Aprendendo a dar valor com os neozelandeses.
O primeiro pensamento que tive quando pus os pés na Nova Zelândia foi: “preciso aprender como ganhar dinheiro com os kiwis”. Os neozelandeses, ou kiwis, conseguem fazer da estátua de um cachorro pastor uma atração turística de uma cidadezinha no meio das montanhas. Um bonde antigo? Ah, atração imperdível da capital neozelandesa – mesmo que o trajeto seja menor que um quilômetro.
Devagarinho fui entendendo que o país é prioritariamente turístico. Imagina ser um país composto de duas grandes ilhas, outras tantas ilhas menores, distante de tudo e de todos, entre o Mar da Tasmânia e o Oceano Pacífico? Por conta de seu tamanho e localização, o país não tem condições de ser uma grande potência comercial. Muito do que consumimos aqui, por exemplo, é importado. E, mesmo assim, a Nova Zelândia tem umas das indústrias mais desenvolvidas do mundo e faz bonito em diversos rankings globais, como o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), no qual ficou em 7º lugar em 2014 (a título de comparação, o Brasil ficou em 79º lugar no mesmo ano).
Uma das principais fontes de renda, portanto, acaba sendo o turismo e a educação para estudantes estrangeiros. Por isso, toda cidadezinha que se visita por aqui tem placas indicando as atrações do lugar e um centro de informações turísticas. Não tive como não comparar com o Brasil. Tão lindo e cheio de lugares fantásticos para visitar, mas tão pouco explorado turisticamente.
Por aqui você não perde nada. As placas indicam o que você precisa visitar, o GPS também vai sinalizando as paradas importantes e se você parar para perguntar, as pessoas sabem exatamente o que lhe dizer. Por isso, passear pelo país é uma delícia e quase viciante.
Uma vez fomos a um retiro de unschoolers (mal traduzido seria “desescolarizados”, que são crianças cujos pais optam por lhes dar uma educação em casa e fora da escola tradicional e que implica no aprendizado através do brincar, da curiosidade e de experiências pessoais e interação social, por exemplo) no sul da Ilha Norte. A viagem toda demorou umas 5 horas de Auckland, mas como temos crianças é inevitável (e imperativo) parar de vez em quando para esticar as pernas, comer alguma coisa, ir ao banheiro etc.
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Parávamos nas cidadezinhas no caminho, visitávamos o café local, dávamos uma volta e pronto, estávamos recarregados para continuar nosso caminho. Mas o gostinho de “quero mais” nos perseguiu até o fim da nossa jornada, pois com tantas atrações indicadas pelas placas era mais que natural querer voltar ali com mais tempo e conhecer as atrações locais. Por isso, comentamos incontáveis vezes: “da próxima vez, paramos aqui!”.
Fiquei pensando em por que há tantas atrações, tantas indicações de lazer e essa cultura do turismo. Um dos motivos é aquele que comentei acima: a localização e o tamanho do país. Mas acho que isso se deve também à valorização das pequenas coisas, dos prédios históricos, dos museus e monumentos, dos acontecimentos. Mesmo que o monumento seja a estátua em homenagem ao cachorro pastor ou ao inventor de uma dança no estilo Macarena. Não, não estou brincando.
E esse orgulho também é percebido em outros elementos, como o kiwi – o pássaro considerado sagrado no país. O kiwi é endêmico e, por isso, corre risco de extinção. Em vários lugares é possível encontrar santuários e leis locais que protegem esse pássaro. Ele não é muito bonito e mais se parece com uma galinha pequena, de penas duras e pés fortes, que dorme até 20 horas por dia. Não é exuberante como nossa arara azul ou colorido como o tucano, mas ele está em tudo: no letreiro das lojas, nas camisetas para turistas, nos bonecos de pelúcia e emprestou seu nome para os próprios habitantes do país.
Outro animal que esbarramos em toda esquina é a ovelha. Todos sabem que a população de ovelhas na Nova Zelândia é quatro vezes o número de pessoas, então nada mais natural que adotá-la também como símbolo e orgulho do país.
E se você acha que as possibilidades acabam por aí, se engana… A árvore chamada silver tree fern também pode ser vista em todo canto – como planta ou como impressão em chaveiros, canecas, letreiros e até no uniforme dos ídolos da população: os All Blacks, o time nacional de rúgbi. A lei também defende essa planta e se você arrancar uma sem aprovação da prefeitura, pode pagar uma multa cara!
Como paulistana, não tinha muitas referências para turistas, a não ser os marcos conhecidos de todos, como o MASP e a avenida Paulista, por exemplo. Mas ao me deparar com o orgulho dos neozelandeses é que eu me dei conta de toda a riqueza que não só São Paulo, mas todos os lugares oferecem. Basta aprendermos com os kiwis a dar valor e, ainda, a ganhar dinheiro com isso.
Saiba mais sobre as atrações que comentei aqui:
- Estátua do cão pastor (The Sheepdog Memorial)
- Bonde em Wellington (Cable Car)
- Dança do Time Warp (Riff Raff Statue) – vídeo abaixo
Fotos: acervo pessoal
4 Comments
Nossa passeando pelo seu texto , me senti um turista.
Esta minha sobrinha me enche de orgulho. Sucesso é o que te desejo – sejam felizes!!!
Cada vez que leio algo que você escreve fico orgulhosa de ter te conhecido.
Parabéns!
Amei seu blog!!! Continue postando sobre a Nova Zelândia, quero e vou fazer intercâmbio lá e tenho algumas dúvidas a respeito
Estou pensando em passar um ano no high school, vc recomenda ?
E sobre os terremotos ?