Ela é sexy demais: o sensualismo imoral no Egito.
O Egito tem ganhado atenção da mídia internacional pois, mesmo sendo um destino turístico popular e secular, condena mulheres por comportamentos sensuais.
Para nós que crescemos no Brasil, a sensualidade é uma expressão humana, sendo feminina ou masculina. Uma camisa decotada, por exemplo, pode cobrir uma mãe de família e profissional sem uma absurda crise moral.
Leis e religião
Já do lado de cá, o sistema de leis do país, de maioria islâmica, é a sharia. Uma minoria cristã que responde a religião copta, também é adepta ao moralismo restritivo.
Isto significa que o estado egípcio opera segundo o permitido dentro da religião individual, ou seja, basicamente é o pastor da igreja quem julgará os casos referentes a sensualidade e afrontas à moral, seguindo os parâmetros e a interpretação pessoal e subjetiva do Livro Sagrado.
As interpretações religiosas que pautam os julgamentos e a moralidade, são assuntos importantes nas religiões abraâmicas (cristianismo, islamismo e judaísmo).
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Com a popularização das redes sociais, as mulheres egípcias tem ganhado fama e reconhecimento e também apelado para a sensualidade (pasmem, dá engajamento sim). Como resposta, são alvos de linchamento virtual.
Curvas, olhares e até brincadeiras óbvias são o suficiente para denúncia pública e condenação.
O Egito é o segundo país do mundo (atrás do Iraque) em produção de sites de conteúdo adulto, então em algum lugar a sexualidade está escapando.
Aqui é comum ouvir pais se vangloriando de que suas filhas nunca ficaram sozinhas com um homem, enquanto elas tiram fotos sensuais para lançarem na internet.
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Sexo fora do casamento não existe – teoricamente – pois em público os laços de famílias egípcias são enredo de novela das 9h.
Sempre me pergunto como conseguem conciliar essa visão tão moralista com a sensualidade que ganha até proporção jurídica e criminal, além do linchamento real e virtual. Tudo isso ainda é muito novo e estranho para mim.
As penitenciárias no Egito
A cadeia egípcia é diferente da existente no Brasil. Aqui o detido conta apenas com a família para a subsistência, que em dias pré estabelecidos e não regulares, precisa enviar comida para o familiar encarcerado.
Dentro das penitenciárias, há apenas água disponível, além de péssimas condições de higiene.
Imagina alguém se submeter a isso enquanto o seu post de Instagram é avaliado, por ofensa à moral e desvirtuar a juventude. É muito sério!
Casos Famosos
Cupcakes obscenos
Em 18 de janeiro, uma mulher que assou cupcakes com desenhos de pênis e vaginas, para brincar com as amigas, teve sua foto viralizada e foi presa. As fotos mostram senhorinhas alegres, rindo e segurando os cupcakes. Fofas, na minha opinião.
Foi solta sob fiança de 5.000 libras egípcias, mas a detenção foi defendida por muitos internautas que consideraram sua atitude ofensiva.
O Egypt Dar Al Ifta, que legisla segundo o Islam, apontou que a nudez e representações sexuais é proibida no islamismo e portanto, punível por lei.
A fotografia proibida
Bem recente também – uma modelo foi condenada e solta logo em seguida, após ser fotografada com um disfarce de Cleópatra em frente as pirâmides de Saqqara.
O vestido não mostrava nada, só deixava evidente a cintura. Não era curto ou decotado. As poses das fotos eram normais.
Posteriormente, foi alegado que a modelo não havia pago a taxa de fotografia exigida pelos locais públicos – tirar fotos com câmeras profissionais em parques, implica no pagamento de uma taxa que varia de 100 a 800 libras.
Vestido Indecente
Em 2018, a atriz Rania Youssef foi a uma premiação usando um vestido que exibia as pernas através do tecido. Também foi julgada e condenada.
A mesma emitiu notas públicas se desculpando e assumindo estar profundamente arrependida.
O caso Johara
Popularmente conhecida como Johara, uma bailarina russa foi condenada por seus vídeos virais praticando dança do ventre.
O problema foi que, enquanto a bailarina dançava no litoral, uma menina de biquini subiu no palco e começou a dançar com ela. As pessoas que assistiram, ficaram muito ofendidas e acusaram a bailarina de estar denegrindo a dança do ventre (como o comportamento da outra menina), e que aquilo era gráfico demais.
O destino de Shyma
Bos Omak causou problemas à cantora Shyma que foi acusada de incitar a imoralidade e corromper os jovens.
Também em 2018, a cantora chegou a cumprir pena. Mas por ser de origem mais humilde, não tiveram dó, nem piedade.
Outros casos
Em 2017, a apresentadora Doah Salah foi indiciada por fazer sugestões direcionadas às mulheres solteiras que desejavam ter filhos. Fiança de 10 mil libras egípcias.
Durante a quarentena de 2020, três tiktokers egípcias foram sentenciadas e ganharam visibilidade internacional. Suas danças e olhares foram considerados ofensivos e sugestivos. Uma delas, de origem simples, ganhou fama por ser simplesmente “muito linda”.
O Egito é diferente do Brasil e desde a presidência de Mohamed Morsi, em 2012, vem tentando estabelecer valores claros de moral e decência.
A denúncia pública vem depois do linchamento virtual, e não é só uma questão de reputação, mas também de segurança.
Recado às brasileiras: não são eles que tem que aceitar como somos, mas sim nós entendermos e respeitarmos os valores deles. Ou morar em outro lugar.