O que aprendi sendo mãe na Alemanha
Dizem que é difícil mudar de país. Todo mundo pensa em viver fora, mas existem inúmeras barreiras a serem superadas. Como aprenderei melhor a língua e a cultura? Quanto tempo ficarei por lá? Terei amigos? Estas são alguns dos questionamentos mais comuns, e que podemos comprovar por meio de relatos maravilhosos como os que lemos aqui no BPM.
Se essa jornada parece desafiadora, imagine então adicionar a difícil tarefa de ter um filho longe de casa, tudo junto e ao mesmo tempo. Impossível, certo? Não. Ainda bem.
Minha vinda à Alemanha foi meio assim, quase sem querer. Já imaginava que encontraria barreiras nesta busca recompensadora que é morar fora, mas um bebê chegando (bem) antes do planejado foi uma surpresa e tanto. Milhares de dúvidas passaram pela minha cabeça – como eu iria conseguir coordenar todo o processo de adaptação à terra nova e ao mesmo tempo criar um bebê?
A verdade é que ser mãe aqui ajudou ainda mais minha adaptação. Apesar de a minha rápida passagem por um curso de alemão ter sido interrompida no 8o mês de gravidez, ter um bebê dependendo de mim me fez aprender alemão meio “na marra”. Afinal de contas, apesar de a grande maioria dos médicos e parteiras (sim, aqui há muitas) alemães falarem inglês, era do meu maior interesse compreender absolutamente tudo o que estavam falando. Então, as minhas habilidades linguísticas se desenvolveram num piscar de olhos. Com o tempo, fui perdendo o medo de falar alemão por aí, mas no início meu médico e minha parteira falavam português.
E como era ter uma parteira?
Que médicos fazem o acompanhamento pré-natal todo mundo sabe, mas muitas pessoas me perguntam como era ter uma parteira (apesar de mais e mais mães optarem por parteiras ou doulas no Brasil, hoje em dia). Bem: aqui na Alemanha, o pré-natal (ou, em alemão, Schwangerschaftsvorsorge) pode ser feito com um médico ou uma parteira (chamada Hebamme). Ela te visita em casa e faz todos os exames necessários, com exceção da ultrassonografia, que é realizada pelo médico.
Uma mulher pode optar pela parteira e ir ao médico somente para o ultrassom, ou pode visitar ambos ao mesmo tempo. O bom é que as Hebammes geralmente estão à disposição mesmo nos horários em que o médico está incomunicável, e há um contato mais íntimo e seguro: acredite, existe uma diferença enorme entre ouvir o coraçãozinho do seu bebê em cima de uma maca, no consultório, ou no seu quarto, na sua sala, na sua casa.
Essa relação de confiança é estabelecida até o momento do nascimento, já que é possível optar pelo parto caseiro, com a parteira, desde que não existam obstáculos do ponto de vista medicinal (a melhor notícia: os custos são cobertos pelo plano de saúde). Para quem tem medo do pós-parto: eu também perguntei à minha parteira: “e se algo der errado?” E ela me respondeu, com a calma de quem sabe o que está fazendo, que, se olharmos ao nosso redor, a tendência é as coisas darem certo na Natureza, frase que sempre me vem à mente até em momentos que não tenham a ver com maternidade. E para os casos especiais, este é justamente o motivo de fazer o acompanhamento durante a gravidez.
Esse foi o primeiro passo na minha carreira de mãe na Alemanha. Mas ainda havia mais: além de passar pelo acompanhamento pré-natal, eu, bem… teria um bebê alemão! Logo, dali para a cultura, foi um pulo.
Claro que é maravilhoso criar um filho que reconheça a sua cultura. Minha filha fala português, conhece a cultura brasileira e se identifica muito com a mesma (aliás, uma vez, quando lhe disseram que ela era metade brasileira, metade alemã, ela respondeu: “não, eu sou os dois, por completo!”), e sou muito grata por isso. Mas eu realmente considerei importante que ela não se isolasse como imigrante na Alemanha.
Claro que hoje em dia sei que isso é um exagero, afinal ela frequenta uma escola alemã e vive aqui – ou seja, não tem como não se identificar. Mas era importante que ela conhecesse as coisas do próprio país.
