A mulher imigrante e a busca da sanidade perdida na pandemia – nos EUA e no mundo.
A pandemia do COVID-19 trouxe à tona problemas relacionados a disparidades sociais, econômicas e de saúde pública que têm sido negligenciados ou subestimados por muito tempo, seja pelos governos ou em nível comunitário e individual. E não seria diferente com as disparidades de gênero, em relação à mulher.
Nos Estados Unidos, a mulher imigrante tem sido a categoria que mais sofreu com desemprego e outras perdas, incluindo saúde e segurança pessoal (por conta de maiores índices de violência doméstica). Problemas antes já conhecidos do universo feminino, se amplificaram durante a pandemia.
A mulher imigrante e a busca da sanidade perdida na pandemia
E antes de desenvolver esse assunto, trago a ressalva quase óbvia de que, em todo lugar incluindo os Estados Unidos, o prejuízo emocional/profissional e em saúde durante a pandemia 2020/2021 tem sido mais preponderante em mulheres de classe social mais humilde, com profissões sem muita motilidade para o âmbito online, com saúde vulnerável e mulheres que já tinham algum histórico de abuso na família.
Essa realidade pode ou não ser a sua situação mas é pertinente a todas nós. As perdas do indivíduo refletem no coletivo. E no caso da mulher, suas perdas refletem na família e nos filhos, o que implica em um prejuízo que transcende gerações.
Em todo caso, em menor ou maior escala, todas sofremos com essa pandemia e uma reflexão em busca de soluções se faz necessária.
Portanto é necessário lembrar que, mesmo nas situações em que algumas de nós tenham tido menos prejuízo que outras, evitemos minimizar o nosso sofrimento e busquemos nos educar quanto aos canais de apoio e soluções. E quando pudermos, ajudemos umas às outras da forma como pudermos sempre quando possível.
Mulheres imigrantes em idade produtiva nos Estados Unidos, no início da recessão induzida pelo COVID-19, apresentavam taxas de desemprego semelhantes às de outros grupos. No entanto, com o decorrer dos meses, as mulheres imigrantes estão entre os grupos mais afetados por perdas de empregos relacionadas à pandemia.
Leia também: Desafios como mãe expatriada nos EUA
Apenas 46% das mulheres imigrantes em idade produtiva estavam empregadas em setembro, uma queda de 7 pontos percentuais em relação à sua taxa de emprego em janeiro (53%), antes do início dos bloqueios, distanciamento social e outras medidas relacionadas à pandemia.
Como você pode ver aqui, este informativo do Migration Policy Institute de novembro/2020, procura explicar por que as mulheres imigrantes foram atingidas tão duramente pela recessão induzida pelo coronavírus, que desencadeou níveis de desemprego nunca vistos desde a Grande Depressão dos anos 1930.
Algumas das explicações para esse aumento do desemprego para mulheres nascidas no exterior pode ser devido, em parte, aos seus papéis frequentemente duplos como trabalhadoras e mães, que se tornaram ainda mais complexos quando muitos distritos escolares passaram a educar à distância.
A concentração de mulheres imigrantes em determinados nichos do mercado de trabalho, incluindo a área de limpeza, lazer e na hotelaria, também podem explicar sua queda de empregabilidade nos Estados Unidos e em outras partes do mundo.
Outros fatores agravados devido à pandemia
A violência doméstica contra a mulher e o declínio da sua saúde física e mental também são outros fatores que aumentaram na pandemia. Certamente são elementos que impactam a capacidade de trabalho da mulher, e principalmente da imigrante que muitas vezes não tem o apoio familiar que teria em sua terra natal.
E logicamente é especialmente complicado, se estiver ilegal e tiver receio de buscar ajuda das autoridades por conta do medo de deportação ou prisão.
Nesse artigo das Nações Unidas você encontrará mais dados sobre o impacto da pandemia do COVID-19 na violência contra mulheres e meninas. E, você poderá ler o artigo “Uma pandemia dentro de uma pandemia – violência entre parceiros íntimos durante Covid-19” clicando aqui.
e O que podemos fazer?
Muita coisa.
Para nós mesmas e para outras mulheres.
E não falo apenas de ajuda financeira, falo de atenção, cuidados, acolhimento, orientação no que pudermos, oferecer um ombro amigo e escutar antes de tudo.
Retomar a sanidade mental e a auto-confiança em transcender essa crise são fundamentais para esse ‘novo futuro’ pós-pandemia. Principalmente para as mulheres, e as imigrantes recuperarem suas perdas.
Pois se tem uma coisa que essa pandemia nos proporcionou, foi a possibilidade de exercitarmos nossa humanidade. E com as mulheres, temos a oportunidade de entender melhor o mundo feminino (dentro e fora da nossa realidade) e sermos irmãs, praticando nossa sisterhood, nossa irmandade de forma plena.
O mais importante é não silenciar, que busquemos ajuda se for o nosso caso e que também ofereçamos ajuda sempre que possível. Inicialmente, buscar ajuda de outras mulheres de confiança na família e/ou na comunidade local, associações de mulheres e programas locais de apoio à mulher, independente do seu estado de legalidade migratória.
Escute também o meu podcast ‘Vida sem Fronteiras’.
Além do consulado brasileiro, nos Estados Unidos existem muitos recursos que podem ajudar, no quesito violência doméstica, ajuda a imigrantes, doença mental (como depressão e prevenção ao suicídio) e trabalho.
Veja os links abaixo:
Embaixada do Brasil em Washington
Crisis Text Line (text HOME to 741741)
National Parent Hotline (call 1-855-427-2736)
Childhelp National Child Abuse Hotline or call 1-800-422-4453
National Domestic Violence Hotline: Text LOVEIS to 22522, or call 1-800-799-7233)
SAMHSA – Substance Abuse and Mental Health Services Administration
Recomendações sobre questões migratórias
Em Massachusetts: SMOC (eu voluntariei aqui muitos anos atrás, eles tem vários programas de apoio a mulheres incluindo imigrantes)
Indiana Department of Workforce Development – InGov
SCORE (essa organização tem escritórios nos Estados Unidos inteiro, grande ajuda para retorno ao trabalho e para começar novos negócios)
As bibliotecas locais têm muitos recursos que podem lhe ajudar.
Busque também auxílio junto às organizações locais de apoio a mulheres, imigrantes e recursos para retorno ao mercado de trabalho.
Voce não está sozinha, mesmo longe de casa!