A viagem que transformou o meu conceito de beleza
“Como andar bem vestida viajando de mochila”. Se te fiz pensar que esse seria um texto sobre dicas de moda e beleza, me perdoe. Não é. Ao invés disso, será o relato de alguém que vive muito mais feliz depois de se libertar daqueles padrões sufocantes e aprender a enxergar beleza na simplicidade.
Depois de 7 anos trabalhando como analista em uma multinacional, pedi as contas e fui promovida à mochileira. Saí de um universo que me obrigava a fazer a unha toda semana e conheci um mundo onde as pessoas usam papete com meia. Minha última progressiva foi em novembro do ano passado, e hoje vejo um leãozinho nascendo no espelho conforme os dias vão passando.
Tive que transformar um guarda-roupa abarrotado em uma mochila de 10 quilos. Você vai levar só isso? Sempre pareci muito convicta em todas as vezes que respondi essa pergunta, mas no fundo também não sabia. Bom, o desapego faria parte da aventura. E acredite quando dizem que somos os seres mais adaptáveis do planeta. Aprendi a viver (feliz) durante 6 meses com as mesmas roupas, sapatos e acessórios. Se quero variar um pouco, tenho que usar a criatividade para combiná-los entre si: aquele pretinho básico, a jaqueta jeans que vai com tudo, o macaquinho que já virou uniforme. Nada que amasse, óbvio.
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Qualquer viagem contribui para ampliar nossa visão de mundo, mas uma viagem longa é um tapa na cara. É ver todos os padrões, hábitos e caprichos morrerem de pouquinho todos os dias. É se deparar o tempo todo com gente que vive muito bem, obrigada, sem combinar o sapato com o resto da roupa. Mais que isso, é se deparar com uma versão de si mesma, que por qualquer motivo se perdeu. É se olhar no espelho e aceitar seus defeitos, mesmo aquele culote que não vai embora ou a celulite que tira o glamour de uma foto na praia.
Já fui para a balada com bota de trilha e tênis de corrida. A blusa amarrada na cintura virou acessório fundamental. Não sei mais o que é sair com uma bolsa maior que 15 centímetros, até porque não tenho outra. Minha vida mochileira me obriga a priorizar conforto e praticidade, no lugar de algumas vaidades. E preciso dizer que não tem nada mais libertador do que sair do jeito que quero (e posso), e não ser alvo de olhares arrogantes me medindo dos pés à cabeça.
Confesso que algumas vezes quando vejo alguma menina desfilando com bota de couro, jeans rasgadinho e camisa de seda, é inevitável não comparar com minha legging preta combinando com a bota de trilha. Confesso também já ter julgado uma mulher que não depilava a axila. Primeiro levei um susto, depois fiquei indignada, mas no final fui obrigada a me repreender: “O que você tem a ver com isso? Ela tem todo o direito de não se depilar”.
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E se você chegou até aqui, preciso esclarecer que esse desapego não se trata da síndrome de mendigo. Não pense você que ando de roupa suja, rasgada ou fedida. Eu ainda uso desodorante, depilo a perna, passo um batonzinho de vez em quando. A diferença é que não deixo mais a vaidade me dominar, não me preocupo mais se estou estilosa, se vão elogiar minha roupa ou meu cabelo. Eu ainda gosto de me olhar no espelho e me achar bonita. Eu só mudei meus padrões e aprendi a ver beleza em outras coisas. Tudo bem, confesso que morro de saudade de fazer a sobrancelha na esteticista, disso ainda não desapeguei, mas chego lá.
Hoje posso andar com uma coroa de abacaxi na cabeça e está tudo bem. Sabe por quê? Porque o mundo não quer saber se meu look está ornando ou se minha progressiva está em dia. Porque as pessoas que eu encontro por aí, valorizam outras coisas; elas estão em busca de experiências mais significativas, profundas e transformadores. Não tem problema se o mural do Instagram mostra roupas repetidas, porque existe história por trás de suas fotos. Elas deixaram de contar curtidas para contar experiências. São pessoas que estão mais interessadas na minha história, que me olham no olho, que não tem dentes perfeitos, mas distribuem sorrisos sinceros. Que vivem com liberdade e leveza, simples como deve ser. Isso sim, é lindo.
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Parabéns Paola pela sua “libertação” dos padrões exigidos pela nossa sociedade atual e por abrir seus olhos para um mundo tão grande que é o conhecimento, tanto de novas culturas como de pessoas e como elas consequentemente vem as idéias. Morei por 1 ano em Dublin (Irlanda é o destino certo para o primeiro intercâmbio e para tentar aprender inglês) e agora moro em Barcelona. O mais legal disso tudo é que não tenho a menor idéia de onde irei “sossegar” e fincar as minhas raízes