Ginecologista em Abu Dhabi.
Ser ginecologista nos Emirados Árabes é algo que sempre desperta curiosidade. Todo mundo quer saber se existe diferença no atendimento de pacientes muçulmanas ou não muçulmanas. Mas a verdade é que quando se trabalha em um país em que 87% da população é composta de expatriados essa “diferença” não se reduz a muçulmanas e não muçulmanas. Aqui atendo mulheres do mundo inteiro. E isso significa mulheres com hábitos, costumes e expectativas diversas.
Por aqui os ginecologistas do sexo masculino são a minoria, muitos hospitais e clínicas só aceitam empregar mulheres. No hospital onde trabalho, de homens só o cirurgião plástico e pediatra. No staff de atendimento ginecológico, que inclui médicos, enfermeiras e anestesistas, há somente mulheres.
É claro que quando se trata de um atendimento médico que lida diretamente com a parte mais íntima da mulher, de modo geral, as pacientes sempre preferem procurar médicos que falem sua língua nativa. Tentar explicar algumas queixas em uma língua que não é sua língua nativa ou que você não domina pode dificultar ou mesmo impossibilitar o tratamento. Outra diferença importante está na expectativa do atendimento. Algumas nacionalidades, como as latinas, são mais digamos calorosas. Portanto nossa expectativa de atendimento é sempre de uma consulta mais pessoal.
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Algumas só fazem os seus exames de rotina no Brasil. Ah … O Brasil ! Apesar de todos os problemas que existem na saúde pública, que não sou poucos, tem uma linha mais preventiva em relação à saúde. Nós brasileiras sempre queremos ser examinadas, fazer todos os exames possíveis e no final escutar que está tudo bem. Acho que é aí que as diferenças começam! Antes de vir morar em Abu Dhabi achava que aqui, por ser um país tão rico economicamente, teria acesso a tudo de melhor e mais moderno em termos de exames de diagnóstico e tratamento. E é verdade! Mas por aqui o foco não é a prevenção e sim o tratamento. Exames de rotina, como preventivo de colo uterino e mamografia só devem ser solicitados em caso de alguma alteração no exame médico durante a consulta. Outro problema que contribui para esta “falta de prevenção” é o tabu em relação ao corpo. Para a maioria das pacientes por aqui ser tocada ou ter que tirar a abaya para ser examinada pode ser um problema. E isso tudo contribui para o fato de que muitas delas não fazem exames ginecológicos de rotina, mas apenas procuram atendimento quando tem algum sintoma. Sempre pergunto às pacientes sobre seus exames de rotina e tento explicar a importância de realizá-los. Independentemente da nacionalidade.
Este é um país que tem vários bons hospitais de atendimento ginecológico e obstétrico. Claro que, para nós brasileiras, algumas coisas podem parecer bem diferentes. Aqui não existem muitas opções de contraceptivos, sejam os anticoncepcionais orais ou os injetáveis. Em um país em que o sexo fora do casamento é crime e que, pela religião, eles têm sempre muitos filhos, os anticoncepcionais não têm muito espaço. Em alguns Emirados é quase impossível comprar anticoncepcional sem receita médica. Pílula do dia seguinte??? Não temos por aqui. Já o DIU está disponível na maioria dos hospitais, mas quase nunca é coberto pelos seguros saúdes local. Apenas no caso em que a indicação de uso seja alguma condição ginecológica e não apenas a contracepção.
Já em relação aos tratamentos de infertilidade, existem várias clínicas em Abu Dhabi. O tratamento para os expatriados, assim como no Brasil, não é coberto pelos seguros de saúde. Mas é coberto pelo governo no caso dos Emirados. O que faz a fertilização ser uma opção frequente entre os casais, não só porque no caso de infertilidade o governo paga o tratamento, mas porque entre eles o casamento consanguíneo é frequente e existe um estímulo do governo na tentativa de aumentar a população local. Algumas leis também são diferentes. Aqui o congelamento de embriões não é permitido, somente o de gametas (óvulos e espermatozoides), mas a escolha do embrião pelo sexo sim.
E se você quer saber sobre o atendimento obstétrico… Fique tranquila! Por aqui as famílias são grandes. É muito comum as mulheres terem vários filhos. Ou seja, não faltam centros de atendimento às gestantes. E todos os tipos de tratamento durante a gravidez e o parto estão disponíveis por aqui.
Confesso que para mim todo dia é um aprendizado diferente. Não porque aqui a medicina seja diferente. Definitivamente não é! Mas pelo fato de que em um único dia atendo mulheres das mais diferentes nacionalidades. É muito interessante poder conhecer mulheres de culturas e origens tão diferentes! Poder escutar suas histórias… Até porque somos quase todas expatriadas!
Mas não se esqueça que se você decidiu pela vida de expatriada isso significa mudar por completo. Mudar de país, de casa, conhecer novos amigos, ter novos hábitos e, muitas vezes, novos médicos. Por isso não deixe que a cultura ou a língua seja barreira para você cuidar da sua saúde!
2 Comments
Boa tarde Raquel, poderia me passar um e-mail sei para contato? Obrigada
Olá Karina,
A Raquel Vitorino, infelizmente parou de colaborar conosco.
Obrigada,
Edição BPM