Mãe de primeira viagem na Nova Zelândia.
Maternidade! Alguém ainda acredita que toda mulher nasce com o dom de ser mãe? Porque aquela imagem de que mulher sabe exatamente como agir no pós-parto está longe de ser real. Para sobreviver essa fase tão mágica, e ao mesmo tempo assustadora, só com muito apoio psicológico, material e físico. Agora, como sobreviver um momento tão delicado quando se vive em um país estrangeiro?
No dia 2 de setembro de 2017 às 6h50 da manhã eu me tornei mãe. Foi um parto relativamente tranquilo, sem intervenções médicas, apesar dos meus muitos problemas de saúde. Enfim, ela havia chegado e, para ser bem sincera, ela era incrível, mas eu estava exausta! Algumas horas depois do nascimento, meu marido me perguntou se eu não me importaria se ele fosse para casa dormir; eu, claro, disse que tudo bem. Assim, ele pegou sua mochila e foi. Ali a minha ficha caiu de verdade… eu agora era MÃE! Cuidar de um recém-nascido que dependia somente de mim e apesar de ter um marido maravilhoso, eu me senti mais sozinha do que nunca. Hoje, eu entendo o porquê. Língua diferente, culturas diferentes e estar longe da família num momento tão sensível foram com certeza as razões principais.
Psicologicamente, meus maiores aliados nesses primeiros meses foram grupos diferentes de mães de primeira viagem no Facebook, mas também um grupo no meu bairro que eu conheci por meio do curso preparatório para o parto. Alguns canais no YouTube, por exemplo, me mantiveram conectada com outras mães que estavam passando pela mesma fase que eu. Já financeiramente, existe um ‘pacote familiar’ que o governo da Nova Zelândia paga mais de NZ$3.000 para cada filho, que você pode receber semanalmente por um ano ou de uma só vez, logo após o nascimento do bebê.
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Na Nova Zelândia, há dez anos a taxa de mortalidade entre recém-nascidos era maior que 5%. Hoje foi reduzida a 3% por causa de algumas mudanças que fizeram sobre comportamentos maternais. No país, existe uma preocupação muito grande com o bem-estar dos indígenas, os Maori, que, como todo grupo historicamente menosprezado pelo governo, precisa de mais atenção. Assim, existe uma pressão enorme de todos, médicos, enfermeiras e parteiras para que você nunca durma com o seu bebê na mesma cama e que a criança seja somente amamentada (essas são as maiores razões de mortes evitáveis entre recém-nascidos na NZ que ocorrem na maior parte entre Maori descendentes).
No segundo dia de vida da minha filha, por exemplo, ela chorava muito, e o meu leite ainda não havia chegado completamente. Então, eu disse para a enfermeira que sabia que ela estava com fome e que eu queria que ela tomasse fórmula. Naquele dia, eu tive que assinar um termo de responsabilidade para que o hospital liberasse 3g de fórmula. Eu a amamentei por 15 meses. Durante todo esse tempo, perdi a conta de quantos estranhos me perguntaram se eu amamentava ou dava fórmula, quase como uma maneira de saber em que classe social eu me encaixava.
Outro ponto foi ‘co-sleeping’. Como eu mencionei num outro texto, as parteiras têm um papel importantíssimo na verificação da saúde mental das mães neozelandesas. E sim, aqui todas residentes e cidadãs usufruímos desse direito por exatamente seis semanas de visita domiciliar pós-parto. É muito incrível ter esse apoio psicológico quando, especialmente no meu caso, a família está longe.
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As noites em claro foram extremamente complicadas e eu entendo o porquê de ter uma agenda na qual os bebês durmam bonitinhos em seus berços. Mas a realidade é muito diferente. A cada visita, a minha parteira me perguntava onde a bebê estava dormindo. Eu sempre dizia a verdade, até que a terceira semana chegou e eu nem sabia mais quem eu era, mas sabia que amamentar na cama às 3h da madrugada era a única maneira que eu conseguiria sobreviver mais um dia. Depois de uma longa conversa, um verdadeiro sermão, a parteira me pediu que tomasse muito cuidado e que a minha filha dormisse o mais longe possível de mim na cama e fim de conversa.
Assim eu me tornei mãe na Nova Zelândia. Aceitando todo apoio que pude, mas me descobrindo e tomando as minhas próprias decisões. Em vários momentos, senti-me extremamente errada, falhando como mãe, até que me toquei que existe uma cultura muito diferente entre o Brasil e a Nova Zelândia, e que agora eu teria que aceitar as diferenças em um outro nível, o de mãe. Parece óbvio, mas realmente não é. Sempre haverá pessoas com várias opiniões de como você deve viver a sua vida e como você deve cuidar da sua cria, mas só você sabe o que é melhor para si. É você quem acorda a cada madrugada para nutrir o seu filho, quem está com ele ou ela 24 horas por dia por meses e sem folga. Então, mantenha constante contato com quem lhe faça sentir segura, seja essa pessoa brasileira ou não, more ela no mesmo bairro que você ou do outro lado do mundo.