Em janeiro de 2017 me mudei para a Armênia com o meu marido, certos de que, juntos, podemos fazer de qualquer lugar do mundo a nossa casa.
Desde que recebi a notícia de que me mudaria para Ierevan, é claro que fui tomada pela curiosidade e pela ansiedade que antecede tudo o que é desconhecido. Até então, eu sabia muito pouco sobre o país, e muito do que sabia estava relacionado à história da União Soviética: eu tinha certeza de que, se não falasse pelo menos um pouco de russo, estaria fadada a dificuldades terríveis de comunicação e, por isso, comecei a estudar a língua antes mesmo de sair de Brasília.
Qual foi a alegria ao chegar e não só encontrar muita gente falando inglês, como também um povo muito caloroso e disposto a ajudar da melhor forma possível a despeito das dificuldades linguísticas!
A mudança de país não é fácil. A Armênia está muito distante do Brasil e o menor
tempo de viagem entre Ierevan e o Rio de Janeiro dura 27h, com conexões.
A Armênia guarda enormes diferenças com relação ao Brasil, ao mesmo tempo em que podem-se reconhecer estranhas semelhanças. No país inteiro, moram apenas uma dezena de brasileiros, embora no Brasil exista uma ampla comunidade armênia.
Ao chegar em janeiro, vi uma cidade coberta pela neve, e bastante gente andando na
rua mesmo com o frio congelante já perto da meia-noite. Naquele trajeto do aeroporto
até a residência provisória, já descobri que os mercados e farmácias funcionam
24h, e que poderia andar tranquilamente pelas ruas de Ierevan a qualquer hora do dia
e da noite. Hoje, em pleno verão, as temperaturas estão perto dos 40 o C, e aprendi a
admirar a beleza das mudanças das estações do ano.
Os primeiros meses foram – e ainda são! – de adaptação e superação de desafios
diários: andar na neve tentando não escorregar e cair, aprender a andar pela cidade,
enfrentar temperaturas muito abaixo de 0 o C (jamais esquecerei o dia em que os
relógios marcavam -20 o C!), procurar um apartamento para ser a nova casa, descobrir
como pagar as contas, conhecer os pontos turísticos, comemorar efusivamente a
primeira temperatura acima de 0 o C, receber a mudança vinda do Brasil, celebrar o fim
do inverno e a chegada da primavera, explicar que não falo armênio e receber sorrisos
calorosos quando digo que sou do Brasil, encontrar uma boa podóloga pra cuidar
dos meus pés complicados, aprender a me comunicar com os funcionários da
lavanderia, abrir conta em banco, retomar os estudos de russo com uma professora
local, ir ao mercado e não confundir alvejante com amaciante, superar a preguiça e
frequentar a academia etc.
A lista dos desafios de morar no exterior é interminável, e é impossível não sentir orgulho ao pensar no quanto já aprendi e quantos obstáculos já superei.
Bons bares e restaurantes, cinemas, espetáculos musicais na ópera, museus e feiras de
arte fazem parte da rotina por aqui. A Armênia produz excelentes conhaques, que já
encantaram desde Churchill até Putin, e os novos vinhos armênios também são bem
saborosos.
Ierevan é uma cidade muito arborizada e cheia de parques públicos, com
muitas árvores e bares com mesinhas ao ar livre. Desde que cheguei, Ierevan
surpreende diariamente com a diversidade de atividades disponíveis nesta cidade que
tem marcas fortes de uma das culturas mais antigas da humanidade, a culinária
deliciosa do Cáucaso e a força de um povo de enorme fé.
Tendo adotado o cristianismo em 301 d.C., a Armênia se tornou o primeiro país cristão
do mundo. A tradicional Igreja Ortodoxa Armênia (ou Igreja Apostólica Armênia) tem
seus próprios ritos e regras, e eu não ouso entrar em uma das Igrejas da cidade sem
cobrir minha cabeça – embora jamais tenham me exigido isso, eu o faço por respeito,
já que as mulheres armênias o fazem e, para mim, religião é coisa muito séria.
A Igreja Apostólica Armênia também desempenha importante papel para manter a unidade da diáspora: existem mais armênios espalhados pelo mundo do que morando no país.
