Hostess no Japão.
Porque elas chegam com uma ideia e logo se encantam pela deslumbrante vida de hostess (recepcionistas), nos lindos “sunaku” (um bar que recebe o seu público, na sua grande maioria, homens) para beber e conversar. Nossa entrevistada desse artigo não quis se identificar, por motivos óbvios, mas me fez refletir muito sobre a vida!
Ela me contou que aos 17 anos, depois de muito sofrer no Brasil por falta de recursos financeiros, chegando a faltar até comida pra ela e o irmão menor, e por ter uma mãe narcisista, resolveu vir para o Japão. Aqui chegando, com uma cabeça ainda de menina, foi para uma fábrica de copos de vidro para embalar os mesmos em grandes caixas de papelão. Trabalho cansativo e pesado, fazia 12 horas ininterruptas e também não tinha domingo, feriado, nada, fazia o tão sofrido 4×2. Seguiu trabalhando por alguns meses, até conhecer umas amigas na fábrica que sempre a convidavam para sair, mas a Ana (nome fictício), que recusava no início, acabou cedendo por achar que merecia um divertimento após o árduo trabalho.
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Um dia, cansada, resolveu pegar uma revista de classificados de trabalho, mesmo ganhando muito dinheiro, já que, naquela época, ganhava-se muito, ao contrário de hoje, quando em razão dos inúmeros impostos somente sobrevive-se, apesar do padrão de vida excelente.
Mas, voltando à nossa entrevistada, Ana já está aqui há 15 anos, porém, naquela época, conseguindo na flor da idade ainda trabalhar aos fins de semana. Viu um anúncio: Precisa-se de moças de boa aparência, sorridente; não precisa dominar o idioma japonês; paga-se 15 mil no fim da noite, era mais do que Ana ganhava em um dia todo na fábrica.
Não pensou duas vezes, ligou e já marcou a entrevista. Uma pessoa atendeu e explicou mais ou menos como era o trabalho e pediu que ela fosse até lá conhecer. Quando Ana chega ao lugar e vê aquele bar maravilhoso, com muitos sofás de couro em tons pastéis, luzes e espelhos, ficou encantada com a diferença da paisagem hostil e suja da fábrica.
Logo chega a “Mama” (que é a senhora que cuida de todas as hostess) e fala: Vai lá se trocar!, mas quando Ana vê todas as meninas vestidas maravilhosamente bem, usando maquiagem e perfumes caros, teve vontade de dar meia volta, vestir seu uniforme da fábrica e retornar para sua vidinha sofrida o mais rápido possível. No entanto, já que estava lá, bora ver o que dá, afinal, se elas estão assim, logo eu consigo também, pensou Ana. Ela sabia que era um serviço totalmente diferente do que estava acostumada, mas sabia que um dia sua realidade poderia ficar melhor, como trabalhar bonita, cheirosa e com joias caras…. afinal, qual mulher, um dia, não sonha com isso?
Ficou nesse primeiro dia com um senhor à noite toda, servindo bebidas, fazendo massagem no braço dele. Geralmente esses homens que frequentam os Sunakus são muito carentes e querem apenas conversar e se sentir importantes, por serem servidos por lindas mulheres.
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No final da noite, Ana foi chamada ao caixa e pegou 15 mil yenes. Pra ela era muito dinheiro, ganhado sem esforço físico, bem arrumada, cabelos feitos, unhas impecáveis. Assim é a vida de muitas mulheres que resolvem trocar o ambiente feio e cheio de cobranças de uma fábrica, pela atmosfera “glamorosa” e muito rentável dos grandes e luxuosos Sunakus desse Japão.
Eu, de maneira nenhuma, chamo isso de vida fácil. Essas mulheres são verdadeiras guerreiras, bem diferente do que cita o apresentador do domingão do Faustão, pois muitas escolhem essa vida para poder dar melhor futuro aos filhos, porque, a maioria, o pai abandona.
Existem vários tipos de Sunakus ou Omise (como falam as hostess, entre elas), essa palavra também é usada para lojas e estabelecimentos comerciais, tem uns que as meninas ficam com os seios à mostra, e também outros que são específicos para sexo oral. Existe também muitos (omisse) que, às escondidas, praticam prostituição, o que é crime no Japão, mas todos sabem que esse mundo obscuro é protegido pela máfia, ficando por isso mesmo.
Só que um dia isso tudo cansa, a disposição vai embora, a vitalidade também, e suas prioridades mudam. Depois de conhecer todo tipo de gente de todas as raças e credos, Ana também conheceu o submundo das drogas. No Japão, drogas são extremamente proibidas, tanto pra quem vende quanto pra quem usa, aqui é cadeia pesada pros dois lados, sendo assim, em um desses estalos que a vida dá, a garota que veio lá de São Paulo capital, resolveu dar algumas prioridades à sua vida, coisa que nunca lhe foi concedido por ninguém além do seu falecido pai, pelo qual ela chora sua morte até hoje. Nesse meio tempo, Ana conheceu um japonês empresário, não era cliente do Sunaku, foi em uma festa de amigos, ele se apaixonou pela alegria e pela beleza dela e logo ela saiu da vida que muitos julgam fácil…. Ser mãe, esposa e dona de casa faz a felicidade de uma linda mulher, que fez da sua trajetória uma lição de vida.