Nós brasileiros temos o costume de pensar que toda etiqueta “made in China” é sinônimo de coisa barata e de má qualidade. Na moda isso é bem evidente. Os sites de vendas online como o Aliexpress, em que roupas, sapatos e acessórios produzidos na China são vendidos a preço de banana e, muitas vezes, feitos com tecidos simples e acabamento ruim, reforçam esse pensamento. Mas a verdade é que, com o rápido crescimento econômico do país nos últimos anos, os consumidores chineses com alto poder aquisitivo se tornaram ávidos por artigos de luxo e moda de alta costura. E por isso, o “made in China” passou a atender a esse mercado, que oferece produtos exclusivos e de alta qualidade.
Em meados dos anos 90, as primeiras grifes mundiais começaram a se instalar em Hong Kong, Pequim e Xangai. Atualmente, toda cidade chinesa desenvolvida tem lojas de grifes internacionais renomadas como Dior, Louis Vuitton, Burberry, Chanel, Givenchy, Prada, Miu Miu, Hermes, entre tantas outras, espalhadas pelos melhores bairros e distritos. Estas gigantes da moda, veem a China como um dos mercados de maior potencial no mundo. Segundo uma pesquisa realizada pela ONG americana Associação de Luxo Mundial, a China é o segundo maior mercado de produtos de luxo do mundo e até 2017, será o primeiro.
Até alguns anos atrás, as consumidoras classe A desejavam produtos com megalogos ou monogramas, ou seja, aqueles que tivessem o logotipo da marca bem visível. Tudo para conferir status e poder, e mostrar que tinham condições de ter um artigo de luxo. Essa necessidade de ostentação vem, provavelmente, de uma mentalidade antiga, causada pela pobreza extrema e pelo rápido desenvolvimento econômico no país.
Hoje em dia, “qualquer um” pode exibir uma bolsa Gucci ou Louis Vuitton, especialmente devido ao crescimento desenfreado das falsificações. Por isso, bolsas com megalogos ou monogramas passaram a ser relacionadas à classe média. Basta você ir ao supermercado ou sentar em um restaurante, que vai ver várias chinesas com uma bolsa Louis Vuitton embaixo do braço. Por isso, as consumidoras ricas e “phynas” de verdade dão prioridade às marcas que oferecem produtos mais discretos, sem sinalização aparente. Com isso, as marcas de luxo passaram a rever sua forma de apresentação e estão se adequando, cada vez mais, ao estilo chinês. Bottega Veneta, uma das grifes pioneiras na eliminação da etiqueta externa, é uma das preferidas entre as chinesas com alto poder aquisitivo.
Mas não é só de grifes internacionais que o mercado de luxo é feito na China. Com a onda do sentimento de patriotismo, espalhada principalmente pelo presidente Xi Jinping, os consumidores chineses começaram a se orgulhar do estilo de vida chinês e a prestar mais atenção às marcas nacionais. No último Shanghai Fashion Week, em outubro de 2015, a imprensa declarou que as semanas de moda da China recebem, a cada estação, mais chineses interessados na moda nacional e compradores do mundo todo, dispostos a abrir as portas de suas boutiques para os designers daqui. E não há como negar que a exposição “China: Through the Looking Glass”, no Met Museum de Nova Iorque, no ano passado, serviu como um empurrão para colocar de vez a moda conceito da China na cena fashion mundial.
Com esse crescimento constante, as marcas globais estão com os olhos atentos ao mercado chinês. E estilistas famosos já vêm buscando inspiração na cultura oriental há algum tempo. Criações de John Galliano para Dior, Tom Ford para Yves Saint Laurent, Sarah Burton para Alexander McQueen e Karl Lagerfeld, todas exclusivas e inspiradas na cultura chinesa, fizeram parte da exposição citada acima, que ocorreu em NY. Segundo o MET Museum, esta foi a exposição de moda mais famosa e visitada do museu até hoje.
Além do sentimento patriota, o fato das chinesas optarem por trocar artigos ostentação por outros com mais classe e exclusividade, ajudou a colocar as grifes nacionais em um patamar competitivo com as marcas mundiais. Ainda que as grifes chinesas trabalhem com peças caras, tanto quanto as de grifes internacionais, e não venham acompanhadas do glamour da etiqueta europeia, elas estão ganhando espaço considerável no mercado de luxo da China e nos armários das mulheres ricas.
Masha Ma é uma das marcas mais queridas. A jovem estilista de mesmo nome já transitou pelos ateliês chiques de Paris, desfilou suas coleções no Paris e London Fashion Week, e hoje está de volta a Shanghai, onde abriu seu próprio ateliê. Uma Wang seguiu os mesmos passos e fez seu nome no mercado de luxo mundial. Suas criações já foram desfiladas nas semanas de moda da Europa e são vendidas em lojas de Londres, Milão e Nova Iorque.
E há vários outros nomes de estilistas chineses que começaram a pipocar na cena fashion mundial. Guo Pei, uma das mais renomadas, é responsável por vestir várias celebridades chinesas nos eventos mundo afora. Uma de suas criações, o imponente e polêmico vestido amarelo com cauda, foi escolhida pela cantora Rihanna para desfilar no tapete vermelho do Met Gala de 2015, um dos eventos de moda mais esperados do ano. Você lembra?
Guo Pei também lançou uma linha em parceria com a marca de cosméticos MAC. Assim como a jovem estilista de jóias Bao Bao Wan. O talentoso Jason Wu, nascido em Taiwan e radicado em Nova Iorque, é uma das estrelas do NYFW há quase 10 anos. São todos jovens designers chineses que estão transformando a moda de luxo na China e levando um novo conceito de “made in China” para o mercado ocidental. Se você se interessa por moda, pode anotar esses nomes. Eles já dominaram o mercado de luxo da China e vão fazer muito barulho na moda global. Concordas?
1 Comment
Sensacional esse post. Com certeza ainda há muito preconceito com o “made in China”. Muita gente ainda não se deu conta das grandes transformações que ocorreram na China nos últimos anos. Parabéns pelo post!