Auroras boreais no Alasca
Minha maior paixão e motivo para viver nesse lugar magnífico chamado Alasca são as auroras boreais. Adoro passar as noites frias e escuras do inverno admirando e capturando imagens desse show da natureza.
Me lembro da primeira vez que vi as auroras boreais. Tinha me mudado para o Alasca em maio, no início do verão de 2001 e não possuía a menor ideia do que eram essas auroras. Uma noite, no começo de setembro, vi um show mágico e intenso. O céu se cobriu de luzes entre verde, lilás e vermelho, de leste a oeste e por todo o lado norte.
As luzes se moviam como cortinas, e de cortinas se modificaram, dançando pelo céu, se transformando como se fossem grandes fitas verdes, mudando de intensidade e velocidade. Eu estava embasbacada! Deitei na capota do meu carro para assistir ao show e fiquei ali, sem palavras, admirando o inexplicável. Até me esqueci do frio da noite naquele começo de outono, só fui reparar quando comecei a congelar de frio.
Daí para frente é história. Me apaixonei pelas auroras boreais e tudo o que sonhei era em poder fotografá-las e capturá-las mostrando ao mundo, e principalmente aos meus amigos no Brasil, a magia do céu noturno. Muitos anos como fotógrafa, e eu não tinha experiência com imagens noturnas e em pouca luz. Aprender novas técnicas e aperfeiçoar o meu trabalho para fotografar as auroras boreais se tornou um desafio que mudou a minha vida e o meu foco profissional.
Eu estou sempre à procura da imagem perfeita, e buscando por fotografar de maneira realista e da melhor forma possível a natureza sem paralelos é fascinante, porque nunca sei como será o show de luzes. As auroras boreais são sempre diferentes, nunca se apresentam da mesma forma, estão em constante mutação.
As auroras boreais (hemisfério norte) e austrais (hemisfério sul) começam no Sol, quando uma das manchas solares explode, enviando quantidades enormes de energia em direção à Terra. Chegando aqui, o vento solar (plasma do sol) é atraído pelos pólos magnéticos. Entra na atmosfera do nosso planeta excitando as partículas de oxigênio e nitrogênio, que por sua vez criam luzes. Essas são as auroras boreais/austrais e elas acontecem em torno de 80 a 200 km de altitude. Tem muito mais ciência entre o Sol e a Terra para que as luzes aconteçam, suas cores e formas, mas vou deixar essa parte para lá.
A experiência de ver as auroras boreais é o que quero compartilhar aqui. Na tradição dos povos nativos do Alasca as auroras boreais são os espíritos dos antepassados dançando no céu da noite, celebrando nascimentos ou boas caçadas; ou após um falecimento, acompanhando um novo espírito. Para a população do Alasca em geral as auroras boreais são sempre algo maravilhoso e interessante de se ver.
As auroras boreais não acontecem todas as noites como muitos pensam, ou como eu gostaria que elas acontecessem. Muitas vezes é um exercício de paciência. Mesmo com toda a ciência nunca podemos ter certeza se as auroras boreais acontecerão ou não, ou predizer o seu horário. Por isso todas as noites de céu claro e estrelado eu estou pronta para caçar luzes. Se for preciso viajo para outras áreas do Alasca procurando por céu limpo, estrelas e esperanças de auroras boreais.
Meus amigos me apelidaram de Aurora Dora e eu não poderia ter um apelido melhor. As auroras boreais e o céu noturno são a minha vida. Durante o período em que temos noite no Alasca e a possibilidade de vermos as auroras, do final de Agosto ao inicio de Maio, eu durmo durante o dia para fotografar durante a noite.
Essa busca por fotografar as luzes já me levou a muitos lugares diferentes do Alasca e a vivenciar experiências incríveis. Normalmente centralizo o meu trabalho próximo da região de Talkeetna, aonde moro. Mas o Alasca é tão grande que numa mesma noite fotografando e caçando auroras boreais posso percorrer mais de 400 km de estradas.
Muitas vezes caminho por trilhas com raquetes de neve (snowshoes), outras vezes em motos de neve (snowmobile) até encontrar o lugar perfeito para compor minhas imagens. Sempre presto atenção a possíveis encontros com os animais selvagens, observando as trilhas e pegadas deixadas na neve. Pelo menos no inverno eu posso relaxar um pouco mais sabendo que os ursos estão hibernando.
