O dia que o Texas congelou.
Olá! Algo muito inesperado aconteceu este ano no Texas. Embora estejamos quase na metade do ano, gostaria de compartilhar essa experiência com vocês: fomos pegos de calças curtas em uma semana congelante em fevereiro. O inverno no Hemisfério Norte começa um pouco antes do Natal e termina em março, exatamente quando o outono se inicia no Brasil.
O território texano é constituído por imensas áreas desérticas, onde cactos prosperam e cascavéis vivem confortavelmente. Ah, lembrando que as vezes venta tanto que os cabelos ficam – literalmente – em pé.
As cidades mais próximas a costa Atlântica, como Houston, são úmidas, tem inverno ameno e sofrem com chuvas torrenciais e potenciais furacões no verão. Já no norte e noroeste, as temperaturas vão aos extremos; verões escaldantes e invernos gelados mas neva pouquíssimos dias.
Com a sogra no closet no dia que o Texas congelou
O mês de fevereiro ainda é frio, mesmo no sul. No entanto, este ano iria ser um pouco diferente dos anos anteriores. Uma frente fria Polar era esperada no Texas. Saber disso com antecipação ajuda muito e assim evitamos de dirigir, pois as estradas no sul não são tratadas devidamente como as da região norte.
No domingo dia 14 de fevereiro – dia de São Valentim ou o dia dos namorados – esteve muito frio e à noite, ficamos sem energia. Minha sogra estava passando uns dias comigo; ela tem 77 anos. A calefação – ao menos onde morávamos – é a base de eletricidade. Esperamos a segunda-feira inteira e nada. Terça-feira, a novela continuou.
Tínhamos comida, mas que precisava ser aquecida, ou preparada. O carro tinha muita gasolina, mas era perigoso dirigir, principalmente se o carro é pequeno. A temperatura dentro do nosso apartamento era -13° C. Já andávamos com cobertores, dançávamos ou pulávamos para ficarmos aquecidas.
Na esperança de sermos socorridos
Na terça à tarde tivemos uma hora de energia, suficiente para esquentar comida. Esperávamos que a temperatura fosse melhorar um pouco, mas todos os dias nevava mais um pouco. Temperatura permanecia baixa.
Usávamos o carro para nos aquecer, abastecer o celular e dirigir um pouco pela vizinhança. A nossa volta o visual era lindo, mas logo a neve cedeu espaço para o gelo e aí ficou muito perigoso. Vimos nas notícias que um dos senadores viajou para Cancún para se livrar do congelamento.
Enquanto isso nós, que não pudemos sair, continuamos na esperança de sermos socorridos. Comíamos o resto de comida fria mesmo – que maravilha que tínhamos, né! – e tudo que pudéssemos comer e ter calorias para queimar. Depois passávamos dormindo para não gastá-la. Chegou a ficar insuportável.
Estava ficando muito confusa, já não pensava com clareza e tudo que queria era ficar embaixo dos cobertores. Vimos que o condomínio vizinho teve luz a maior parte do tempo. Na quinta-feira de manhã já tínhamos dormido mais de 12 horas e não queríamos levantar. Minha cunhada – que mora do outro lado da cidade – chamou a polícia para saber se estávamos vivas. Então, me dei conta que ela tinha mandado textos naquela manhã. Através de uma comunidade do Facebook, ela pode encontrar um bom-samaritano que nos socorreu.
Inverno como esse ocorreu há 10 anos
Nossa história teve um final feliz. Para muitos foi muito pior. As temperaturas baixíssimas congelaram encanamento que depois estouraram com a força da água. Vários condomínios e casas até agora estão lidando com problemas. Vizinhos se aglomeraram em um ônibus por um mês. Outros tinham eletricidade mas não tinham água, outros nenhum dos dois.
Quem teve eletricidade durante este período, acabou com um conta altíssima para pagar, por exemplo $17 mil dólares. O governo estatual já anunciou que essas contas devem ser pagas pois a culpa é do consumidor que não leu o contrato antes de solicitar o serviço.
Muita coisa veio a tona e mostrou o quanto o cidadão está vulnerável em situações como essa. O Texas é o único estado da federação que escolheu um sistema totalmente independente, portanto, não pôde emprestar eletricidade de outros estados.
O governo texano optou por não preparar o sistema para temperaturas muito baixas pois custa caro. Politicamente, o estado se defendeu dizendo que a culpa era das hélices eólicas, que representa 10% do fornecimento de energia no estado inteiro. Esse é o mesmo sistema, utilizado nos países baixos e nórdicos e têm funcionado muito bem lá.
Que lição aprendemos?
Durante a tempestade, os residentes se ajudaram na medida do possível, supermercados doaram compras e quase tudo voltou ao normal. Essa tempestade não é um evento único e ponto final. Queiramos ou não, podemos perceber que o tempo está se comportando diferentemente de antes. Tudo indica que into acontecerá novamente.
Como preparar-se:
Primeiramente, pense que você vai acampar por tempo indeterminado e quais são os itens necessários para sobreviver.
– Ter sempre na dispensa comida de fácil conservação, que requer cozimento mínimo ou nenhum. Por exemplo: beefjerky (carne seca), atum, ervilha, milho em lata, creme de amendoim (rico em calorias e proteína), etc.
– Garrafa térmica, essas que mantêm a bebida quente ou fria por 24 horas.
– Carregador de telefone a luz solar.
– Lanternas.
– Cobertores de acampamento.
– Roupas impermeáveis.
– Lenços umedecidos.
Esse investimento básico pode salvar sua vida. Outra opção para quem planeja investir mais e comprar um gerador. Atualmente existem para todos os bolsos.
E finalmente, prestar atenção ao que consumimos. O único jeito de colaborar para a saúde do planeta e consumir menos, mesmo que o minimalismo não se encaixe na filosofia de vida de todos, temos que repensar o que é realmente essencial.
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