Na bagagem a força de vontade.
Mudar de país é uma questão que venho comentado muito por aí, por fazer parte do Conselho de cidadãos brasileiros na Hungria, um grupo voluntário que ajuda pessoas que estão chegando ao país.
Tenho recebido muitos e-mails perguntando sobre como é viver na Hungria, como é o país, como foi mudar-me… São questões tão abrangentes que fica difícil responder todos os aspectos.
Mudar-se para um lugar diferente, se é bom ou ruim, é muito pessoal. Certas pessoas se apegam a um local, uma paisagem e passam a vida chorando porque tiveram que mudar de casa, outras trocam de endereço como quem troca de roupa, existe quem fale com tristeza do antigo endereço, tem quem fale com saudades e tem quem não ligue tanto para os caminhos percorridos e sim para seus destinos… Quanto ao novo endereço, existem as pessoas que se mudam de mau-humor, já pensando que vai odiar, as que são arrastadas chorando, tem as que vão numa boa, mas sem entusiasmo, tem as que vão cheias de sonhos e expectativas…
Eu não posso responder como será a Hungria para alguém, não posso dizer se irá gostar ou preencher as expectativas, mas posso dar um conselho sobre o melhor jeito de se adaptar ao novo e creio que isso sirva para qualquer destino.
Quando decidi viver na Hungria, aconteceu de repente, por uma “loucura de amor”. Antes eu nunca havia realmente pensado em morar fora do Brasil, mal tinha planos de visitar outros países. Assim que fui tomada por essa decisão, coloquei uma outra em minha cabeça: ser positiva ao máximo e tentar ver o novo lugar com olhos de turista maravilhado.
Eu estava deixando minha casa, meus amigos, minha família e tudo o que eu mais prezava como valor para minha vida. Como competir com isso? Não existiria lugar lindo no mundo que pudesse me fazer feliz se eu não tivesse decidido que o seria. Não poderia ser uma competição, teria que ser uma outra fase, uma categoria nova.
Ser feliz em outro país é sim uma questão de escolha! Entre reclamar e tentar ser feliz com o que te é oferecido – se já foi decidido – procure optar pelo segundo. A felicidade não significa ter tudo e sim, tirar o máximo do que tem. No meu caso não foi possível unir família e amor. Aceitei que minha família sempre estaria lá para mim, mas que pelo amor eu precisaria lutar. Aprendi que minha vida é independente das vidas de pessoas que amo e posso continuar os amando de longe, ser amada de longe, se para minha felicidade for melhor assim.
Por mais que sejamos positivas, o choque cultural, ainda existe. O país tem uma outra história, as pessoas tem visões e reações diferentes, não dá para muda-los, é preciso compreendê-los para uma boa convivência. Tolerância é essencial. Existirão momentos em que você discorda de algo, será preciso lembrar que pessoas tem opinião e ponto de vista diferentes e é preciso respeita-los.
Vejo muitos brasileiros reclamando de pequenas e grandes coisas sobre o país onde mora. As pessoas não são tão legais, a comida não é tão boa… Gente, comida nenhuma será comparável à do seu país, porque a relação que fazemos entre gosto e lembrança está na infância e adolescência.
Gostamos de comer o que nossas mães preparavam, o que nossas avós nos serviam e o que descobrimos que caía muito bem depois de uma noite de balada com os amigos. Aliás, os amigos também serão feitos de maneira diferente. Pense em quanto tempo você demorou para fazer os amigos que tem no Brasil e não ache que é impossível fazer novos em sua nova moradia, mais uma vez é preciso paciência e determinação. Construir novas amizades necessita de um esforço inicial.
Cabeça aberta quanto a novos gostos, manias, costumes e pessoas!
O primeiro ano costuma ser bem difícil: língua, falta de amigos, tudo diferente… Eu costumo dizer que sobrevivendo o primeiro ano, tudo tende a melhorar. Se você não se obriga a se divertir e sentir- se de férias no paraíso, nada poderá te salvar de sofrer constantemente de uma saudade aguda sem fim.
