Grávida na África do Sul em tempos de pandemia.
Pois é, lá vamos nós para mais uma aventura, senão a maior de todas, no continente africano: nosso tão aguardado bebê está chegando em janeiro!
Obviamente a gravidez está sendo por si só um momento único para nós, mas em tempos de COVID-19, sua unicidade se dá em diversos aspectos. Estamos em isolamento desde março para proteger a gravidez, meu esposo trabalhando de casa e eu fazendo alguns trabalhos online. Nunca passamos tanto tempo juntos, e tem sido incrível!
É triste pensar que o planejamento de ter minha mãe por perto nos primeiros meses não vai se tornar realidade, que não poderemos receber visitas, e que meu esposo não pôde participar de momentos importantes como os ultrassons. Mas, apesar das restrições, focamos em nos adaptar, e acho que estou vivendo o período mais calmo de minha vida. Temos curtido cada novidade!
Sistema de saúde
Como já dito em outros posts, eu, como estrangeira, não tenho acesso à saúde pública. A diferença de cobertura para pré-natal e pós-parto varia muito entre convênios e planos. Pelo meu plano, tenho direito a nove consultas com clínico geral ou parteira, e para ir ao ginecologista preciso de encaminhamento, porque isso é considerado especialidade! E apenas dois ultrassons 2D sem doppler são inclusos.
Como tudo que envolve serviços aqui, o processo tem sido caótico e desgastante. Eu posso me informar anteriormente, tentar me adiantar com os processos, mas sempre surge alguma surpresa desagradável… seja uma consulta cancelada sem aviso, ou algum exame que o convênio resolveu não cobrir.
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O padrão do meu convênio é eu ir ao clínico, receber o encaminhamento e pedir autorização para o ginecologista, obter autorização para a consulta, e depois as notas são enviadas para o convênio pagar e, o que negarem, eu preciso pagar. Nada de prévia de convênio.
Com relação a exames, o médico solicita e é necessário pedir autorização. Porém, o padrão aqui é já colher o sangue na clínica e por isso, muitas vezes o convênio nega o pagamento por não haver autorização prévia. É preciso muito cuidado para não ter muitos gastos extras. O stress está garantido.
Escolha dos profissionais
Os ginecologistas da rede privada possuem a mesma filosofia dos brasileiros, com percentuais de cesarianas infelizmente chegando a 90%. Há poucos que seguem a linha humanizada, mas o uso de parteiras (que são enfermeiras obstétricas) é muito mais difundido aqui. Elas trabalham em hospitais, casas de parto ou com parto domiciliar.
Morando no interior e acostumada com São Paulo, sinto-me no escuro nesse quesito. Meu convênio não cobria nenhum ginecologista aqui, por exemplo, tampouco encontrei fisioterapia pélvica e sequer doula em minha cidade! Vários acessórios, considerados mais “diferentes” só pela internet.
Inicialmente escolhemos um ginecologista indicado pelo nosso clínico e bem famoso aqui na cidade. Mas, além das diferenças culturais, conhecendo melhor o estilo dele e de como o hospital funcionava, passei a ficar desconfortável com a escolha.
Após muita conversa, meu esposo apoiou a decisão de trocarmos para uma equipe de parteiras que, infelizmente, ficam a duas horas de onde moramos, e por isso até Airbnb precisaremos alugar na reta final. Tudo em busca da melhor recepção para o filhote que está chegando!
O pré-natal
Comparando com a rede privada do Brasil, acho o cuidado aqui muito básico. Acredito que o esquema brasileiro seja um pouco exagerado, mas o daqui, deixa a desejar. A saúde segue a linha europeia, com quantidade limitada de exames, pouca prevenção e muita padronização.
Eu só consegui fazer exames adicionais porque meu clínico é muito legal e, mesmo assim, até hoje não pude medir a vitamina B12 porque ninguém quis solicitar. O que escutei uma vez e não sei se é verdade, mas que fez sentido, é que os médicos são avaliados pelos convênios também pelos exames que solicitam, e quanto menos, melhor.
Eu acho que, a partir do momento em que me disponho a pagar, mesmo que no particular, eu deveria ter o direito de fazer, mas não tem sido o caso.
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Em geral, a primeira consulta não acontece antes de 7-8 semanas. Após isso, a frequência varia de acordo com o permitido pelo convênio ou o quanto se quer pagar no particular.
Dos que visitei, as consultas variaram entre 500 e 700 Rands (aprox. R$ 170 – R$ 230, lembrando que o poder aquisitivo aqui é menor). Na consulta tiram dúvidas e medem peso, pressão e altura uterina. Ultrassons são feitos em geral com 7, 12, 20 e 36 semanas.
Os pacientes costumam perguntar bem menos do que brasileiros, e a cultura é de aceitar o que vem do médico, por isso os profissionais acabam se assustando um pouco comigo. Uma coisa que me incomoda muito é eu não receber os resultados de exames, que vão diretamente para o médico. Já estou cansada de pedir cópia e ser vista como estranha.
Rede de apoio
Como não temos família aqui, estando em isolamento e conhecendo poucas pessoas próximas e com filhos, tenho de usar bastante a cara-de-pau para pedir informações. Sou grata porque algumas colegas do meu esposo têm sido muito gentis em me auxiliar com sua experiência.
Além disso, o Facebook tem sido meu suporte local, pois os sul-africanos adoram os grupos. Para informações de parto e pré-natal, após muito fuçar, encontrei o ótimo grupo Natural Birthing South Africa.
Para apoio à amamentação, há a filial local da ONG La Leche League South Africa. Ambos possuem membros muito ativos! Para apoio mental durante a gravidez e parto, tenho acessado bastante o GentleBirth. Há o aplicativo pago que é maravilhoso, mas também bastante informação gratuita no Facebook.
Graças à internet, minha família e amigos têm podido acompanhar, como possível, a gravidez! Fazemos videochamadas, eu envio vídeos de ultrassons, compartilho fotos, etc. Tem sido uma ferramenta essencial para meu bem-estar.
Falando nas redes, acompanho muitas contas de instagram no Brasil com informações que acho úteis e tenho feito consultas online, que passaram a ser permitidas com a pandemia. Atualmente, faço acompanhamento com nutricionista, pilates e fisioterapia pelo celular!
Enxoval e brindes
Há redes grandes especializadas como Babies R Us e Baby City, assim como muitos itens são vendidos em farmácias como Clicks e Dis-Chem, na Wollies e MRPHome. Por conta da pandemia, concentrei-me no online. Fiz até uma lista de presentes no site lulla-buy.co.za, que possui milhares de itens, dá dicas de enxoval e tem um ótimo serviço de atendimento. Outra opção que usamos bastante é o takealot.com.
Por indicações de uma vizinha e amigos, eu soube onde conseguir alguns brindes para usar na mala da maternidade. Um deles foi um conjunto de amostras grátis de cosméticos da marca Bennetts para mãe e bebê. É só escrever um e-mail para o SAC, enviar algumas informações solicitadas e receber o kit pelo correio.
Outro item bem popular é a “baby bag” da Dis-Chem, uma grande rede de farmácias. É necessário ter o cartão de cliente, registrar a gravidez e gastar em torno de R$ 700 em compras. Ao fazer 28 semanas de gestação, eles encaminham a mala para a loja em que você se cadastrou. Nem iremos comprar mala para a maternidade!
Espero que minha experiência seja útil para futuras mamães brasileiras em solo sul-africano. Estamos super animados com a reta final!