A mulher egípcia é oprimida?
Primeiro, quero deixar claro que essa é a soma das minhas pesquisas, com suas respectivas fontes e experiência pessoal. Universalmente, não se pode aplicar o que estou dizendo aqui, mas como qualquer generalização, você vai encontrar alguém que corresponde a essas características.
Muito do que se vê no Egito, não é diferente do que se vê no Brasil, no México ou nos Estados Unidos.
A sociedade egípcia é uma das mais antigas do mundo e nunca foi feminista. Embora algumas feministas usem o exemplo da mulher-faraó, a realidade é que ela precisava emular comportamentos e características masculinas para atender as expectativas sociais e políticas.
O Egito é patriarcal e o homem é a principal figura de poder na sociedade.
A egípcia e o trabalho
Fundamental para emancipação feminina, o trabalho é, em algumas partes da sociedade, um tabu. Isso se você não vive entre dois extremos sociais.
A miséria forçou muitas mulheres a sairem de suas casas para trabalhos informais ou até mendigar. O homem tem a responsabilidade e dever de prover o suficiente para sua mulher (ou no plural, mulher05es) e filhos. Quando ele não consegue, ele se humilha permitindo que sua mulher trabalhe, atestando para a comunidade seu próprio fracasso no papel social.
Outro extremo são as mulheres ricas e de classe média com a possibilidade de estudar, fazer mestrado, cursos livres e explorar áreas de interesse, ganhando dinheiro com isso. Para elas o trabalho não é uma necessidade e sim um hobby. Elas são sustentadas por seus maridos, que são condescendentes em relação as suas iniciativas profissionais.
É de responsabilidade absoluta da mulher o serviço doméstico e a educação das crianças, o que dificulta o acesso ao mercado de trabalho, porque se considera que estaria negligenciando sua função principal.
A sexualidade
A mulher no Egito é avaliada por sua castração. Uma mulher de honra não demonstra desejo sexual, experiência ou interesse.
Na negação do prazer feminino, um assunto que já abordei aqui, é a mutilação genital, ou seja, o ápice da castração.
Além disso, as novas gerações se submetem a relacionamentos abusivos (por terem perdido a virgindade com determinado parceiro, não conseguem casamento com outro) ou outras práticas sexuais que mantém o hímen intacto.
Feridas emocionais decorrentes de abusos sexuais também permeiam a sociedade egípcia, onde 50% das mulheres relatam serem vítimas (mas acredita-se que o número é ainda maior). Os maiores causadores são membros da própria família.
A depressão, o estresse pós-traumático e o pânico são efeitos diretos dessas condições e infelizmente, na prática o tratamento com profissionais é um tabu e geralmente levam mulheres com sinais de desadaptação à autoridades religiosas.
A vestimenta
Primeiro, quero dizer que existem escolas Islâmicas que consideram obrigatório o uso do véu islâmico – hijab – para as mulheres, cobrindo pescoço, colo e cabelo.
O princípio é ainda maior que isso, sendo exigido também que não mostrem braços, antebraços e pernas, e em algumas escolas, o rosto e as mãos.
Segundo, quero deixar claro que muitas mulheres escolhem usarem o véu e sofrem diariamente discriminação por isso.
No Brasil, por exemplo, além de enfrentarem discriminação na hora de procurar trabalho, a hostilização chega ao ponto da violência.
No Egito, mulheres com véu não são bem vindas em resorts, academias e alguns cafés e restaurantes. A justificativa seria que elas deixam desconfortáveis as mulheres que não se cobrem.
Recentemente um resgate de valores religiosos impulsionados pela oposição ao ocidente (conflito com o Iraque) e a imigração de egípicios ao golfo, cobriu uma geração. Entre cristãs e muçulmanas, 90% das egípcias cobrem seus cabelos. O lenço é colocado após a menarca.
Muitas mulheres que se identificam com a mídia ocidental e não compactuam com essa agenda política, preferem não usar a cobertura, mas sem abdicar de sua identidade religiosa e social. Consideram que o hijab não é obrigatório no contexto do véu.
Dentre essas, algumas são discriminadas e tiram o véu escondido de cônjuges e familiares, vivendo uma vida dupla.
O direito de se cobrir é legal, mas socialmente, dependendo do seu círculo, pode existir uma pressão para que a mulher o coloque. E depois de posto, pode ser exigido que ela não o tire!
Neste vídeo de 1958 (com legendas em inglês), mostra o líder egípcio Gamal Abdel Nasser rindo da Irmandade Muçulmana que sugeria a obrigatoriedade do uso do hijab às mulheres egípcias.
O tema da violência
Embora existam leis que descrevem e punem a violência contra a mulher, a sua aplicação não é efetiva. Denúncias são tratadas com descaso e vítimas são aconselhadas a retirar as queixas por oficiais de justiça. As mulheres relacionadas a suspeitos são estupradas, humilhadas e violentadas por oficiais de justiça para influenciar as investigações.
Leia mais sobre o tema em “A banalização do assédio sexual no Egito” e “Estupro Marital no Egito”.
Fontes:
- A egípcia e o trabalho: Rand Corporation – “Barreiras ao emprego que as mulheres enfrentam no Egito” (em inglês).
- A egípcia e o trabalho: The New Yorker – “Mulheres egípcias e a luta pelo direito ao trabalho” (em inglês).
- A sexualidade: Open Democracy – “Mulher egípcia: depressão ou opressão?” (em inglês).
- O tema da violência: The Egyptian Center for Women’s Rights – “Violência contra a mulher no Egito” (em inglês).
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