Saudade existe, claro que sim. Dias de desabafo existem e faz até bem chorar vez ou outra, pra renovar as energias e por pra fora o estresse. Eu me lembro de chorar no primeiro carnaval longe do Brasil, ouvindo músicas alegres. Hoje dou risada disso, mas foi necessário passar aquele dia de mau- humor, mas só aquele dia. Faz-se necessário se policiar, pois chorar de saudade é uma armadilha que te puxa de volta como onda do mar, da mesma forma que no mar, é sensato permanecer no raso, para não se afogar em suas profundidades. Não se aprofunde nas saudades, apenas molhe os pés para aliviar.
Mude-se levando com você a felicidade, coloque-a em sua bagagem e deixe-a sempre à mão. Sua vida não fica em um lugar, ela vai com você, basta lembrar de viver.
27 Comments
Oi Carol! Concordo com você: ser feliz é uma questão de escolha. Às vezes, bate saudades e dá aquela vontade de chorar. Eu também, como você, me dou o tempo para sofrer. Mas, algumas vezes, sinto como se pudesse sofrer para sempre. E é então que tenho que me chutar para fora da cama e fazer algo que eu goste… É nesse momento que preciso olhar para o caminho, para baixo, para as flores da estrada, sem tentar ver onde vou chegar. Preciso me focar no agora…
Parabéns! Um beijo!
Que bom que gostou Tati. 🙂
Para ser feliz entre dois mundos distantes, só assim mesmo…
Um beijo!
incrível! é como se eu estivesse escrevendo a minha experiência.
obrigada por compartir.
abraco. Marcela – Argentina em breve na España.
Fico feliz Marcela, por ter captado algo que acredito que muitas de nós sentimos. 🙂
Beijinhos!
Carol, voce me fez lembrar do meu comeco rs…Tinha 18 anos e largado tudo como voce, por opcao propria, para estudar em Lisboa e morar com os meus avos. O primeiro ano foi tao dificil, eu chorava tanto, de saudade, de raiva de mi mesma por ter saido e deixado tudo para tras. Os meus pais nao entendiam porque eu nao voltava, mas, o orgulho e a vontade de provar que eu conseguiria foram maiores. Ja la vao 23 anos! 🙂
Depois a gente acaba acostumando com isso, não é? Mas o começo é realmente difícil e só quem é muito resolvido a ser feliz é que vai se senir bem depois. Parabéns pra nós, que conseguimos. 😉 Beijos!
Carol, como sempre voce expressa o que està là no nosso profundo e, acredito que principalmente quem passou pela mesma experiencia serà capaz de compreender exatamente cada paràgrafo seu e, que sirva muito de ajuda à quem està iniciando essa nova aventura.
Tudo o que voce escreveu refletiram meus anos aqui e o que eu acredito que quem està de fora(familiares là no Brasil) nao poderao jamais entender… Sua ultima frase é a que eu sempre cito para quem me pergunta “mas como vc faz para suportar tal distancia” entre outras (que muitas vezes chegam a ofender ,machucar!) : “Sua vida não fica em um lugar, ela vai com você” A felicidade é uma escolha sim. Nao podemos nos permitir uma depressao, hehe, nao temos tempo pra isso, nao é mesmo! Tem que ter raça e ser aberto às mudanças para viver fora do que fomos acostumados por 15, 20, 30 anos em um paìs!
Bjao e parabéns pelo excelente texto!
Daphne
Daph, obrigada querida, pelo comentário!
Eu ouço muuuito essa pergunta e as vezes dói mesmo, como se a gente estivesse abandonando nossa pátria, não é? Tem gente que não entende uma mudança de país. Temos que ser fortes, otimistas e compreensivas sempre. No começo é mais difícil, mas isso não passa, só vira rotina. Fizemos nossas escolhas e temos que carregar a bandeira delas… Um sorriso no rosto sempre ajuda. 😉
Um beijão!
É bem assim mesmo querida, acho que temos que estar abertas a essa nova experiência..como sempre, lindas palavras.
