A longevidade e a falta de cuidadores no Québec.
Devido à longevidade da população quebequense, é necessário, também, um número cada vez maior de cuidadores.
Segundo o Instituto Nacional de Saúde Pública do Québec (INSPQ), em 2011, uma em cada seis pessoas, tinha 65 anos ou mais. Se essa tendência for contínua, em 2031, teremos uma pessoa para cada quatro nessa faixa etária. Em 2011, a proporção de idosos com 85 anos e mais, era de 12% sob a população total, enquanto que em 2061 está previsto que essa percentagem aumente para 25%. As mulheres correspondem à grande maioria em relação aos homens, representando 80% das pessoas com 85 anos e mais.
Ainda segundo o INSPQ, 57% dos idosos apresentam algum tipo de incapacidade física, a maioria ligada à mobilidade e agilidade das mãos, dedos e também da audição.
Com o avançar da idade, o corpo já não se comporta como antes. A pessoa perde a sua autonomia de forma gradativa. Isso não quer dizer que todos que chegam aos 100 anos necessitem de ajuda em todas as atividades da vida diária, porém, uma parcela importante dessa população, que cresce cada dia mais, necessita de alguns cuidados mais especiais.
A perda gradativa da autonomia leva os quebequenses a buscar as residências de cuidados para pessoas idosas, que podem ser privadas ou públicas. Elas atendem o idoso e oferecem serviços de acordo com o grau de autonomia do mesmo. Normalmente as residências privadas recebem idosos autônomos e semiautônomos. O valor do espaço alugado varia de uma residência à outra. No momento em que o estado de saúde da pessoa demanda mais cuidados, o mesmo, ou a própria família, pode solicitar uma vaga em uma residência que oferece cuidados de longa duração, ou seja, até o fim da vida.
Para oferecer um cuidado de qualidade, existem as equipes de saúde que acompanham cada idoso e são constituídas por: enfermeira, enfermeira auxiliar (nível técnico no Brasil), cuidador e um médico. Além da equipe de saúde, existem os outros trabalhadores que prestam seus serviços na cozinha, limpeza, segurança, recepção, entretenimento, etc.
Os cuidados são traçados pela enfermeira e repassados para a cuidadora. Dependendo do nível de autonomia do idoso, ele receberá desde uma ajuda na hora do banho para esfregar as costas, até mudanças de posição na cama (nos estágios mais avançados devido a doenças crônicas). O cuidador é uma peça importantíssima para que esses cuidados sejam realizados de maneira eficaz. Porém, nos últimos anos observa-se um grave problema para se contratar cuidadores (préposé aux bénéficiares, em francês). Não há pessoas suficientes trabalhando neste ramo.
A grande preocupação do governo canadense é assegurar que os idosos desfrutem de qualidade de vida à medida que envelhecem. Para isso, busca-se alternativas para resolver o problema de falta de profissionais e, ao mesmo tempo, atender às necessidades dos mais velhos. Como por exemplo, buscar mão de obra qualificada em outros países ou incentivar os jovens a realizar voluntariado e evitar, dessa maneira, o isolamento social dos idosos.
Em extratos retirados de jornais de grande circulação no Québec, torna-se claro a urgência de mais cuidadores e a importância dos imigrantes para tentar sanar a situação da diminuição da população ativa no mercado de trabalho:
Canal ici.radio-canada – “Les naissances ne suffisent pas, en l’absence d’immigration, à renouveler la population. Sans immigration, la population diminuerait », constate Laurent Martel, directeur de la division de la démographie à Statistique Canada.” 3/5/2017
Tradução: “Os nascimentos não são suficientes, na falta da imigração, para renovar a população. Sem imigração a população diminuirá”, constata Laurent Martel, diretor da divisão da demografia à estatística Canadá.
Le Soleil – “Au CIUSSS de la Capitale-Nationale, on ne s’en cache pas, il manque de préposés. «À l’heure où on se parle, il nous manque 264 préposés. affirme Catherine Chagnon, aux communications du CIUSSS.” 16/3/2017<
Tradução: “No CIUSSS (Centro Integrado Universitário da Saúde e de Serviços Sociais) da Capital Nacional, não se pode mais esconder, a falta de cuidadores. ‘Nesse momento onde se fala, nos falta 264 cuidadores.’ Afirma Catherine Chagnon, do serviço de comunicação do CIUSSS.”
A imigração e o recrutamento de pessoas na área da saúde como enfermeiras e técnicas de enfermagem, traria grande benefícios para ambas as partes. Para os imigrantes, o fato de trabalhar em alojamentos para idosos oferece um convívio com os nativos, tornando a adaptação à língua e à cultura mais rápidas, ao mesmo tempo que eles podem se familiarizar gradativamente com o setor da área da saúde, podendo visualizar de perto um possível campo de trabalho após a validação dos seus diplomas. Por outro lado, a província beneficia-se da chegada de mão de obra para preencher os espaços que carecem de tal trabalhador.
A província do Québec, assim como as outras províncias do Canadá, apresenta seus próprios programas de imigração. Em Québec, o futuro imigrante passa por duas etapas para a obtenção do visto de residente permanente: a provincial e a federal.
Ao chegar no Québec, o imigrante é acolhido pelo governo através de programas de integração e adaptação à nova vida. Este é um ponto essencial para que o projeto de imigração dê certo e o imigrante continue morando na província escolhida. Afinal, mudar-se de país, mudar a rotina radicalmente, acostumar-se com outro clima e trabalhar em áreas que não equivalem diretamente ao seu nível de formação, não é tarefa fácil.
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Todo esse processo mostra-se como uma via de mão dupla, ao mesmo tempo que o Canadá (especialmente a região do Québec) precisa de imigrantes, os imigrantes buscam o que o novo país pode oferecer. Segurança e bom nível de educação está entre as características que mais chamam a atenção.
Em outubro de 2017, foi publicada uma reportagem no Canal ici.radio-canada sobre uma previsão de chegada de 53 mil imigrantes na província do Québec. Espera-se que dessa forma, os novos imigrantes possam colaborar com o crescimento e com o cuidado tanto dos que já contribuíram bastante (idosos), como dos que ainda estão por contribuir (crianças).
Termino o texto com uma frase de José Saramago para uma reflexão: “Nem a juventude sabe o que pode, nem a velhice pode o que sabe.”