Preparação é muito importante para mim. Muitos não compreendem como eu posso ficar horas e horas do lado de fora em temperaturas que chegam à 45 graus Celsius negativos. Me visto com camadas e mais camadas de roupas, que não seriam apropriadas para um desfile de moda, mas isso não me importa. Equipamento de extremo frio e preparação para mim são sinônimos de sobrevivência.
Há alguns anos atrás eu estava sozinha fotografando no meio de um lago, quando de repente o gelo quebrou debaixo de mim, me derrubando na água gelada. Foi um choque! Choque térmico e de adrenalina. O único pensamento na minha mente era “eu tenho que sair daqui”, “eu tenho que sair daqui”. Depois de tentar me firmar e me erguer para fora da água colocando um dos meus joelhos acima do gelo, isso não funcionou. O gelo continuou quebrando todas as vezes que eu tentava me puxar para fora da água. Era tão frio que estava se tornando difícil respirar, e ficando cada vez mais difícil de pensar. Um último “eu tenho que sair daqui” foi muito mais forte. Usei o tripé com a minha câmera ainda conectada à ele, para distribuir o meu peso e deslizar pelo topo do gelo para fora da água. Assim que saí da água minhas roupas congelaram instantaneamente se tornando sólidas como pedra. Do meio do lago, aonde estava, até a margem e segurança do solo firme não sabia se corria ou andava. Que aventura!
O que mais me recordo dessa noite foi esperar pelo momento perfeito para capturar uma das minhas fotos prediletas, “colourful winter night”. Cada uma das minhas imagens tem a sua história. Poderia passar dias contando todas elas. Mas escrevendo esse texto confirmei o que eu já sabia: é impossível descrever as auroras boreais. É como descrever o inexplicável acrescentando cores, energia e no meu caso amor.
Eu amo o que eu faço!
18 Comments
Dora! Que trabalho maravilhoso! Até me emocionei vendo suas imagens! Pretendemos ir ao Alasca em 2016 e adoraria trocar algumas ideias para pode apreciar um pouco deste céu maravilhoso! Parabéns pelo lindo trabalho!
Muito obrigada Monica! Voce vai adorar o Alaska. No que eu puder ajudar com informações daqui pode contar comigo.
Meu Deus, deve ser realmente mágico presenciar esse fenômeno, que como disse e é verdade, tem muita ciência por trás! Imagino todas as aventuras que passou. E que susto cair em água congelante! Que sufoco! Toda aventura tem seus riscos. Adorei o texto! Baci
As auroras sempre me levam a novas aventuras… e riscos 😉 Obrigada pelo comentário Carla. Beijos
Muito obrigada por nos “presentear” com imagens tão bonitas! A natureza é mesmo fan-tás-ti-ca! 🙂
Lyria, adoro poder compartilhar as belezas das auroras. Concordo completamente com você, a natureza é fantástica!
Lindo! Assustador!! Maravilhoso!! Lindo trabalho!
Muito obrigada Joy!
Vc é fantástica e suas fotos me permitem estar em contato com Vc. Bjs
Silvinha querida, muito obrigada! Beijos
Dora, que espetáculo suas fotos! Adorei o texto e sua paixao pela fotografia e pelas auroras boreais transbordam ao longo do texto. É muito bacana ( e raro) encontrar pessoas realmente apaixonadas pelo que fazem. Parabéns! Beijos 🙂
Bom saber que consegui transmitir a paixao pelo que faço e o meu amor pelas auroras no meu texto. Muito obrigada Fernanda. Beijos
Que fantástico, Dora. Adorei o seu texto e é claro suas fotos que mais se parecem uma pintura em um quadro. A natureza é realmente maravilhosa. Parabéns pelo seu trabalho!! Beijo 🙂
Obrigada Simone! A natureza é o máximo e aqui no Alaska é o que não falta. Beijos
Adorei, fotógrafa sensacional! Parabéns!
Obrigada Luciana!
Nossa que privilegio !! , parabéns pelo seu trabalho .
Matéria espetacular…Amo demais esse lugar magnífico da Terra chamado Alaska ????