A arquitetura muito particular das igrejas armênias é reconhecível também nos
mosteiros espalhados pelo país. A Armênia tem dois padroeiros: São Gregório O
Iluminador, e o Apóstolo Bartolomeu. São Gregório O Iluminador também foi o
primeiro Católico de Todos os Armênios, nome dado ao bispo chefe da Igreja
Apostólica Armênia.
O atual Católico de Todos os Armênios é Karekin II, que ocupa o posto desde novembro de 1999, e é o 132 o sucessor de São Gregório. A sede espiritual e administrativa da Igreja Armênia é a Mother See of Holy Etchmiadzin, que fica na cidade de Vagharshapat, acerca de 30 minutos do centro de Ierevan.
A República Democrática da Armênia proclamou sua independência em 23 de agosto
de 1991, e desde então a moeda do país é o Dram Armênio. Os primeiros anos após a
dissolução da União Soviética foram marcados por dificuldades econômicas, e também
pelo início do confronto armado entre armênios e azeris em Nagorno-Karabakh.
A diáspora armênia também desempenha importante papel na economia armênia, e
reconhecemos grandes investimentos da diáspora que contribuem para o
desenvolvimento do país.
A Armênia faz fronteira com a Turquia, com o Azerbaijão, com a Geórgia, com o Irã, e com o enclave de Nakhchivan, pertencente ao Azerbaijão.
O principal símbolo do país é o Monte Ararat, que posso ver da janela de casa, mas
que está localizado na Turquia. As fronteiras com a Turquia e com o Azerbaijão são
fechadas, embora haja voos diretos entre Ierevan e Istambul. O conflito histórico com
a Turquia data do século XIX, e o “genocídio armênio” é motivo de discussão ativa no
país e da diáspora, pautado nas pesquisas dos historiadores, e é impossível não se
comover ao visitar o Memorial e o Museu do Genocídio.
A aventura na Armênia está apenas começando, e ainda há muito para desbravar.
Todos os dias eu acordo e dou bom dia para o Ararat, me sentindo privilegiada por ter
tanto para descobrir e aprender!
Agora, sinto-me também muito feliz por ter a oportunidade de dividir com vocês os aspectos mais interessantes da vida por aqui!
8 Comments
Oi Leticia,
Interessante ler seu texto. Tambem sou de Niteroi e morei na Armenia de 2006 a 2009. Pude perceber que muitas coisas ja se modernizaram desde a minha saida… na minha epoca ninguem falava ingles! Boa sorte nessa jornada!
Oi Glauce!
Que coincidência!!
Agradeço seus votos. Estes meses tem sido de muito aprendizado e alegria por aqui!
Olá Letícia, estou querendo ir para a Armênia e não encontro informações sobre a permissão para dirigir nesse país. Sabe me dizer se os brasileiros podem alugar carro na Armênia com a carteira internacional de habilitação? Obrigado, e parabéns pelo post; deve ser uma experiência incrível.
Olá David!
Olha, eu não tenho certeza, mas acho que sim. Recomendo que você procure mais infos. Como eu já contei por aqui, eu não dirijo aqui na Armênia, pois é fácil a locomoção a pé na cidade de Ierevan e os táxis são muito baratos, mesmo quando contratados pra levar aos locais históricos fora da capital. Dependendo do tipo de viagem que você quer fazer, talvez nem valha mesmo a pena alugar um carro. Vale a pena planejar e pesquisar direitinho! Boa sorte!
Ola Leticia !!!
Adorei suas informacoes. Sim, e claro q estou indo para a Armenia.
Coincidencia maior e q tambem sou de Niteroi.
Se tiver mais alguma outra dica. Estarei por ai em final de Set/2019.
Grata
Xipan
que bom que gostou!
além dos meus textos aqui no Brasileiras pelo Mundo, tá cheio de dicas lá no http://omundoeaminhacasa.com.
tomara que você aproveite bastante sua viagem!
Ola Leticia,
Meu marido recebeu uma oferta de trabalho e teríamos que mudar para Armênia,
ainda estamos pesquisando sobre Yerevan mas encontrei pouca informação sobre
viver na Armênia, a maioria dos sites e blogs mostram mais a parte turística
da cidade. Gostaria de saber se vc tem mais informações sobre hospitais,
planos de saúde, escolas (encontrei poucas escolas particulares), e quais
sites locais posso encontrar casas/apartamentos para alugar.
Olá Emanuelle,
A Leticia Tostes Ortega, infelizmente parou de colaborar conosco.
Obrigada,
Edição BPM