Então, com isso, fui me interessando pela cultura alemã: aprendi centenas de cantigas infantis, contos populares, receitas para crianças, costumes, brincadeiras, dias festivos. Parece óbvio, mas não é tão fácil. Por exemplo, já pensou que tristeza chegar dia 1o de Junho e seu filho ser o único que não ganhou uma lembrancinha de Dia das Crianças, porque na sua cabeça é no dia 12 de Outubro? Ou deixar sua filha comer frutinhas de sabugueiro no parque, por achar que tudo bem (afinal, existe suco, refrigerante e xarope de sabugueiro, qual o problema?), e só saber que é venenoso e pode causar ânsia, cólicas e outros sintomas desagradáveis?
É, fui aprendendo com estas pequenas coisas e quando vi, já tinha mergulhado de cabeça na vida na Alemanha. E percebi que aquilo que parecia ser um obstáculo ainda maior foi justamente o que mais me fortaleceu. Já não havia mais o “se” na minha migração, e queimei meus navios da maneira mais deliciosa que existe.
Sei que existem muitas mulheres que provavelmente viveram, estão vivendo ou viverão uma história parecida com a minha. E justamente por e para elas é que desejo, a partir de agora, compartilhá-la com vocês por aqui.
Até a próxima!
6 Comments
Olá, primeiramente venho parabenizar pelo texto e pelo blogue 🙂
Eu morro por um tempo na Irlanda e cheguei a ser au pair lá, cuidando de uma menininha de 2 anos. Ela não usava brincos, nem tinha as orelhas furadas, e não era por questões religiosas, só um costume de não furar as orelhas tão cedo.
Comentei com um colega alemão e ele me disse que sua sobrinha ao fazer 9 anos de idade pediu ao pai pra furar e usar brincos. Os pais alemães não deixaram (apesar da mãe usar). Quando eu disse que minha prima sobrinha saiu da maternidade com brincos esse meu amigo achou muito estranho!
Ter filhos em outro país deve ser mesmo um desafio, até pequenos detalhes, tão óbvios pra nós, pode ser muito diferente pra eles ou vice e versa.
Queria saber se vou pode resistra meu filho na Alemanha quando nascer lá pq o pai morra no Brasil como vou coloca o nome do pai no registro. Alguém pode mim escrace isso ? Por favor
Oi. Adorei o Post.
Estou indo morar na Alemanha, na cidade de Essen, com minha filha de seis meses. Minha cabeça doe de tanto pensar como vai ser conciliar as culturas, o idioma, família. Pq os avós ficaram no Brasil e vou morar com o pai dela, que é brasileiro com nacionalidade alemã. Queria um SOCORRO nessa minha jornada.
Olá Taritha,
seja bem vinda na Alemanha. O melhor que voce pode fazer para sua filha é coloca-la em uma creche para que ela consiga se integrar na cultura e na lingua o mais rápido possível. Para voce tambem seria bom porque terá tempo para se dedicar a lingua e atraves da sua filha conhecer pessoas com quem voce poderá trocar experiencias. Nao se tranque em casa, vá a muitos parquinhos, zoológicos, encontros familiares ou para maes com filhos. Assim voces terao a oportunidade de conhecer pessoas. Por mais difícil que uma integracao seja, o tempo passa e as coisas entram no eixo. Pense tambem em voce, faca cursos e tente arrumar um emprego assim que sua filha entrar na creche. Isso tambem te ajudara no aprendisado da lingua e na integracao.
Um abraco e boa sorte.
Maria
Ola Boa tarde,
Decidimos que iriamos tentar a vida na alemanha. No meu caso e da minha mulher falamos os dois alemao, mas acontece que a nossa filha de 12 anos ( frequenta neste momento o 7 ano em Portugal) nao fala nenhuma palavra de alemao. Gostaria sinceramente de saber a vossa opiniao no que diz respeito aos seguintes temas:
Como vai ser a habituaçao da minha filha numa escola e em que se fala so alemao. Sera que vou ter professor de apoio para ela aprender naturalmente tambem o alemao?
Obrigado
Olá Antonio,
A Lulu Saille parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas na Alemanha que talvez possam te ajudar.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM