A minha gravidez e as parteiras na Nova Zelândia
Decidir ter um filho na Nova Zelândia pode trazer muitas inseguranças em relação à diferente maneira da qual o país lida com as mulheres e suas gestações.
Quando eu imaginava uma mulher grávida organizando seu pré-natal e seus planejamentos com respeito ao parto, sempre pensei na relação entre paciente-médico-hospital. Por exemplo, minha mãe teve seus três filhos por meio de cesarianas, e eu pouco tive contato com mulheres que tiveram filhos “normalmente”.
Como na maioria dos países, na Nova Zelândia existe tanto o serviço hospitalar público como o particular. No hospital público, escolher o tipo do seu parto a principio não é possível. Parto é sempre vaginal, a não ser que exista um risco de morte para mãe ou para o bebê.
No meu caso, depois de muitos anos viajando pela Nova Zelândia, eu e meu marido decidimos nos instalar em Dunedin. A cidade é a sétima mais populosa do país, situada no sul da Ilha Sul e é muito conhecida pela vida universitária e pelo turismo.
No começo de 2017, eu descobri que estava grávida por meio de um teste de farmácia e logo marquei uma consulta com a minha médica. A médica então me encaminhou para fazer 2 testes de sangue, cada um com 24 horas de distancia, só para confirmar que os níveis de hCG estavam crescendo como deveriam, e também marcamos a primeira ecografia para o que seriam 8 semanas de gravidez e só.
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A médica me ligou depois dos dois dias para confirmar a gravidez e me disse para procurar uma parteira (midwife) que eu preferisse, porque era ela quem iria me conduzir pela gravidez.
Eu fiquei em choque. Como assim não veria mais a médica? Agora eu teria que fazer entrevistas seletivas e então escolher alguém que eu não conhecia para me entregar a minha primogênita? Pense bem, essa mulher que eu teria que escolher é aquela que estaria comigo no momento mais feliz, mais doloroso e mais punk que eu já havia passado em toda a minha vida. Mas tudo bem, assim foi.
Perguntei para várias amigas sobre suas parteiras e, enfim, conheci uma senhora chamada Maureen, que me lembrava muito a fada madrinha da Cinderela. Ela havia sido parteira por décadas, e depois de conversarmos um pouco a achei bem tranquila; estilo de vó mesmo, mas talvez dura nos momentos que precisasse!
Com o tempo eu percebi que todos os resultados dos meus exames eram encaminhados para ela. Maureen organizava tudo, e com 23 semanas de gestação, ela e eu nos encontramos com o médico obstetra no hospital onde eu teria a bebê. Foi uma consulta rápida, o médico viu os exames, examinou a minha barriga e o útero, disse que estava tudo bem e se foi. Essa e a minha primeira consulta foram as únicas vezes que eu vi uma obstetra.
Já a Maureen, nós nos encontrávamos pessoalmente a cada 4 semanas até as 28 semanas, depois disso, a cada duas semanas, e com 38 semanas, a cada 7 dias. Eu sempre preferi me encontrar com ela no hospital, já que eu ainda estava indo para a faculdade que era próxima, mas ela tinha a disponibilidade de me visitar em casa se eu quisesse.
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Eu achava incrível ter uma profissional na área da saúde que estava me acompanhado desde o início da gravidez e de quem eu tinha o numero de celular “pessoal”. Eu me sentia muito acolhida por ela, e a cada vez que nos encontrávamos, minha confiança nela crescia.
Na reta final, Maureen, meu marido e eu tivemos uma consulta séria. Ela me pediu que fizesse uma lista com meus medos e, na minha opinião, como seria o meu parto perfeito. Ela fez anotações e de todos os meus “sim” e “não”, e eu hoje eu posso dizer que eu sei que ela fez o possível para que tudo corresse da maneira que eu queria durante o parto.
Na noite em que minhas contrações começaram, a primeira pessoa para quem liguei foi ela. Já era para lá de meia noite e ela muito calmamente me disse para entrar no carro e ir à maternidade, e que quando eu chegasse no hospital, todos estariam me esperando, e ela não demoraria. No hospital, fui chamada pelo meu nome pela recepcionista que me recebeu com um sorriso enorme do qual nunca me esquecerei.
Tudo isso foi sim organizado pela parteira; cada detalhe. O parto foi feito inteiramente por ela, e só uma hora depois do nascimento da minha filha, a médica obstetra de plantão veio checar se estávamos todas bem. Depois que fui liberada, Maureen nos visitou em casa por 6 semanas, não só para ter certeza de que estava bem no meu pós-parto, mas de que eu tinha apoio suficiente para cuidar da pequena.
Infelizmente, midwifery na Nova Zelândia está passando por um momento muito complicado. O número de pessoas competentes, querendo se especializar no campo, está diminuindo rapidamente, e ao mesmo tempo os profissionais estão deixando de exercer por causa dos salários baixos, da falta de zelo e de interesse em melhorar a área do governo neo- zelandês.
Com certeza é uma área médica que precisa de profissionais dispostos a trabalhar e constantemente aprender. Sinceramente, espero que num futuro bem próximo e com o interesse que a população tem mostrado em melhorar as condições de trabalho desses profissionais maravilhosos, tudo melhore.
Mais do que isso, eu desejo que todas as mães, estejam elas no Brasil, na Nova Zelândia ou em qualquer lugar do mundo, tenham alguém por perto que cuide e faça cada gravidez tão especial quanto Maureen fez a minha.
4 Comments
Amei seu relato, muito difícil obter informações sobre o parto com parteira na NZ.
Relato muito interessante.
No Brasil, tenho ouvido falar muito em Doulas.
Obrigada por compartilhar sua experiência.
Amei saber sobre o trabalho das parteiras na NZ Seria muito bom se tivéssemos esse acompanhamento aqui no Brasiĺ
Oi Larissa muito obrigada por dividir a sua experiência conosco.