Lecionando em Omã, no Oriente Médio
Queridos colegas de profissão, English Teachers do meu coração… Nem tudo está perdido!
Daqui do outro lado do mundo eu tenho acompanhado com tristeza os rumos da educação no nosso Brasil, e por isso resolvi escrever esse post, para compartilhar minha experiência como professora de inglês aqui em Omã.
Há quase sete anos eu desembarcava pela primeira vez em Mascate, e no geral a vida aqui é tranquila. Os meus comentários abaixo referem-se às universidades e instituições de ensino superior do país, que contratam grandes números de professores de inglês para os seus Foundation Departments.
Os alunos saem do ensino médio e passam, em média, um ou dois anos estudando inglês até chegarem a um nível apropriado para que possam começar seus cursos em suas respectivas áreas.
Para lecionar inglês em Omã é essencial ter um diploma universitário na área de educação ou línguas, e dois anos de experiência profissional DEPOIS de graduado. Eu sou formada em Letras (português e inglês) e não tive problemas para tirar o visto. Ter um mestrado na área ajuda muito, mas não é essencial. Então vamos lá!
The Good
Parece até um sonho: morar num país lindo e seguro, perto da praia (e um pulinho de Dubai), conhecer e vivenciar uma cultura completamente diferente, trabalhar das 8 às 3 da tarde, tendo quase 3 meses de férias e feriados pagos por ano, passagem para o Brasil, plano de saúde, e ainda um salário de 1200 a 1500 Omani Rials (mais ou menos de 10 mil a 13 mil Reais). É bem assim mesmo, mas não vou elaborar pois só aconselho seguir em frente depois de refletir muito sobre os próximos pontos.
The Bad
Esqueçam aquelas nobres aspirações educacionais que os levaram a escolher a carreira acadêmica. O nível dos alunos é muito baixo, dificilmente eles passarão do nível intermediário. A falta de motivação é crônica, e plágio nos trabalhos é quase a norma. Na hierarquia da instituição, o aluno está acima do professor (mesmo que digam o contrário). Em nome do respeito a cultura local, espera-se uma tolerância absurda em relação a faltas, atrasos, e “ajuda aos amigos” (colar na prova). As instituições de ensino superior são pressionadas para que o maior número possível de alunos passem, o que resulta em práticas, digamos, “criativas”: Em um dos colleges que eu trabalhei, os professores seguiam o protocolo e colocavam as notas diretamente no sistema do ministério da educação, mas sem salvar. O clique final vinha só depois da chefe do departamento generosamente arredondar as notas dos boarderline (tipo, de 43 para 60). Recentemente presenciei algo ainda mais pragmático: depois de ver o desastre das notas de uma turma, a administração resolveu baixar a média para passar de 60 para 50, assim só 4 alunos reprovaram. Problema resolvido.
The Ugly
Omã é um país tranquilo e seguro, mas não deixa de ser um país islâmico do Oriente Médio. O politicamente correto não existe aqui, e ninguém faz questão de mudar nada. O salário dos professores não depende apenas das qualificações e experiência, mas também da nacionalidade. Basicamente existem 3 tabelas para professores de inglês: uma para os professores Omanis (que ganham mais e trabalham muito menos), uma para os Native Speakers (nativos da língua), e uma para os TWC (Third World Countries/Países do Terceiro Mundo), para os muitos professores da Índia, Paquistão, Filipinas e de outros países árabes.
A faixa de salário que eu citei acima refere-se aos Native Speakers (nativos da língua), mas na prática todos os meus colegas de países tão diversos como República Tcheca, Hungria, Itália, Namíbia, México e Argentina (além dos poucos Brasileiros), recebem tanto quanto os falantes nativos da língua inglesa. Essas tabelas parecem ser simplesmente uma maneira de pagar menos aos numerosos vizinhos pobres que vem trabalhar aqui. Assim, uma colega Indiana, PhD em Educação que sentava ao meu lado no escritório, ganhava menos do que o rapaz Americano que só tinha um bacharelado e um CELTA.
Além disso, nem todos se adaptam a vida em um país muçulmano. Uma lata de cerveja custa mais do que encher o tanque do carro, e só pode ser consumida em casa ou em alguns hotéis. Nada de paquerar ninguém, nada de roupa curta, e nada de criticar o governo, nada de criticar o Islamismo ou falar sobre sua religião. E se você for mulher, sair a noite e for estuprada, a culpa é sua. Ponto final.
Ainda interessados? Por onde começar:
O fórum do Dave’s ESL Cafe é o melhor lugar para pesquisar e entender a dinâmica da região pela nossa perspectiva: Dave’s ESL Cafe – Oman
Depois, vale ficar de olho nos anúncios das agências que fazem o recrutamento no Job Board: Jobs, e enviar seu currículo diretamente para as universidades e colleges.
Boa sorte!
6 Comments
Olá Paula
Eu ja morei em Oman e AMEI, estava lá como estudante de árabe e fiquei quase um ano. Tenho o CELTA e mestrado em uma universidade do Reino Unido e sempre quiz ensinar inglês por lá. Tentei e tentei por meses, mandei o meu currículo para mais de 100 lugares no Oriente Médio mas só consegui uma 3 ou 4 entrevistas que acabaram em nada. Depois entrei no Dave’s ESL cafe (que além disso já está começando a perder visitas e ficando atrasado) e simplesmente a resposta que recebi é que por não ser “nativa” não vou ter nenhuma chance de achar um trabalho em Oman ou na Arabia Saudita. Então pergunto: Como foi que vc conseguiu? esta ficando assim tão impossível?
Um abraço
Juliana, a situacao esta bem devagar aqui em Oma em relacao a empregos, mas eles aparecem. Te guaranto que nao e’ necessario ser native speaker. Estou aqui no trabalho agora ao lado de uma colega Tcheca, uma de Zimbabue e outra do Chile. Todas ensinando Ingles. O que e’ imprescindivel e’ formacao na area (seu CELTA ajuda muito, e se seu mestrado for na area de educacao, melhor ainda). Minha sugestao e’ que voce procure no Google a lista de todos os colleges e universidades de Oma, e de todas as agencias (Globnet, Tati, Al Nawa), e mande seu curriculo para todas. As vagas em Mascate sao competitivas, mas se voce nao tiver filhos vale a pena aceitar algum emprego no interiorzao para entrar no pais e adquirir experiencia aqui. Boa sorte! Precisamos de mais brasileiras aqui!
Sim, provavelmente como as vagas são tão competitivas, ter vários anos de experiência deve ser imprescindível e aí e aonde perco frente aos outros.
As agências já tentei todas elas e nunca recebi resposta. Não tenho filhos então para mim o lugar não é problema, sim entendo que quando uma pessoa já tem família fica mais difícil.
Que legal que tenha variedade de nacionalidades!
Não desiste, não, Juliana! Eles estão sempre precisando de teachers aqui 🙂
Olá Paula,
Eu e minha família estamos nos mudando para Oman.
Tenho um filho de 9 e outro de 17 que já completou o ensino médio no Brasil.
Qual o conselho você daria para o meu filho mais velho para dar continuidade aos seus estudos em Oman: entrar direto para a faculdade, fazer inicialmente um curso de extensão em inglês……?
Existem boas faculdades em Muscat? Ele tem interesse por Engenharia de Produção.
Olá Robson,
A Paula Tomazoni parou de colaborar conosco e, infelizmente, não temos outra colunista morando no país.
Obrigada,
Edição BPM