Um dos motivos que leva muita gente a vir para a Irlanda é o fato da língua local ser o inglês. Como a gente aprende essa língua na escola, assistindo filmes e usando muitas palavras em nosso trabalho, em restaurantes, etc, parece bem mais fácil se virar em um país em que o inglês é falado. Eu também pensava assim até vir para Dublin. Apesar disso não ser de todo incorreto, eu realmente não esperava que coisas como o inglês dos irlandeses e o sotaque, regionalismos, gírias e diferenças culturais fossem fazer tanta diferença.
Lembro que aterrissei na Irlanda com meio caminho andado na pós-graduação que estava fazendo no cursinho de inglês no Brasil, certa da minha fluência no idioma. Essa segurança durou menos de 24 horas, até eu pedir a primeira informação na rua. Eu precisava achar um mercadinho para comprar algo para comer: só que não entendi uma única palavra do que a pessoa disse. Tive que humildemente pedir ao senhor para repetir a explicação, não só uma, mas algumas vezes, o que ele fez com toda a paciência do mundo. Apesar de ser um povo reservado, os irlandeses são bastante prestativos e vão sempre parar para prestar informações.
Direções pelo caminho mais longo
Levei algum tempo para perceber que o irlandês tem um jeito próprio de ensinar direções. Ele não vai te dizer o caminho secamente, mas vai te falar de que lado da calçada você deve andar, os pontos de referência pelos quais você vai passar, onde atravessar a rua (localização exata dos sinais de trânsito, etc) e se você deve se apressar porque vai chover a qualquer momento, entre outras coisinhas mais. Se houver algum ponto histórico no seu percurso, você vai ganhar uma mini aula grátis sobre o local e ouvir dele o juízo de valor a respeito da real importância do tal monumento. E tudo isso em um único fôlego, enquanto você já esqueceu para onde mesmo estava indo.
O sotaque irlandês também é bastante característico, com algumas diferenças de dialeto entre certas cidades e regiões do país – alguns deles são bastante musicais. A pronúncia ainda é um desafio para mim, apesar de morar em Dublin há três anos. “Ireland” soa como “Oireland” e as últimas letras das palavras tendem a ser ignoradas, de forma a permitir a contração da frase como um todo – algo que também fazemos no Brasil, por sinal. Assim, “How are you all” vira “Hwyll” e os adolescentes irão, inclusive, escrever assim mesmo. Para quem não é nativo, esses detalhes tornam a compreensão das frases mais complicada.
What’s the craic?
Entre as expressões frequentemente usadas, “what’s the craic?” é a campeã. A frase que indaga como você tem passado, quais as novidades que tem para contar ou, simplesmente, o que está acontecendo de interessante no momento, pode ser ouvida e vista em todos os meios sociais. E suas perguntas raramente são respondidas com “yes” or “no”, mas com uma frase inteira, ou, pelo menos, com “I am”, “I don’t” ou algo do tipo. E palavrões, então, são presença certa nas conversas informais (como, aliás, também acontece no Brasil).
Quem vem para a Irlanda e quer socializar com os nativos, vai aprendendo as expressões locais dia após dia, assistindo aos canais de televisão locais, ouvindo o rádio, fazendo amigos e viajando pelo interior do país. Parece difícil a princípio, mas, com o tempo, o ouvido acostuma e a sua pronúncia adapta-se. Pratique ainda o modo de fala indireta, mais comum ainda no inglês britânico: nada de ordens claras, e sim, disfarçadas em pedidos educados.
O tom de voz também vai te dar dicas em qualquer idioma – você não precisa entender o palavrão para saber que está sendo xingado, não é mesmo? E, caso precise de ajuda para chegar a seu destino, comece a sair de casa um pouco mais cedo, garantindo o tempo necessário para escutar calmamente a todas as instruções que vai ouvir pelo caminho.
4 Comments
Gentem!!! Me senti de volta a minha querida Dublin (com u)!!! Obrigada por essa sensação, Luciana!!! Ainda lembro quando cheguei a cidade com um inglês que disseram ser fluente e, no meu primeiro dia, não consegui entender uma palavra do que me dizia o motorista de ônibus! E, mesmo depois de trabalhar três anos com o meu chefe, entendia 85/90% do que ele dizia (nos dias bons, 95%)!!!
Hoje, ainda carrego o Irish (Oirish) twang e não consigo simplesmente dizer Irish ou Ireland sem o sotaque… I guess it grows into you… Oh, Jeysus! 😉
Xxx e bem-vinda ao time!!!
Realidade: a maioria dos brasileiros fala inglês com um quê de irlandês… muitos que vão fazer intercâmbio optam pela Irlanda, principalmente por ser mais barato que Londres ou EUA em muitos casos. Mas é um charme esse sotaque deles! Seja bem-vinda ao time! Beijos
Pingback: Especial Natal – Irlanda
O sotaque deles é mesmo doidão. Conversar com uma pessoa de um bairro ou de outro já muda bastante a percepção cultural. Conversar com adolescêntes é praticamente impossível, pessoas de zonas mais afastadas cheias de malandragem também, não da nem pra sacar que aquilo que está sendo falado é Inglês, parece uma língua alheia no universo. Mas ainda existem muitas pessoas com um Inglês mais limpo, que falam sem atropelar. Cada pessoa é uma nova aventura da comunicação.