“Só o que é bom dura tempo o bastante pra se tornar inesquecível” é um dos meus versos favoritos da música “Vícios e Virtudes”, do Charlie Brown Jr, porque define muito bem vários momentos da minha vida; muitas vezes, queria que as coisas boas durassem mais tempo, mas fato é que tudo tem seu tempo certo e as coisas boas chegam ao fim para dar lugar para outras coisas boas, para novas aventuras e novas histórias.
Quando este texto for publicado no Brasileiras pelo Mundo, eu já estarei em Berna, capital da Suíça, que será a nossa casa pelos próximos 3 anos. Despedir-me de Yerevan não está sendo tarefa fácil, e escrever este texto também não foi fácil. Colocar em palavras tantas emoções requer um equilíbrio emocional que eu, uma pessoa naturalmente ansiosa, não tenho. As lágrimas rolam livres, confesso. Pensei que, talvez, a mudança fosse ser mais fácil dessa vez, mas continuo achando estranhíssimo empacotar a vida toda pra mudar de país, começar tudo do zero de novo, construir uma rotina nova em um lugar completamente novo e desconhecido. Só mesmo muita fé e muito amor são capazes de me segurar no caminho que eu e meu marido escolhemos para nossa vida.
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O título deste texto é “Adeus, ou até logo” justamente por isso: uma vez que vou começar tudo do zero lá em Berna e ainda não faço ideia de como será minha rotina a partir de agosto, decidi encerrar minha colaboração com o Brasileiras pelo Mundo, ainda que provisoriamente. Afinal, nada é permanente nessa vida, então não sei se é um adeus definitivo ou se é apenas um até logo; a única certeza que eu tenho é de que teremos muitas novas aventuras pra viver e eu terei muito a contar, seja de volta aqui ou lá no O Mundo é a Minha Casa. Por isso, peço que deixem a porta desta casa aqui aberta para que, algum dia, eu possa voltar.
Antes da mudança, são várias as providências que temos que tomar: primeiro, foi feita a licitação que autorizava a contratação da empresa responsável pela embalagem e transporte dos nossos pertences; depois de autorizado o contrato, o MRE emitiu a nossa passagem de ida de Yerevan para Berna (ou, no caso, Zurique, que é o aeroporto internacional mais próximo), com data marcada para 01 de agosto.
Depois, precisamos providenciar o cancelamento do contrato de aluguel do apartamento, encerrar conta de banco e contratos de TV e telefone, e tantas outras coisas do dia a dia. Aos 48 do segundo tempo, ainda decidimos reformar alguns móveis, aproveitando a qualidade dos materiais e o baixo custo de mão de obra aqui na Armênia, e também fizemos duas viagens curtas para lugares próximos.
Há vários meses, já estávamos nos organizando para a mudança, pois já chegamos em Yerevan com data para sair. A verdade é que será sempre assim, em todos os países onde morarmos: a gente já chega com data certa para partir, ainda que a gente não saiba qual cidade ou qual país será a nossa próxima casa.
Gosto de organizar o máximo que eu puder das nossas roupas e outras coisas, pois assim fica mais fácil de colocar tudo no lugar na próxima casa, que eu ainda nem sei qual é. Sou apaixonada por organização, praticamente uma Marie Kondo (marido diz que eu sou mais organizada do que ela, risos), então por mais que me dê trabalho, prefiro deixar tudo esquematizado porque facilita muito a vida quando a mudança é entregue no próximo país. Além disso, é um jeito de lidar positivamente com a ansiedade.
Até encontrarmos nossa próxima casa, passaremos no mínimo 1 mês em hotéis, e a nossa mudança pode demorar vários meses para chegar, o que requer muito planejamento para organizar as malas que levaremos conosco como bagagem despachada.
Some-se a tudo isso a despedida de Yerevan e todas as emoções envolvidas. Gostei demais de morar aqui, aliás nós gostamos muito de morar na cidade; foram dois anos e meio muito felizes para nós. Este período me ajudou muito a lidar com a minha ansiedade, a deixá-la em níveis mais aceitáveis, menos nocivos para a minha saúde mental e física.
A Armênia nos acolheu muito bem, os armênios foram sempre muito receptivos conosco, e nós aprendemos muito sobre a cultura local, embora sempre haja mais o que aprender. Infelizmente, não deu para conhecer tudo do país, o que servirá de desculpa para voltarmos e visitarmos o país posteriormente. Além de deixar uma cidade agradável pra trás, vamos deixar alguns bons amigos que fizemos aqui, dentro e fora da Embaixada. A sensação que me dá é de que um pedacinho da gente vai para sempre morar na Armênia.
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Do mesmo jeito, deixei pedacinhos de mim aqui no Brasileiras pelo Mundo, ao longo de quase 2 anos de colaboração com o site. Tentei escrever de uma maneira muito pessoal e muito sincera, colocando muito amor em cada palavra, me dedicando pra tentar produzir o melhor conteúdo possível para os leitores deste site a partir de uma perspectiva subjetiva.
Não poderia deixar de registrar meu agradecimento público para Ann Moeller, que me aceitou como colaboradora do site há 2 anos, e principalmente registrar minha admiração e meu agradecimento sincero para a minha revisora, Cristina Hélcias, que me tratou com muito profissionalismo, respeito e carinho, revisando meus textos com muita competência, sem interferir na minha linguagem ou estilo, e sempre fazendo colocações que contribuíram para o meu crescimento.
No momento em que escrevo este texto, nossas coisas já estão quase todas empacotadas, seja em caixas organizadoras ou nas muitas malas que acumulamos ao longo dos anos. Não consigo descrever o que eu sinto vendo os cabides nos armários sem as roupas, os armários da cozinha esvaziando, a geladeira com poucos itens, os quartos cheios de malas etiquetadas com o conteúdo de cada uma delas.
É uma ansiedade enorme, uma alegria misturada com uma tristeza, e ao mesmo tempo uma certeza de que, por onde eu e o marido formos, vamos ser muito felizes juntos, sob as bençãos de Deus.
Com carinho, para todas as leitoras do BPM: adeus, ou até logo!