Como é morar na Suazilândia.
Sawubona (saudações)! Vivemos uma grande aventura e mergulhamos de cabeça, apesar de não por muito tempo.
Eu, meu marido e dois filhos pequenos (4 e 1 ano, respectivamente) viemos de Curitiba para a África para dedicar-nos por um tempo de voluntariado e missões.
Atualmente moramos na África do Sul, mas por 2 meses estivemos no Reino de Eswatini, já ouviu falar? Hmm… talvez pelo nome antigo seja mais fácil, Suazilândia, conhece? Tudo bem, confesso que eu também não conhecia.
Eswatini ou Suazilândia?
Eswatini (nome em suazi) é um dos menores países da África, um antigo protetorado inglês que, após conquistar sua independência, se tornou monarquia absolutista e assim o é até hoje, a última do continente.
Por esse motivo além do suázi, o inglês também é um idioma oficial do país.
Ficamos hospedados no povoado de Buhleni, com uma linda paisagem de savanas, montanhas e plantações de milho.
Este pequeno e desconhecido país nos surpreendeu em muitos aspectos, o primeiro deles foi o povo Suazi que apesar de um pouco tímido é muito acolhedor com estrangeiros, tranquilo e bem humorado.
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A vibe do país é tão boa que logo que chegamos, meu filho mais velho perguntou se poderíamos morar ali para sempre…
Meu marido também se encantou e cogitou continuar mesmo por lá. (Segundo ele, ainda cogita voltar!). Eu também gostei bastante, mas passando a empolgação inicial, tive um certo choque cultural.
Morar na zona rural significa não ver pessoas diferentes por um bom tempo. Não tem vizinho passando na frente de casa, não tem shopping, a paisagem apesar de linda é sempre a mesma.
Também preciso considerar que estávamos dividindo uma casa de aproximadamente 50 m com uma família suíça com 4 filhos, com quem nos demos muito bem , mas imagine 10 pessoas sendo 6 crianças pequenas vivendo totalmente fora da sua zona de conforto. Talvez nas cidades maiores o sentimento fosse diferente, mas a verdade é que foi demais pra mim.
Conhecendo Eswatini
Outro ponto relevante é que Eswatini é um país tribal, com a população maciçamente Suazi e Zulu. Quando andávamos na rua éramos quase que atração turística, riam para (ou da?) gente e tiravam fotos. Nossos pequenos eram abordados com curiosidade. Com o passar do tempo, ser o centro das atenções a cada saída não era muito confortável.
Como mulher não tive problemas, apenas alguns ajustes culturais como não mostrar as pernas por ser vulgar (usava saia longa), mas nada que me fizesse sentir insegura.
A mulher suazi é muito respeitada , especialmente a mãe (Mague). E não é por menos, elas costumam ser responsáveis pela casa, filhos, plantação e o que mais precisar.
Elas trabalham duro e muito cuidando de tudo enquanto os maridos trabalham fora, ou procuram emprego, ou simplesmente perambulam meio desorientados sem muita perspectiva.
Alguns também procuram oportunidades nos países ao redor como África do Sul e Moçambique, mas nunca retornam.
O país também é um dos mais pobres do continente, mas é uma pobreza diferente da que estamos acostumados, praticamente não se vê moradores de rua por exemplo. As casas em geral são muito simples mas feitas de concreto e todas num mesmo padrão.
Arquitetura, cultura e costumes
A arquitetura suazi é interessante. Tradicionalmente uma mesma casa parecem 4 casinhas menores: uma para o casal, uma para os filhos, uma para a cozinha e outra para fazer as refeições e reuniões de família. A latrina também fica separada, quando se tem. Geralmente, a casa das refeições é arredondada e com o
teto de capim, o ambiente mais fresco já que no verão a temperatura costuma ficar próxima dos 40 graus.
Cada casa também conta com um terreno espaçoso onde se pode plantar (não plantam com muita variedade, é basicamente milho e batata doce), criar animais como galinhas, bodes e vacas. Pelo país todo vemos muitos bodes e vacas caminhando livremente pelas ruas. Chega a ser engraçado. O gado também é usado para o pagamento do lobola (dote exigido para que uma mulher se case).
O lobola é uma tradição muito forte em várias culturas africanas e não é visto como machista. Na verdade, na interpretação local, é uma forma de valorizar a mulher e selecionar um marido que será capaz de a sustentar. Ele é realizado pelo futuro marido à família da mulher pretendida e o preço fixo é de 15 vacas, ou o valor equivalente. Esse valor também pode ser parcelado se previamente combinado entre as famílias, já que além do lobola, o futuro marido também precisa construir sua casa no terreno dos país.
As dificuldades
Existe muita corrupção no país, mas não pagar o dote é um crime que certamente será penalizado.
O HIV é um grande problema por lá também, principalmente pelo acesso insuficiente ao tratamento. Como consequência, existe um grande número de órfãos.
A informação que nos passaram é que por lei, a família estendida deve se responsabilizar por eles pois não é permitido construir orfanatos ou abrigos, mas na prática acabam ficando por conta.
Durante nosso tempo lá estivemos em alguns pontos de alimentação para órfãos, um projeto muito lindo da missão em que participamos que oferece refeições para aqueles que perdem seus pais e acabam ficando sob a tutela de algum parente que não tem condições.
Também visitamos uma casa que foi reformada com a ajuda de uma missão estrangeira para irmãos que viviam sem teto, sem água, sem alimento e sem apoio da família.
A maioria das casas não tem mesmo água encanada, é normal vermos pessoas coletando água em riachos e mesmo poças. Uma outra forma efetiva de se ajudar a população de lá é construindo poços e cisternas.
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Visitamos alguns também que nos foram apresentados como verdadeiros tesouros da comunidade.
Se descrevermos a realidade da vida no interior de Eswatini em detalhes parecerá muito dura para os nossos padrões, mas ainda assim as pessoas de lá são alegres, gostam muito de cantar, dançar, passar tempo juntas, sem muitas preocupações e sem pressa. “Vocês tem o relógio mas nós temos o tempo”, foi o que ouvimos de um amigo que fizemos por lá.
Viver em um país de extrema pobreza sem dúvida exige cabeça a
berta para entender a cosmovisão e prioridades diferentes (quase todos tinham aparelhos de celular, por exemplo). Também exige uma boa dose de empatia pra tentar enxergar pela perspectiva local, entender que muito do que para nós é absurdo é a vida normal para eles e quem precisa se adaptar somos nós.
Poderia escrever muito mais sobre o dia em que quase fui picada por um escorpião rei, ou quando encontramos um príncipe, sobre as danças tradicionais e quando ganhamos galos vivos de presente, mas vou deixar pra uma próxima, que tal?
Se você quiser conhecer um pouco mais sobre o país para morar ou turistar, fico a disposição!
Um grande abraço e até mais!