Super bjs,
Elo
Não só em matéria de mudança cultural, tudo na vida é assim, não é Elo? A gente pode escolher ver o lado bom ou ficar reclamando pelo ruim… Eu, quando for velhinha e escrever um livro sobre minha vida, vão dizer: Nossa, que vida boa ela teve!
Bom, isso porque o que é importante é o que me faz feliz…
Um beijão!!!
Parabéns Carol, como algumas já citaram, me vi nas suas palavras. Passamos exatamente por uma fase de luto. Mas como vc disse, e é o que repito a cada um que chega: venha por inteiro, a felicidade está onde vc a coloca. Uma vez, uma brasileira foi passar férias no Brasil e quando estava voltando escreveu no face algo assim: ‘voltando para a China, dando um break na vida novamente”. Não foi exatamente com essas palavras, mas na hora que li, chamei ela no FB e perguntei se ela tinha noção do que havia escrito. Que ela disse que a vida dela se resumia a um mês de férias no Brasil e o resto? ela não vivia? Não havia escolhido vir viver aqui com o marido por uma oportunidade profissional? e o que é isso senão VIVER? Bom, acho que o puxão de orelha valeu…rs Hoje ela ainda está aqui, arrumou um emprego e me parece de bem com sua vida na China e suas ferias no Brasil..rs.
Beijo e obrigada por partilhar suas impressões… me fez lembrar de um dia… so far away… =]
Cristiane, que bom que essa brasileira tinha vc para abrir-lhe os olhos. As vezes as coisas não são tão óbvias quanto parecem, principalmente pra quem vive, pra que expressa e só uma amiga pra nos chamar a atenção para um caminho errado. 🙂 Parabéns chamada de atenção! rsrsrs
Carol, amei seu texto! e poderia ser meu (nao tao bem escrito…… rsrsrsrsr) rsrsrrs mas o conteudo com certeza bem proximo! Alguns pontos a salientar: gosto de pensar que somos como as “Matrioshkas”, aquelas bonecas russas, onde tem varias outras menores dentro da maior! Nao perdi absolutamente nada, deixando o Brasil, pois trago o Brasil e tudo que vivi e amo la comigo e pra sempre, somente adquiri muitas outras experiencias, amizades, outra familia, conhecimentos e uma capacidade de adaptaçao e de relaçao interpessoal que enriqueceu a minha vida de forma unica! Minha familia, meus verdadeiros amigos, e o meu amor pela mimha terra levo comigo e partilho com meu “novo” ou “Cosmopolitan” mundo! Com as tecnologias mantenho contato quase que diario nao so com meus amados no Brasil, mas também nos outros 4 continentes! tenho dias de saudades imensas? sim! Claro, mas ai coloco minhas musicas, leio textos, vejo retratos, ligo pra familia e pros amigos, choro e nos abraçamos mesmo que virtualmente, cozinho um frango com quiabo e angu, uma feijoada, faço um pao de queijo, brigadeiro, penso nas lembranças lindas que tenho da minha infancia e adolescencia, e penso no quanto sou feliz por ser a pessoa que fui e a que sou! As pessoas me perguntam como posso ainda ser tao sorridente, carinhosa, espontanea e tao mineira, brasileira ainda, depois de 22 anos morando fora, e ai sempre respondo que Minas, o Brasil o sol e a alegria trago sempre dentro de mim, e tenho o maior prazer de partilhar com outras culturas!!!! Adorei seu texto e sua mensagem!!!!!! Namasté!!!!! Uma inspiraçao!!!!!
Ana, amei sua comparacão com as bonequinhas russas, é isso mesmo!
O engraçado é que o pessoal lá no Brasil fala pra mim que estou muito européia, juro que não sei o que faço diferente… ahahahah Mas é verdade, sou uma mistura, não sou mais a Carolina brasileira, tb não sou hungara, sou a mistura desses dois que carrego comigo.
Obrigada pelo lindo comentário.
Beijos!
Pingback: Viver na China e Ser Feliz. Isso é Possível?
Oi carol, gostei muito do seu texto! Tudo é questão de escolha, ser feliz é uma escolha.
