Como se despedir do Brasil
Quando planejamos mudar de país, são tantos fatores que nem sei dizer qual a primeira coisa em que devemos pensar. Acho que começamos sempre pela parte burocrática de vistos e documentos, para que fique tudo certo para a entrada no país. Por mais complexo que seja, aos poucos as coisas vão ajeitando-se.
É preciso ter organização e atenção, em especial à solicitação do visto. Eu optei por fazer o meu processo por conta própria, e recomendo. Dá um pouco de trabalho, mas se você seguir à risca as solicitações do Consulado, vai conseguir. Tente também adiantar tudo que puder para que, caso ocorra algum atraso, não prejudique seus planos.
E a melhor dica para evitar problemas enquanto você estiver fora do país é deixar uma procuração em nome de alguém de sua confiança para que esta pessoa responda legalmente por você na sua ausência.
O segundo fator que deve ser considerado é o que levar na sua mala. É muito tempo, sim, é o começo de uma nova vida e não dá para trazer consigo todos os seus pertences em duas malas de 23 quilos. Acho válido pensar no clima predominante do lugar que você está indo, assim como também no tipo de evento que você irá com frequência, com isso, separe suas peças favoritas e mais adequadas para a viagem, e como o restante faça um bazar ou doe para quem precisa.
Eu não sou muito apegada à coisas materiais, para mim isso não foi difícil, mas se você zela por algo que não poderá levar logo de cara, guarde e peça para alguém enviar depois, mas, não sofra por isso, tudo dá-se um jeito.
Leia também: Como organizar e o que levar na mala
Tudo encaminhado, mas, e o principal? Seus sentimentos, a carga emocional de cada despedida, o coração apertado, a saudade, o medo que às vezes assombra aqui ou acolá… Para mim, essa é a parte mais difícil, e olha que me considero uma pessoa até que desapegada, porém, não é fácil! É preciso ter coragem, determinação e estar aberta a uma mudança imensa que está por vir em sua nova rotina e no seu verdadeiro eu também.
Você está preparada?
Essa é uma pergunta de resposta quase impossível, afinal, não é sempre que se tem certeza das coisas, ainda mais difícil quando envolve sentimentos, sensações, adaptações e, a pior parte para alguns, a solidão.
Sempre me atraí pela ideia de morar sozinha em outro país, ter minhas coisas, viajar, e, como boa aquariana que sou, desfrutar da minha liberdade. Gosto de tudo isso, da mudança, sair da zona de conforto, estar comigo mesma, no controle total de tudo. É muito bom o frio na barriga de que está chegando o grande momento, mas devemos sempre ter os pés no chão.
Quando os maiores desafios surgirem, você terá que enfrentar e, sim, você precisa estar preparada para isso, principalmente psicologicamente, pois estará sozinha em um país diferente e, nesse momento, tudo será mais complicado. Tentar antever e trabalhar tais pensamentos, estar segura de si e ter noção que você está indo viver uma experiência e tudo pode acontecer nela, tanto de bom quanto de ruim, talvez seja uma boa maneira de não se frustrar tanto com algum imprevisto. O planejamento financeiro também é um grande aliado para que tudo dê o mais certo possível.
Além de tudo isso, nessas últimas semanas que antecedem a minha partida, estou me perguntando, como vai ser para quem fica, pois quando você está partindo, tudo é uma grande novidade, mas, e para quem está ficando? A vida vai continuar para todos, cada qual a sua maneira, mas eu me questiono, como as pessoas daqui lidarão com o nosso relacionamento, com a “nova” forma de contato, a distância, os reencontros…
Eu objetivei essa mudança e acredito estar apta para lidar com o que está por vir, mas acho muito relevante olhar o outro lado também, de quem talvez nunca nem tenha imaginado ter uma filha, neta, sobrinha ou amiga vivendo tão distante. Como essas pessoas se sentirão com sua partida e o que isso significa para elas também irá te afetar emocionalmente, pois estas fazem parte da sua história. É preciso ter um cuidado e trabalho quanto a essas relações para que, mesmo longe, ambos os lados sejam firmes e mantenham-se felizes. Senão, qual o sentido de tudo isso? Nenhum.
Leia também: A mudança que a mudança traz nos nossos relacionamentos
Dentro da minha casa no Brasil é proibido dizer que estou indo embora, mesmo que esteja tudo pronto, que minha passagem seja só de ida e o tempo mínimo que eu vá viver fora seja de um ano. Nos almoços sempre tem um abraço de uma tia que dura um pouco mais que o habitual. Ontem me disseram que minha avó reza toda noite pedindo por mim nesta viagem, e meu namorado a cada fim de semana me mima um tanto a mais que sempre. Uns elogios aqui, umas lágrimas enxutas ali. Já sobre minha mãe, nem tenho palavras, sou filha única, com isso já dá para se ter uma noção.
O único remédio anti saudade é a presença, e o tempo é uma das coisa mais preciosa da vida. Estar presente não significa necessariamente estar perto fisicamente. Os meus se manterão vivos dentro de mim e levarei na memória a lembrança de cada um, de cada momento que compartilhamos e, principalmente, o pedacinho deles em mim, que me influenciou a ser quem eu sou hoje.
Acredito também que o distanciamento canaliza a qualidade das relações, e o tempo pode e deve ser mais bem aproveitado, visto que é importante pensar que estar perto pode ser finito. Então, desfrute dos momentos e faça valer a pena cada segundo com quem você ama.
Para finalizar, gostaria de deixar aqui tais reflexões e saber também como foi sua experiência ao despedir-se dos seus, como lidou com esse turbilhão de emoções que antecede a partida e o processo do distanciamento das pessoas que mais ama na contraposição da realização dos seus sonhos. Valeu a pena? Conta-me nos comentários para que possamos compartilhar o amor que damos e recebemos, e em especial, preservá-lo.