A música na Suazilândia.
Não é segredo que os povos africanos, em geral, têm uma relação profunda com a música, uma bela extensão vocal e um gingado parece vir no DNA. Não é diferente com os suázi. Em Eswatini – Suazilândia, apreciamos esses talentos de pertinho, e assim como nos filmes, as nossas melhores lembranças de lá têm trilha sonora.
Como comentei em textos anteriores, os suázi têm tradiçōes culturais que apenas o próprio povo pode conhecer e eles protegem sua cultura com fidelidade. O que sabemos é o que podem e querem compartilhar. Como a música e a dança são uma expressão bem presente, não é de se surpreender que homenageiem seu rei, através dela, em eventos festivos.
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A dança mais famosa provavelmente seja a Reed Dance, “Dança do Junco”. Essa dança faz parte de Umhlanga, uma cerimônia que acontece na Residência Real Ludzidzini, e que visa honrar a rainha mãe, o rei e a cultura suázi, assim como promover a virgindade e a unidade entre as mulheres do país. Nela, meninas e mulheres cantam e dançam músicas tradicionais e constroem uma cabana para a rainha. O evento dura em torno de uma semana e é privado, mas por dois dias é aberto, a fim de promover o turismo cultural no país.
Também tem a Sibhaca, uma dança masculina em que se usa o tambor para energizar os homens que, por sua vez, dançam simulando caça, lutas e que demonstram sua força, especialmente através de um movimento intenso de pernas no som exato do tambor, como se chutassem a própria testa e logo em seguida pisassem forte no chão. Tivemos a oportunidade de assistir a uma representação dessa dança, organizada por estudantes que se preparavam para uma competição da mesma.
Em ambas as danças vestem roupa tradicional, que é uma saia típica, com alguns adereços; e normalmente com o peito descoberto.
Momentos Marcantes
Lembro que quando pensei que nossos vizinhos estavam ouvindo música num volume mais alto, estranhei; visto que normalmente eram reservados. Fui até a janela para conferir e percebi que era “ao vivo”, com um teclado na varanda e umas quatro ou cinco pessoas cantando harmoniosamente. Minha família toda é de musicistas. Modestia à parte, herdei um bom ouvido; por isso, acredite, quando digo que em geral eles cantam muito bem. Eles também não se incomodam de ensaiar a mesma canção por horas a fio, sem deixar de se divertir.
Música e Religião
Nas igrejas dos vilarejos em que participamos, a música é parte essencial do programa. Antes das boas-vindas se canta até que todos estiverem prontos. Se o silêncio se prolonga, logo alguém começa a cantar e é acompanhado pelos demais. As músicas, em geral, têm letra simples e repetitiva. Alguém canta primeiro, às vezes meio que falando. Depois, os demais, repetem, ou respondem com a próxima sentença. Se é uma música que a maioria gosta, saem dos seus lugares e começam a dançar, também.
Aqui, gostaria de ressaltar que, para eles, a dança é uma expressão natural, assim como bater palmas, fechar os olhos em outras culturas. Não há malícia nem na quebrada do quadril e isso fica bem perceptível para quem vem de uma cultura latina como a nossa. A ginga também é mais de ombros, mãos e joelhos; a expressão do rosto complementa o movimento. O corpo todo se expressa.
Uma segunda experiência marcante foi quando, junto a uma colega americana e outro brasileiro, fui convidada para cantar algumas músicas “internacionais” com um grupo de locais. A arte tem esse poder de aproximar as pessoas. Enquanto cantávamos, criamos uma boa conexão e parecia que nos conhecíamos há muito tempo, nos olhávamos e sabíamos quando abriríamos em vozes, ou retornaríamos para a estrofe anterior. Não vimos o tempo passar.
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Outro episódio inesquecível foi o de um domingo, no qual nosso grupo foi convidado a ir para a frente, em uma igreja pequena e acolhedora, onde desenvolvemos atividades voluntárias por uma semana. Mulheres e crianças, em fila, nos trouxeram os melhores presentes que poderiam nos dar: galos e galinhas vivas, vegetais frescos… um verdadeiro banquete! Enquanto cantavam, dançavam e nos abraçavam. Foi muito emocionante! A canção dizia “Siyabonga Jesu, siyabonga!” Siyabonga significa obrigado e foi a primeira palavra que aprendi em siswati, de tanto que a ouvi. A gratidão é uma virtude que os suázi conhecem bem.
Conhecer a Suazilândia é uma experiência intensa e maravilhosa. Se você tiver oportunidade, não fique em dúvida, passe por lá e com certeza trará na memória muitas lindas imagens e também muitos novos sons!