Existe um período na vida que diminuímos o ritmo, deixamos de brigar por qualquer coisa, na maioria das vezes usamos a calma ao invés da folia, observamos mais que falamos e temos sabedoria para administrar os entraves que outrora seria resolvido com muito grito e pouca poesia.
É um tempo de reflexão para muitos, de analises e mudança, quando ainda acreditamos ter tempo para restabelecer laços, vínculos rompidos, resolver magoas e pendências afetivas antes que nosso tempo se esgote aqui nesta dimensão.
As marcas do tempo são inevitáveis, o olhar cansado, a pele sem brilho, os cabelos mais ralos, os esquecimentos, a solidão as mudanças no peso e na alma muitas vezes faz parte de um processo que denominaram envelhecer.
Quando somos jovens vivemos com tanta sofreguidão, que parece ao terminarmos de sorver esta taça de bebida tão valorizada , que, nem sentimos o gosto como deveríamos. Só depois aprendemos na idade madura que a vida, como uma taça de um bom vinho deve ser degustada devagar sorvendo cada gotícula da iguaria que nos é presenteada pelas videiras do tempo. Aprendemos tardiamente que ele é inexorável, e que ele passará também pra nós e enfim, quando nos damos conta vemos que temos que nos acostumar os nossos ouvidos com o titulo que os netos nos trazem junto com suas dobrinhas, seu sorriso que derrete nosso coração , o de vovó. Mas as vovós de hoje, não são como as de antigamente, muitas estão na estrada, mochila nas costas, fazendo cursos e ou fazendo coisas que a juventude não permitiu.
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Em Portugal, os idosos estão nas ruas, nas praças, seja conversando com as amigas nos cafés em todas as horas dos dias, com o parceiro (quem os tem ) ou não, e as viúvas, muitas delas tradicionalmente se vestem todas de preto ainda, como víamos nas fotos ilustrativas.Cuidam dos netos e respondem a altura quando são ofendidas pelos homens, sendo parceiros de vida ou de trabalho. No inicio eu estranhava pois eles falam muito alto quando bravos, mas com a mesma rapidez que se enervam se acalmam.
São críticos e politizados, estão atualizados, talvez por lerem bastante, os livros estão em todas as partes pra quem quer comprar, até nos supermercados e correios. Cobram muito de seus governantes as promessas feitas, os serviços públicos mal feitos e cobranças indevidas ou não explicadas.Os aposentados tem direito a férias, décimo terceiro e décimo quarto salário, tem direito a lazer e desporto por conta do bairro em que vivem.
As famílias estão em todos os lugares, jovens e idosos acompanhando os programas que fazem parte da mesma. Muito comum vê los todos fazendo passeios e indo a praia juntos. Mas por outro lado, os idosos não autônomos, com os mais jovens trabalhando muitas horas no dia, são levados aos abrigos ou chamados lares.
Portugal é um pais envelhecido, onde os jovens se foram a procura de melhores salários, pra outros lugares e os que ficaram tem poucos filhos, mas algumas taxas tem mudado. Nasceram mais bebês, ufa! Um aumento que ronda os 1,4% (mais 1107 “testes do pezinho” entre Janeiro e Novembro de 2018) e que serve apenas para compensar o decréscimo que se tinha verificado em 2017.
Mas porque eles tem tantos idosos longevos?
Se considerarmos outros países europeus Portugal não é um dos países que trata bem os seus idosos, mas tendo como parâmetros os indicadores brasileiros vemos que são muito superiores aos do Brasil. Em Portugal vemos idosos aproveitam a vida, são participativos na sociedade em que vivem e no que diz respeito a saúde publica por aqui ela realmente funciona. Os centros de saúde, pelo menos nas pequenas cidades, atendem bem, os médicos de família te olham nos olhos, te examinam, e o custo é muito baixo,(5 euros) novamente comparando com o Brasil e os exames médicos também tem preços bem acessíveis. Com uma alimentação a base de peixes e frutos do mar e pouca carne vermelha os portugueses ainda contam com um índice reduzido de sal e açúcar nos alimentos, vinho e o azeite, freqüentes nas refeições que permitem a ingestão de gordura boa e resfenol constantemente fazendo com que muitos vivam ate os cem anos e alguns ultrapassando essa marca.
Enquanto isso vemos todos os dias, levas de aposentados brasileiros chegando e começando vida nova por aqui. Mulheres sozinhas, divorciadas, viúvas, com filhos ou não, que atravessam o oceano e vem desbravar a Europa em busca de um espaço onde se possa andar livre e tranquilamente, só se preocupando com o vento nos cabelos e o sol no rosto. Aqui nos extasiamos com coisas simples que no Brasil não podíamos nos dar ao luxo de admirar. Nos deslumbramos com uma simples ida ao supermercado apreciando as ondas do mar sem medo de assaltos, piqueniques nos parques, sem falar no acesso a lugares e paisagens nunca imagináveis.
Adentrar em beco da cidade muitas vezes nos permite revisitar o tempo, os livros de história, os filmes já vistos, os calendários com fotos coloridas, só que agora para nossa alegria, fazemos parte do cenário.
Não somos mais figurantes, somos protagonistas de uma nova historia, que pretendemos escrever todos dias, com novas tintas e novas imagens.
Trazemos uma bagagem que vamos descarregamos devagar pelo caminho, em cada pedra que topamos, em cada praia que nos banhamos. Deixamos a tensão, a correria do dia a dia, o medo, a violência, a insegurança que assola nosso pais, tudo, ao sabor do vento.
Cremos que Portugal , apesar da saudade do Brasil, é nosso porto onde fincamos âncora agora, um lugar onde podemos nos sentir acolhidos, onde somos acarinhados ate pelo nosso sotaque “brasileiro”,onde experimentamos outros sons e outros sabores, outras paisagens e outros amores, onde recomeçamos a cada dia deixando um outro tempo, outra idade, outra vida pra trás fazendo do momento presente a vida que antes não ousáramos sonhar.
Vamos nos arriscando a novos caminhos, nos entregando à novas aventuras, e reescrevendo nossa historia colocando literalmente o pé na estrada assim quem sabe o acaso ou o universo nos coloque no exato ponto aonde se deu e nem vimos ,o inicio do fim de nossa juventude, e possamos recomeçar com mais sabedoria este novo tempo.