O povo armênio e os estrangeiros.
Quando vamos pra um lugar novo, seja de mudança ou só de passagem, é natural que pensemos sobre a acolhida do povo local – até porque os brasileiros são famosos por serem calorosos com todos. Quando estávamos de mudança pra Armênia, não foi diferente, e muitas vezes eu me perguntei como seria o povo armênio: se eles seriam frios e fechados, se o desconhecimento do idioma armênio e o pouquíssimo conhecimento do idioma russo seriam problemas enormes para a comunicação, se haveria um grande estranhamento por sermos brasileiros, se conseguiríamos levar uma vida normal etc.
Foi só chegarmos aqui para ver que todas as minhas preocupações eram em vão: os armênios são super calorosos e, na falta de uma definição melhor, felizes.
Desde que chegamos, ficamos muito bem impressionados com a acolhida dos armênios. Eles recebem muito bem a todos os estrangeiros, e não deixam que o idioma seja uma barreira para a comunicação: além do russo, que é língua comum entre a população por conta dos anos da União Soviética, há uma grande parte dos armênios falando inglês, principalmente os jovens, e eles querem aproveitar toda e qualquer oportunidade para treinar o idioma e desenvolver melhor suas habilidades de comunicação nesta língua. Os armênios costumam estar muito dispostos a entender os estrangeiros, a despeito do idioma: desde que haja vontade de comunicar, eles tem paciência e entusiasmo em compreender o que estamos falando, pedindo, respondendo – principalmente no meu russo paupérrimo, que poderia ser motivo de chacota mas acaba melhorando a cada vez que eu me arrisco. Além disso, o simples fato de sermos brasileiros já motiva sorrisos ainda maiores: eles adoram as novelas do Brasil (“O Clone” é um sucesso até hoje!), e há menos de 20 brasileiros no país inteiro, então não é uma nacionalidade comum por aqui.
Logo que chegamos na Armênia, vivemos um episódio interessante: estávamos procurando uma imobiliária, sob muita neve e um frio rigoroso, e ainda não éramos habituados com o sistema de numeração dos prédios em Yerevan (não posso dizer que já me habituei completamente, mas agora já compreendo melhor). Ficamos um tempão procurando o tal prédio onde ficava a imobiliária, até que decidimos perguntar para o porteiro de um dos prédios pra onde tínhamos que ir. Bem, “perguntar” é forma de expressão, porque, se hoje o russo ainda tá fraco, imagina no nosso primeiro final de semana. Enfim, o porteiro não falava uma palavra de inglês, nós mostramos pra ele o nome e o endereço, e ele não só nos ajudou como nos levou até a porta da imobiliária. Com os porteiros do prédio onde moramos, não é muito diferente: com muitos gestos, um pouco de russo e uma boa vontade enorme, a gente se entende.
Também passamos por um outro caso interessante: no dia de plantar árvores (que acontece em abril), fomos abordados por um grupo de adolescentes que, em inglês, se disseram encantadas com o Brasil, quiseram tirar foto com a gente, e uma delas disse que o Brasil era o país preferido dela, mesmo sem nunca ter ido pra lá.
Acho que deve ser natural gerar curiosidade quando se é estrangeiro, principalmente em um país pequeno. A comunidade internacional na Armênia é bem pequena: ao todo, são 26 embaixadas e 24 consulados, além de uma agência da ONU, e, à exceção das embaixadas da Rússia e dos Estados Unidos da América, a lotação destes postos é, em geral, bem baixa: no caso da Embaixada do Brasil, são apenas 4 funcionários brasileiros. Embora a comunidade internacional não se limite aos estrangeiros lotados nos serviços exteriores instalados aqui, também não é uma comunidade muito mais ampla do que isso, já que a Armênia é tradicionalmente um país de emigrantes, e não de imigrantes, com uma diáspora muito, muito maior do que a população que de fato vive em território armênio. E, embora tenha sido escolhido pela Fodor’s como um dos 10 países para conhecer em 2018, não é um destino turístico internacional muito comum. Fato é que os estrangeiros são notados com facilidade.
Enquanto ando na rua, por vezes percebo olhares curiosos: as nossas feições são diferentes dos traços locais – os armênios tem um nariz muito, muito característico, e não é um povo de grande miscigenação. Sobre a nacionalidade, também há muita curiosidade e uma certa dificuldade de entender que somos brasileiros, independentemente de eu ser branquela e meu marido ser moreno: nesta região (inclusive na Rússia), é comum haver uma distinção entre nacionalidade e etnia, e que se pergunte sobre os dois, enquanto nós do Brasil temos o costume de nos identificarmos todos como, simplesmente, brasileiros.
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A maneira de vestir também gera certa curiosidade: os armênios e armênias médios se vestem de uma maneira mais tradicional, muito parecida com aquela moda dos anos 80 (as mulheres armênias adoram usar os cabelos bem penteados, armados, cheios de fixador). No verão, por exemplo, enquanto eles andam de calças compridas sob um sol de 40ºC, meu marido anda de bermuda e eu ando de short, o que pra gente é muito normal. Não é que eu tenha notado algum olhar de condenação: a Armênia é, de fato, um país mais tradicional e conservador, mas é sim um país livre e não há nenhuma restrição quanto à vestimenta. O que eu noto é que não há constrangimento, apenas uma saudável curiosidade pelo diferente.
Aliás, curiosidade pelo diferente é o que não falta aos armênios: eles adoram saber de onde viemos, como é o Brasil, quais são as nossas tradições, pratos típicos, o que os artistas das novelas andam fazendo, falar sobre o futebol brasileiro etc. Eles realmente têm interesse pelo outro e pelas outras culturas, e amam conversar, sem pressa alguma.
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Eu amei todas as informações sobre a Armênia.O meu filho brasileiro está na Armênia.