Coisas que nem todo turista sabe quando vem a Paris.
Ah, Paris! Quando se ouve esse nome como não pensar nos croissants quentinhos vendidos nas inúmeras boulangeries da cidade? Ou, ainda, como não pensar nas lindas paisagens que, não raro, vêm acompanhadas de um acordeonista tocando algum clássico de Edith Piaf? Como não sonhar em visitar todos os monumentos históricos presentes aqui? Como não lembrar da torre Eiffel, majestosa, iluminada, chamando a atenção de todos que passam ao redor dela? Sim, Paris é uma cidade que tem charme, beleza, que exala cultura e história, mas não é só isso.
Minha história com a cidade já conta com mais ou menos 2 anos e meio de amor e birra. Apesar dos meus muitos anos de estudo da língua francesa, antes de me mudar para cá pela primeira vez, eu nunca sonhei em viver em Paris. Inclusive fiquei quase desapontada quando, no processo seletivo que me trouxe para trabalhar aqui, fui enviada para a região de Ilha de França, mesmo tendo solicitado Lyon como opção principal e não tendo colocado Paris nem nenhuma cidade da vizinhança entre as opções.
Vim pela experiência mas sem, nem por um minuto, romantizar a mudança para a cidade. Achei que ia gostar, mas que não ia ser nada demais. Dois meses depois estava apaixonada. Mas esse texto não será escrito para exaltar todos os motivos que temos para amar Paris. Escrevo para falar um pouco da cidade além dessa visão sonhadora e impregnada de clichês. Falarei sobre assuntos que eu gostaria que alguém tivesse me explicado antes de eu chegar aqui.
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Ticket de metrô
Minha primeiríssima experiência em Paris foi a chegada ao Charles de Gaulle, sozinha, com duas malas de 30 kg (eu peso 48), tendo que chegar até o 10ème arrondissement DE METRÔ. Para todos tentando imaginar a cena, nem queiram, porque não foi nada bonito de ver. Teve mala voando escada rolante abaixo (isso quando eu tive a sorte de encontrar escadas rolantes) e muito sofrimento. Mas não parou por aí. Assim que cheguei, comprei em um guichê do aeroporto um ticket para todo o trajeto e, obviamente, com toda a tralha que eu tava levando, depois de usa-lo não sabia onde tinha guardado. Acontece que para sair de áreas de RER (se você não sabe o que é isso, é só ir no próximo texto sugerido aqui embaixo que lá eu explico tudinho) e acessar as linhas de metrô, você precisa abrir a saída com o ticket que usou pra pegar o trem.
Passei minutos intermináveis procurando o dito e não encontrei, é claro. Como um funcionário acabou aparecendo, eu, exausta e desesperada, expliquei a situação e disse que não tinha problema em pagar um novo pra sair. Ele, malandro que é, aceitou, abriu pra mim, e colocou meus euros no bolso. Acho que podemos deduzir que a companhia de trem nunca viu a cor desse dinheiro, não é mesmo? Bom, compartilhei esse conto da vida real para falar sobre a importância de guardar o ticket de metrô antes de sair da estação.
Em primeiro lugar, dependendo do trajeto que você for fazer pode ser que você precise dele para sair da estação. Em segundo lugar, se você encontrar, dentro de alguma estação ou de algum trem, alguma equipe que é responsável por supervisionar quem tem ticket e você não tiver o seu, pode se preparar pra pagar uma multa salgada.
Golpes
Como em muitas metrópoles, é preciso estar alerta pra vários tipos de golpes. Alguns golpes clássicos são:
– O golpe do “passe de mágica”. Perto da Torre Eiffel e de outros monumentos há pessoas fazendo “passes de mágica”, como o da bolinha escondida por um copo em que quem adivinhar onde ela está ganha. Porém, em um simples momento de distração da vítima, eles (pode acreditar, as pessoas envolvidas nesse tipo de golpe nunca estão sozinhas) mudam a ordem da brincadeira fazendo com que a pessoa que “apostou” (e que estava certa do que tinha visto) perca seu dinheiro.
– O golpe da mesa. As vítimas são pessoas sentadas na parte externa de bares e restaurantes com pertences em cima da mesa. A pessoa que aplica esse tipo de golpe chega pedindo uma informação e mostrando uma folha que na verdade serve pra esconder o objeto que ele tentará roubar quando retirar a tal folha;
– O golpe da assinatura. Um grupo de pessoas com pranchetas pedindo assinaturas é muito provavelmente um golpe. Enquanto você assina ou tenta entender do que se trata, alguém do grupo vai tentar furtar algo de você. Quando alguém vier falar sobre alguma ONG, instituição ou abaixo-assinado sério essas pessoas geralmente não ficam todas em cima de uma mesma pessoa e usam um tipo de colete de identificação.
– O golpe do bracelete. Como, por exemplo, em Salvador, onde já vi pessoas querendo amarrar fitinhas na mão de turistas distraídos, aqui em Paris também pode acontecer. Não sei ao certo se o objetivo é marcar aquela pessoa para que outro participante do golpe possa fazer algo ou se a intenção é cobrar pelo bracelete, mas a dica é apenas dizer “Non, merci” quantas vezes for preciso e se afastar.
Furtos
Esse assunto é polêmico pois há muitos clichês e pré-julgamentos que ligam esse tipo de crime a pessoas de algumas nacionalidades específicas da Europa do Leste.
O que se sabe de fato é que os pickpockets fazem parte de uma organização que está espalhada pelo país todo, especialmente em trens e estações de metrô parisienses, como eu alertei no texto sobre o transporte coletivo em Paris. Eles visam turistas e pessoas distraídas para furtar todo e qualquer tipo de objeto de valor.
No ano passado, mais de 2000 pickpockets foram presos, já em 2018, até o mês de agosto, já contava-se com 1500 detenções.
Em uma das ações que deteve alguns desses grupos de criminosos descobriu-se que alguns chegavam a roubar entre 1000 e 2000 euros por dia.
A situação se complica no verão, quando os turistas tomam conta da cidade.
Aqui, como no caso dos golpes, que aliás, podem ser situações interligadas, a dica é ficar muito atento e não deixar nenhum objeto de valor, carteira ou celular guardados em bolsos de fácil acesso.
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Notas de 500 euros
Sei que ainda há casas de câmbio no Brasil que passam notas de 500 euros para as pessoas. O problema é que as notas de 500 quase não circulam mais por aqui, logo não são aceitas em comércios, restaurantes, etc. Evite trazer essas notas com você, exceto se já tiver um plano certo para trocá-la quando chegar aqui.
Espero que esse min(úsculo)i guia desconstruído de temas que nem sempre estarão em guias de viagem ajude vocês a vivenciarem momentos inesquecíveis e sem traumas na cidade-luz.