Gostaria que você me ajudasse, apareceu uma oportunidade de continuar a faculdade aí na Hungria, mas não conheço bem o país, na verdade, não conheço nada. Antes de tudo, quero aprimorar (lê-se aprender rs) o meu inglês, você acha que aí seria um bom lugar para isso? A maioria das pessoas falam húngaro?
Como é o estilo de vida? o que as pessoas fazem no tempo livre? Help me please, “qualquer informação será boa para quem não sabe de nada!” rs
Oi Eduarda!
Eu te ajudo sim! Fique tranquila!
Se você quer conversar comigo, pode me procurar no face: https://www.facebook.com/carol.szabadkai?ref=tn_tnmn aí posso tirar suas dúvidas (pelo menos as que eu souber responder rsrsrs).
Aqui se fala hungaro sim, em todo lugar, mas a maioria das pessoas, principalmente jovens, sabe o inglês. Da pra se virar bem com o inglês aqui sim, e pode-se aprimorar fazendo a faculdade em inglês, já que todas as matérias e amigos serão nessa língua, não tem como não ficar craque. 😉
Então me adiciona no face e pergunta o que quiser. Em geral, a Hungria é um país bem receptivo, as pessoas gostam de estrangeiros e gostam muito de brasileiros. Prepare-se pra ouvir sobre a novela “Escrava Isaura” ahahahah É a preferida de todos os tempos por aqui… ahahahah E é claro, o futebol… 😀
O país é lindo, a segurança é ótima e as pessoas são legais, acho que é difícil não amar esse lugar. 🙂
Beijinhos!
Ah, só mais uma coisa.. Me fala algo sobre a cidade de Sopron! Aqui na internet só tem coisas superficiais, nada como é na vida real! Se poder me responder no meu e-mail eu agradeço, assim fica mais fácil de manter o contato! Thank you!
Eduarda, eu não conheço muito bem Sopron, mas ouço dizer que é bonito.
Eu posso te dizer como é em Pécs, que tb é uma cidade do interior com faculdades para estrangeiro, creio que o clima seja o mesmo.
Aqui tem festas o tempo todo, sempre muitos jovens nas ruas e muita gente falando em inglês, por causa da faculdade. Aqui, assim como Sopron, é ponto turístico, então está sempre cheio de gente no verão e isso deixa a cidade muito animada. A cidade tem a animação de capital, mas é pequena e permite ir para todo canto com facilidade. Não conheço cidade ruim ou feia aqui na Hungria, então posso afirmar que Sopron será ótima.
Eu não tenho seu e-mail, mas pode escrever para o meu: carol.szabadkai@gmail.com
Beijinhos!
Poxa, muito obrigada! Fiquei feliz com seu comentário! Escreverei em breve!
Bjos
Oi e verdade eu morei na Hungria 7 anos e comeco foi dificil depois comecei a amar esse pais e amo ate hj e pensamos um dia voltar a viver ai bjus
Oi Melanie! Quer dizer que vcs pensam em voltar? Que bom! Aí a gente tem que marcar de se conhecer!
A Hungria acaba encantando as pessoas que vivem aqui, não é? 🙂
Super beijos!
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Carol, que texto encantador! Altamente recomendável nesses dias natalinos. Um beijo e obrigada.
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Que texto lindo Carol! Mais de 1 ano depois, mas cheguei! rs Era exatamente tudo que eu precisava ler nesse momento da minha vida, momento de muita mudança 🙂
Um beijo!
Estou num experimento.. Quero ver o que é que vou sentir quando mudar de país.. não tenho família, sou órfã, não tenho nem irmãos. E como no Brasil me mudei muitas vezes, nenhuma amizade chegou ao ponto “carne e unha”. Até desconfio se vou sentir saudade de comida brasileira, pelo fato de não me remeter a nenhum prato feito por mãe/vó, e porque o que dou valor é poder dormir de barriga cheia não importa com o que seja. Estou indo confiante de que não tenho nada do que me entristecer e que vou me jogar com todas as forças na nova vida!! Indo com zero motivos para voltar! 🙂