realmente”. Bjus linda no coração!
Acho que a gente falha um pouco no quesito “profissionalismo”, sempre temos desculpas pra tudo, especialmente para atrasos e muitos de nossos compatriotas sofrem na adaptação quando vão morar em outros países. Excelente texto, muito esclarecedor. Parabéns!
Joy achei interessante escutar de um ex-colega meu que foi trabalhar no Brasil durante um ano, ele é alemão, achei muito interessante, pois ele disse que se cansou com o tempo de tentar achar as pessoas, pois não tinham disciplina do horário, diziam que estavam no cliente quando ele falava que também estava la, eles ficavam com cara de tacho no telefone devido a mentira, não tem transparência de onde e o que e quem esta fazendo o que, todo mundo faz algo, mas onde estavam os resultados? E la vinha mais desculpas, ele me disse que a única forma realmente de conseguir ter o povo por perto, era fazendo um “happy hour” em algum lugar, ai aparecia todo mundo, mas mesmo pra reuniões, ele nunca viu tanta desculpa. O pior é que nem poder mandar embora podia, pois falta mao de obra qualificada no pais e conseguir vistos de trabalho é um parto. O mesmo com o cliente. Uma vez ele falou com a secretaria de um cliente,que ele dormiria la, mas não sairia dali sem falar com o sujeito, pois ele ja tinha enviado email, telefonado varias vezes e deixado recado, tentado marcar reunião, sem retorno, entao resolveu aparecer pessoalmente sem agendamento e acampar na porta. e olha que estamos falando de alguém que é do mais alto escalão da empresa a nível global. Eu fiquei com vergonha. Pois conheço bem este filme:) Bom mas enfim fazer o que né?! Fazer do limão uma limonada! rsrrsrs Obrigada pelo comentário querida! 🙂
Oi Ana , bastante esclarecedor o seu texto… algumas coisas funcionam de forma semelhante aqui na Holanda. Gosto do seu posicionamento de que as pessoas “devem saber das coisas como elas realmente são”…concordo, Parabéns. bjs.
Sao sociedades onde as pessoas são muito independentes e responsáveis, e se quisermos fazer omeletes, temos que quebrar os olhos né?! BJus querida Cintia e obrigada pelo seu comentário Linda! 🙂
Oi Ana! Excelente texto! Concordo plenamente, principalmente quando se trata de mercado de trabalho para nos mulheres e com relaçao ao profissionalismo, oque infelizmente falta muito para grande parte dos brasileiros. Sucesso!
Oi Sue querida, obrigada pelo comentario, e vamo que vamo!!!!!
Oi Ana, sabe que ri muito li a parte sobre a pontualidade. Quando estive em Zurique, comentei com meu marido que eles nem podem se atrasar, pois relógios em qualquer lugar e podem ser vistos de vários pontos. Quanto ao improvise, bem… esse é um assunto que não consigo entender. Principalmente por ser brasileira e acreditar que se quando queremos algo, sempre damos um jeitinho de conseguir. Claro, se tivermos força de vontade 🙂
Beijos
Oi Minha linda Cleo, é assim mesmo, relógio pra todo canto, rsrsrrs e quanto a improvisação a questão é que aqui o sistema realmente funciona e muito bem, por isto, não se tem motivos pra improvisar, muito antes pelo contrario, você tem um super infra-estrutura a sua disposição pra te servir no processo de concretizar seus objetivos, que funciona e que te permite muito bem se planejar. Por isto a improvisação aqui não é bem vista, na mentalidade Suica a questão é: afinal, porque você tem que querer “dar a volta” em um sistema que funciona bem e que te permite fazer as coisas no conforme e sem stress? A cultura aqui não aceita distinções, todos devem contribuir e respeitar as regras que de toda forma sempre são votadas diretamente pelo povo antes de serem implementadas. Todos devem ser tratados igualmente, favores, tratamento preferencial, quebra de procedimentos, prazos, são coisas que não são bem vistas. Eu particularmente vejo que a gente improvisa no Brasil, porque as coisas não funcionam, eu gosto muito de poder planejar e não ter que ficar gastando energia pra driblar as dificuldades. A vida é bem mais calma e te permite de fazer o que você quiser, mas sem atropelos. Bjus querida!
Que interessante, a gente tem uma visão de que esses países tem uma super mega estrutura né? e nessa coisa da mulher, da criança, etc ainda falha. E como é ser brasileira nesse Mercado de trabalho? rola muito preconceito?
Oi Fabi amada, eu acho que a questão não é que “falha”, acho que é cultural mesmo, as mulheres suíças são tradicionais e elas mesmo veem o fato de trabalhar quando os filhos são pequenos, como algo negativo, como comentei. As pessoas te questionam porque entao ter filhos, se vai delega-los a terceiros a maior parte do tempo pra trabalhar? Talvez esta mentalidade vai inclusive de encontro ao fato que aqui, é possível manter uma família de forma digna mesmo com um so salário básico. Quanto a preconceito como brasileira no mercado de trabalho, nunca sofri preconceito não, as pessoas te respeitam pela sua competência, e quando abro a boca, as pessoas percebem rapidinho que estão diante de uma profissional competente, ja a começar por eu falar as varias línguas do pais e inglês fluentemente e por usar um vocabulário técnicamente correto no meu trabalho. Muito pelo contrario, acho que chamo muito a atenção, e as pessoas ficam curiosas em me conhecer, por eu ser brasileira e ter uma vida profissional bem sucedida a alto nível. Bjus querida e até a próxima.