De Dubai para Zurique
Em 2014, deixei o Brasil com apenas duas malas, sem passagem de retorno e muita vontade de explorar o mundo. Estava prestes a iniciar uma fase que, definitivamente, mudaria a minha vida para sempre. Tinha 27 anos, acabado de finalizar uma pós graduação e trabalhava na área de Marketing numa multinacional, porém, sentia que ainda precisava viver outras experiências.
Aos 21 anos, morei alguns meses em Salt Lake City, nos Estados Unidos, e aquilo não tinha saciado a minha vontade de conhecer melhor outras culturas.
Comecei a pesquisar sobre países onde poderia fazer um intercâmbio e como tenho uma grande amiga que mora na Austrália, essa era minha escolha! No entanto, próximo a data da viagem, decidi somente por curiosidade, participar do processo seletivo de uma companhia aérea com sede em Dubai e, para minha surpresa, fui aprovada! Os planos mudaram! Ao invés de morar na terra do canguru, iria morar na terra do ouro e dos arranha-céus!
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Antes do conhecer verdadeiramente um lugar, criamos muitos estereótipos e sonhos. Livros, filmes e documentários nunca nos farão entender as verdadeiras vertentes que envolvem a mudança de país.
Morei em Dubai por 3 anos e 8 meses e foi lá que conheci meu esposo, a razão que me fez mudar de Dubai para Zurique.
Quando visitava o Brasil e falava que morava em Dubai, era motivo de grande surpresa! As perguntas que sempre vinham à tona eram se eu precisava cobrir o cabelo e se havia muito machismo. A primeira pergunta não era difícil de responder, pois quem já visitou Dubai sabe, que apesar do calor intenso, por respeito à religião, é recomendado usar roupas um pouco mais comportadas, porém, os Emirados Árabes têm expatriados de diversos países do mundo e isso influenciou muito na aceitação e flexibilidade em relação ao modo de se vestir, o que reflete também nas opções de entretenimento, como bares, clubes, praia, etc.
Falar de machismo é um pouco mais complicado, pois envolve questões culturais e religiosas. Por ter vivido lá por alguns anos, consegui entender um pouco, mas não concordar, com a mentalidade e a complexidade da posição da mulher na sociedade muçulmana.
Os Emirados Árabes são um estado confessional, ou seja, a religião islâmica é reconhecida oficialmente pelo Estado e as leis são baseadas nela. Lindas mesquitas estão por toda parte e, cinco vezes ao dia, pode-se ouvir nos alto-falantes o cântico solemne que convida à oração.
Não fiz nenhum amigo nativo dos Emirados Árabes, mas morria de curiosidade de saber como era a vida dentro daquelas casas gigantes e o relacionamento entre as famílias.
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Prédios gigantes, luxo, poder de consumo, ostentação, mármore, dourado, perfumes e temperos, pessoas de toda parte do mundo, água do mar quentinha, pôr do sol inesquecível, tempestade de areia e calor escaldante durante o verão: são as coisas que mais me vêm à cabeça quando penso em Dubai.
Por causa do meu trabalho, viajei para mais de 60 países e incontáveis cidades e me senti extremamente grata por cada lugar desse mundo que pude ver com meus próprios olhos. Aprendi também a conviver com a solidão, a me virar sozinha, a cozinhar refeições para somente uma pessoa, conheci cheiros, sabores, lugares que nem no meu mais distante sonho poderia imaginar.
Engraçado que eu sentia que sofria bastante quando estava em Dubai e, hoje, me vem sempre à memória coisas lindas, momentos únicos. É realmente incrível essa capacidade que nossa mente e coração têm em se restaurar e trazer para memória instantes selecionados e positivos de experiências passadas.
Mas colocando em perspectiva, a vida em Dubai não é tão perfeita, como muitos pensam. Geralmente, as pessoas se mudam para Dubai para passar apenas uma temporada, o que dificulta manter amizades. Um dos grandes atrativos do país é que o governo oferece tax free, e claro, é muito bom receber um salário bruto sem se preocupar com impostos. O custo de vida, em geral, é relativamente alto. Comer bem, comprar alimentos saudáveis e morar em bairros mais centralizados custa caro, já abastecer o carro é bem barato.
No verão, não há opções de programas outdoor. Com temperaturas que ultrapassam 50 graus, só é viável sair de casa de carro, ou táxi para ir ao shopping, ou lugares com ar condicionado. O que torna os meses quentes, que vão de maio até outubro, muito maçantes.
Quando decidi me mudar para Suíça, imaginava que seria mais tranquila a adaptação do que realmente está sendo, pois o lugar é organizado, limpo, as pessoas são educadas e serviços públicos funcionam. Mas, para minha surpresa, após apenas alguns dias morando em Zurique, comecei a me sentir um pouco triste. Me mudei no início do inverno e os dias escuros e frios, fizeram meu nível de energia e vontade de fazer coisas fora de casa, caírem muito.
As barreiras que sempre enfrentamos ao decidir mudar de país, são as mesmas em qualquer lugar: Fazer amigos, encontrar um trabalho, aprender a língua local, se adaptar ao jeito das pessoas, aprender sobre os costumes locais, lidar com a saudade e a solidão.
Quando estava em Dubai, sempre tive certeza de que voltaria para o Brasil, por mais que tivesse dias difíceis, aquilo sempre me pareceu provisório, porém, ao me mudar para Zurique, a sensação foi totalmente diferente. Apesar de não sabermos do futuro, senti que vim para ficar, pelo menos por bons anos.
Tem duas coisas que realmente gosto na Suíça: ter muitas opções de alimentos orgânicos no supermercado e poder beber água diretamente da torneira. Além disso, as inúmeras possibilidades de atividades esportivas -, como esportes na neve, trilhas em cenários espetaculares, andar de bicicleta, pois o trânsito é totalmente preparado para ciclistas-, fazem a qualidade de vida e o cuidado com a saúde, serem parte do cotidiano.
Praticamente todo o lixo é reciclado e percebo também que existe uma consciência em relação ao consumo excessivo. Como os salários são altos, o custo de serviços profissionais também são, neste caso, diferentemente de Dubai, ter uma diarista, ou mesmo ir ao salão de beleza, torna-se mais raro. Localizada no centro da Europa, morar na Suíça também oferece oportunidades maravilhosas de viajar ao redor do país! Em menos de três horas de carro, chegamos na Itália, Alemanha e França, sem contar que a beleza natural do país e, principalmente, das montanhas, já é de tirar o fôlego.
Hoje vejo que não importa onde eu vá morar, sempre sentirei saudade da minha família, sempre terá coisas novas para ajustar e situações que nos fazem crescer e aprender, e meu coração sempre será brasileiro.