Este é um assunto complicado para falar mas, vou tentar passar a vocês como me sinto aqui tendo apenas minha família sueca para contar. Para entender melhor, preciso dizer que sou casada com um sueco e moramos numa cidade pequena com trinta mil habitantes.
Ele tem três filhos (um menino de 20 anos e duas meninas de 18 e 11 anos) do antigo casamento, além de dois irmãos mais novos. Os pais são separados, mas eles vivem em harmonia. O meu marido ficou afastado da mãe por mais de uma década por manipulação da ex-esposa mas, desde que cheguei, estou “corrigindo” essa injustiça e sinto-me vitoriosa. Eu, filha única, sem filhos e de pais separados, vivia com a minha mãe, e totalmente paranoica com a minha paz e privacidade.
Já deu para entender que a parte que se refere aos filhos e à ex-esposa dele não funcionou muito bem, mas esse assunto não vou abordar muito porque respeito a menina de 11 anos que gosto e sinto muito falta (não nos encontramos há 4 meses com a tentativa de trazer harmonia a ela, o que não funcionou porque o problema é a ex-esposa tóxica).
Na Suécia, diferente do Brasil, é cada um por si. Os pais têm total responsabilidade dos filhos apenas até os 18 anos. Ademais, os pais recebem um valor do governo para ajudar a manter os filhos, e este valor passa a ser creditado diretamente aos filhos assim que eles completam 18 anos, o que significa que é bem comum os filhos saírem de casa nesta idade para irem morar sozinhos. Muitas vezes isso acontece até antes dos 18. No caso do meu marido, por exemplo, aconteceu aos 16 anos, fazendo com que ele encarasse a responsabilidade de manter uma casa sozinho já na adolescência. Pode parecer cruel, mas eu acredito que seja uma boa forma de educar o ser humano, já que ele começa a dar valor à muitas coisas mais cedo, como tomar decisões e ter responsabilidade.
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Vocês podem estar se perguntando: “Mas como eles conseguem se manter com essa idade?” A resposta é simples: além do benefício do governo quando você ainda estuda, você tem a possibilidade de fazer um empréstimo (CSN) com juros super baixos para complementar o orçamento familiar. Não existe universidade particular, basta ter boas notas no ensino médio e ter todos os requisitos para ser aceito na universidade (o que para nós, brasileiros, parece uma mamata, não é?).
Aqui é muito raro uma família se formar nos moldes tradicionais que a gente conhece no Brasil, nesta ordem: ficada, namoro, noivado, casamento, casa, filhos. Praticamente não existe “ficar” sem compromisso. As pessoas tentam se conhecer mais para ver se existe a possibilidade de namorar, é mais objetivo, não subjetivo como no Brasil. Existem exceções, claro, mas não é muito comum, e obviamente é a minha visão daqui.
É bem comum a fase de namoro ser curta, então não é raro um casal que acabou de se conhecer já ir morar junto depois de meses para testar se o relacionamento dará certo, até porque essa união é mais vista pela divisão de custos, até porque quem mora aqui, sabe da dificuldade de se achar moradia. Morar junto como namorados é chamado sambo, e já é o suficiente, inclusive, para a imigração conceder residência provisória. Eu vim como sambo para cá, mas em torno de quatro meses mais tarde, casei-me.
Muitos nunca saem da fase de sambo, e muitos têm os filhos antes do casamento, para ter mais essa certeza. No meu caso, não pretendo ter filhos e não gosto muito de protocolos e tradição, então, não segui nada e parei por aqui para curtir e fazer a minha vida.
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Um detalhe que eu queria comentar em relação a ter filhos, é que existe uma lenda circulando na internet que diz que a Suécia procura pessoas para ter filhos. Não sei onde isso começou e nem como, mas não é verdade. É muito raro ver um casal que não tenha filhos e, geralmente, cada casal tem em torno de três. A Suécia é o país que mais aceita refugiados então, por essa informação, já dá para entender que o que não falta aqui são pessoas.
A minha percepção é que aqui a família é mais constituída pelo casal do que pelos filhos, visto que eles acabam criando outra família no futuro. No caso da minha, acho que a influência brasileira fez com que juntássemos todos como uma coisa só, como fazemos no Brasil. Tenho uma relação excelente com os meus cunhados e os pais do meu marido. Não os vejo muito pois estamos muito ocupados com o dia a dia, mas sinto uma relação bem legal de família e sempre que nos encontramos sinto-me em casa.
Nestes encontros não me sinto a nora nem a cunhada, mas filha e irmã. A nomenclatura para esta relação faz mais sentido em inglês (-in-law) porque eles são mesmo a minha família sueca.
2 Comments
Como você conheceu seu marido?
Olá Yasmine,
A Helen Galan, infelizmente parou de colaborar conosco.
Obrigada,
Edição BPM