Cheguei na Eslováquia – e agora?
Um belo dia decidi me aventurar indo para a Eslováquia, através de um intercâmbio profissional de um ano, organizado por uma ONG bem bacana que promove o intercâmbio de jovens mundo afora, seja com trabalho voluntário, ou com trabalho remunerado.
Confesso que não conhecia muito sobre o país para onde eu estava indo, mas decidi me mudar, mesmo assim, para a segunda maior cidade da Eslováquia, chamada Košice. O que para nós, brasileiros, é considerado pequeno, para os eslovacos morar em um lugar com um pouco mais de 200 mil habitantes já é considerado morar em uma metrópole.
Chegando lá, fui descobrir que a pechincha que meu contato da ONG havia me dito que seria meu apartamento, era, na verdade, o preço para ficar em um alojamento de estudantes, onde eu deveria compartilhar quarto com mais outra menina.
Esperei aquela hospitalidade brasileira, mas o que encontrei mesmo foi um dormitório em que ninguém falava inglês, não se importando se os estrangeiros não os entendessem. Era bem do tipo: “meu país, meu idioma e minhas regras”. Além do mais, tive que me acostumar a ficar sem a chave do meu quarto por mais de uma semana, já que a pessoa responsável pelas chaves estava de férias e ninguém mais as tinha. Ou seja, vivia constantemente assustada com a possibilidade de que alguém entrasse ali, principalmente quando a minha colega de quarto não estava presente. E falando nela, foi um tanto interessante a nossa comunicação, já que ela não falava inglês, nem eu eslovaco. Vocês devem conseguir imaginar como era complicado explicar que ela deveria limpar o banheiro de vez em quando!
E a barreira do idioma foi se multiplicando, dessa vez, na burocracia que eu deveria resolver: abrir minha conta bancária, por exemplo (pelo menos você pode contar com agências bancárias abertas até às 21h, e aos finais de semana, quando localizadas dentro de um shopping center); ir na Polícia dos Estrangeiros dar entrada na minha identidade; fazer meu seguro saúde e comprar meu cartão mensal do transporte.
Claro que me esforcei para aprender o básico do idioma, mas não foi fácil. A língua eslovaca é completamente diferente do que eu já havia visto anteriormente, e se em línguas latinas as vogais estão sempre presentes, em idiomas eslavos as consoantes prevalecem. Por conta disso, estive sempre muito presa a ter colegas ou contatos da ONG, para que me ajudassem a entender o que até mesmo a polícia de estrangeiros – que não havia pessoa sequer falando inglês – queria de mim, quanto à documentação necessária (o que não foi pouca).
Porém, não só de desafios uma vida é feita. Fui descobrir que eu havia ido parar em um país em que a cerveja era mais barata do que a água! Além do mais, eu estava próxima a uma natureza espetacular e à famosa cadeia de montanhas chamada Tatras.
E para quem gosta de viajar, a Eslováquia, no geral, está muito bem localizada, sendo bem rápido de se chegar aos países vizinhos. Na região em que estive, chegar à Ucrânia, Polônia e Hungria era questão de três horas apenas. Por isso vivia indo para Budapeste – uma cidade onde o fervo acontece –, com exposições maravilhosas em seus museus e gente do mundo inteiro viajando por lá.
Também aproveitei para conhecer bastante a região onde estive na Eslováquia, que, como disse, conta com belezas naturais inacreditáveis. Outro aspecto charmoso eram os chalés de madeira, e as cozinhas tradicionais eslovacas que preparam um halušky* como ninguém.
Ainda pouco conhecida pelos estrangeiros, é aconselhável viajar pelo leste da Eslováquia com alguém local para evitar situações difíceis, por conta do idioma.
Claramente, eu recomendaria às queridas brasileiras a irem buscar por uma aventura fora do nosso país, ou até mesmo fora dos países “óbvios”. Não é fácil: você morre de saudades da família, dos amigos e de falar seu idioma (ou no meu caso em Košice, de conseguir encontrar alguém disposto a falar inglês comigo); os sistemas de cada país serão sempre diferentes uns dos outros; não é sempre que você será aceita de cara pelos locais, lembrando que questões como a temperatura do país podem ser importunas.
Em Košice, os invernos podem chegar a -25 graus. Você também tem que se acostumar com hábitos completamente diferentes dos seus. Por exemplo, os eslovacos gostam de almoçar às 11h-11:30h; acham estranho alguém escovar os dentes no trabalho ou depois das refeições, e em todo almoço e jantar, tem que ter aquela sopa aguada antes do prato principal!
Hoje me pego lembrando o dia em que cheguei neste pequeno país e vejo o quanto amadureci e aprendi com todas as dificuldades e coisas novas que pude vivenciar. E como os obstáculos podem ser vencidos, acabei ficando na Eslováquia o triplo de tempo do esperado e planejado, tendo feito muitos amigos, conquistas profissionais e várias viagens por uma região linda, porém um tanto quanto esquecida, ainda, da Europa.
*Halušky – prato típico das regiões leste e central da Europa. São parecidos com o famoso gnocchi italiano, mas feitos de água e farinha. Na Eslováquia, adicionam por cima um queijo local, com bacon e cebola. Uma delícia!
2 Comments
Quando vc morou na Eslováquia trabalhou com o que? Como conseguiu trabalho?
Olá Isabella,
A Ana Carolina Pertot, infelizmente parou de colaborar conosco.
Obrigada,
Edição BPM