Fazendo amigos na África do Sul
Oi gente!
No artigo passado escrevi um pouco sobre nosso processo de adaptação na África do Sul e as primeiras amizades que fizemos por aqui. Também contei um pouco sobre a cultura Xhosa, a mesma de Nelson Mandela.
Nesse texto contarei um pouco sobre a cultura Afrikaneer e como tem sido para nós ter amizade com pessoas desse povo.
Amigos afrikaners: conhecendo o “lado branco da África do Sul”
Na mesma igreja onde conhecemos nossos amigos Xhosa, conhecemos um casal de idade parecida a nossa. Eles, assim como nós, estavam apenas de visita, mas foi “amizade à primeira vista”.
Alguns dias depois nos reencontramos num evento da cidade. A conversa se desenrolou num convite despretencioso pra um café. Descobrimos que ele poderia nos ajudar com o idioma e, pouco a pouco, que ele era afrikaneer e ela russa.
Os afrikaners são descendentes de holandeses e têm como língua materna o afrikaans, muito parecido com o holandês por sinal. Uma cultura igualmente forte, mas completamente diferente da Xhosa.
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Ele é formado em Letras, atuando como professor de idiomas, fluente em pelo menos 5 e arranhando mais uns 4 que eu saiba. Ela cursou Jornalismo na Rússia.
Eles se conheceram em Israel, namoraram à distância, se casaram e decidiram mochilar pela África Austral morando em uma barraca e pedindo carona até descobrirem a primeira gravidez. Moraram por um tempo na Rússia e retornaram para cá há um ano.
Ambos têm um ótimo senso de humor e liberdade, características marcantes da cultura Afrikaner. Eles nos acolheram completamente e têm nos apresentado uma outra perspectiva das coisas.
O jeito afrikaner de ser
Aqui na região onde estamos, existem muitos vinhedos e fazendas de Afrikaners. Eles tem essa pegada mais rural no jeito de se vestir e de se relacionar. Não se importam muito com o que as pessoas vão pensar: andam descalço no shopping (não estou falando apenas de crianças) e, independente do frio, os homens gostam muito de usar bermudas, bem curtinhas por sinal.
Se não estão descaço ou de chinelos, estão de botina. Mini bermuda, botina e camisa xadrez, cabelo despenteado e barba por fazer? É afrikaner, certeza!
Os africaners também amam crianças e as criam com muita liberdade. Para nós latinos, às vezes, pode parecer até desleixo. Por aqui, criança pode ser criança, não existe aquela pressão por um comportamento perfeito. Podem se sujar, comer terra, escalar, quebrar coisas, cair e está tudo bem.
Eles são extremamente solícitos, nos incluem em seus planos, compartilham ideias, nos ensinam sobre a história do país, diferenças culturais com muito respeito e empatia.
O tempo juntos sempre passa rápido, conseguimos ter boas conversas. Eles são bem pacientes com nosso sotaque brasileiro. Perguntam sobre o Brasil e se esforçam para aprender algumas palavras em português também.
Além disso, gostam muito do lazer ao ar livre, trilhas, escaladas, acampamentos rústicos. Até nos convidaram para acampar nas montanhas junto com outros amigos e foi a primeira vez que levamos nossos filhos para uma experiência assim.
Similaridades com o Sul do Brasil
O senso de comunidade muito forte, pode lhes conferir a imagem de “fechados”, mas se você é recebido por um deles, é como se passasse a fazer parte da família também.
A cultura Afrikaner é um pouco mais próxima da nossa do Sul do Brasil, considerada mais fria,. Talvez isso tenha facilitado nossa identificação e aproximação.
A África do Sul é um país com bastante diversidade. Quem sabe, com o passar do tempo,tenhamos oportunidade de desenvolver boas amizades também com Coloureds, Indianos e Ingleses e outros imigrantes que vivem por aqui.
Antes de nos mudarmos pra cá, lia relatos de muitas pessoas que enfrentaram dificuldades para desenvolver boas amizades em um novo país. Me preocupei e orei muito para que não nos sentíssemos sozinhos.
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A verdade é que amizades custam. Precisamos estar vulneráveis. Precisamos ter a maturidade de saber que muitas vezes não seremos compreendidos (literalmente), que a cosmovisão será diferente, os valores, as expectativas… Algumas portas estarão fechadas e não deveríamos gastar energia nos esforçando demais para as abrir.
Quando mudamos a perspectiva e em vez de esperar por sermos acolhidos nos dispormos a acolher, perceberemos que em todos os lugares existem pessoas que estão em uma nova fase de vida, ou estão em busca de amigos, ou pessoas que tem os mesmos propósitos que nós.
Após 7 meses morando em Worcester posso dizer que estamos adaptados, nos aculturando na diversidade tão marcante do país, amando as pessoas que Deus tem colocado em nossos caminhos e sonhando em viver ainda mais intensamente cada dia por aqui.
Fazer amizades verdadeiras em um novo país não é sempre fácil, espero de coração que meu relato possa trazer algum ânimo e quem sabe ajudar a clarear as idéias para atitudes intencionais que facilitem esse processo.
Um grande abraço!