A maior parte dos brasileiros, quando pensa em esportes na Austrália, pensa no surfe. Realmente, tem muita gente que surfa por aqui. Mas tem ainda mais gente que anda de bike com frequência. A impressão que temos é que ciclismo e corrida são as atividades mais praticadas no dia a dia. Também não é pra menos: a cidade é linda, bastante plana, segura e tem muita infraestrutura para quem gosta de pedalar. E além de tudo, como já comentei em outros posts, tem sol praticamente o ano inteiro, então o clima tá sempre agradável (tirando nos dias que faz 40 graus!)
Tem todos os tipos de ciclista por aqui: famílias com pais e filhos pedalando juntos, pais com crianças mais novas sendo “rebocadas” em trailers específicos para isto, pessoas indo e voltando do trabalho, gente que só quer dar um passeio para relaxar, gente mais dedicada que pedala dezenas de km todos os dias e também atletas profissionais, treinando para a próxima competição.
Perth tem dezenas de quilômetros de ciclovias (dedicadas para bicicletas onde você fica completamente afastado dos carros); e mais outras dezenas de ciclofaixas (aquelas na beira da rua, perto dos carros, demarcadas com tinta). A “malha” de ciclovias e ciclofaixas é bastante extensa, e é melhorada a cada ano. Por exemplo, você consegue ir de Mandurah, uma cidade vizinha a 70km ao sul do centro de Perth, até o extremo norte de Perth só usando ciclovias, sem nem passar perto dos carros. E estou falando de mais de 100km de distância! Elas estão ao longo dos rios que cruzam Perth, na beira da praia, paralelas às principais avenidas e linhas de trem, e atravessando parques.
Se você gosta ou pretende ir ao trabalho de bicicleta (como eu fiz por um ano), Perth te dá várias alternativas. Dependendo da distância, você pode ir de casa até o trabalho sem descer da bike. Se for mais longe ou se você não quiser se cansar tanto, você pode até entrar nos trens da cidade com sua bicicleta (desde que não seja no horário de pico). Há várias estações de trem com “estacionamentos” trancados para você deixar sua bicicleta. Então você pode pedalar até a estação, deixar a bicicleta lá, e pegar o trem pro resto da distância. Além disto, várias empresas incentivam o uso de bicicleta e oferecem infraestrutura para quem quiser ir de bicicleta. A empresa onde meu marido trabalha, por exemplo, tem vestiário com chuveiro e armário para deixar roupas e lugar para guardar as bicicletas. Ele consegue deixar a roupa do trabalho no armário com antecedência, ir de bicicleta, tomar um banho quando chega e colocar a roupa limpa e não amassada já que não precisa levar na mochila. Uma mão na roda!
Para quem prefere pedalar em montanhas, a região de Perth Hills é um prato cheio. Fica dentro da cidade, a uns 20-30km do centro. Lá você pode andar tanto de Road Bike (bicicletas para estradas) nas vias asfaltadas quanto de Mountain Bike (para trilhas) nas ruas de terra e trilhas. E existem várias trilhas! A própria prefeitura de Perth, assim como as associações de ciclistas daqui, dão várias dicas de onde ir, com diferentes níveis de dificuldade dependendo da sua forma física e espírito de aventura! Recomendam trilhas que crianças também podem fazer, quais as distâncias e tudo mais. A mesma coisa para as ciclovias e ciclofaixas. No site do Departamento de Transporte eles tem informações sobre onde elas estão, quais os passeios recomendados e tudo mais.
Além do dia a dia, Perth tem muitos eventos para quem gosta de andar de bicicleta. Ao longo do ano, têm vários eventos em que você pode pedalar por diferentes partes da cidade em que a organização fecha ruas, avenidas e até a Freeway (o equivalente às Marginais em São Paulo ou as Linhas Vermelha e Amarela no Rio). Fecham para os carros e elas ficam exclusivas para os ciclistas. Nestes eventos você geralmente paga uma taxa de inscrição que quase sempre é para juntar dinheiro para alguma causa relacionada à saúde (contra a asma infantil, esclerose múltipla ou câncer de mama, por exemplo), escolhe a distância que quer percorrer (tem distâncias curtas com 3 a 5km para famílias com crianças até distâncias longas como 90-120km para os mais aficionados, passando por tudo no meio do caminho) e vai pro passeio. A organização é muito grande, com ruas fechadas, estações com água no caminho, ambulâncias a cada trecho caso alguém se machuque ou passe mal e trens de graça para você voltar pra casa depois, inclusive com sua bicicleta. Sempre muito divertido tanto pelo passeio quanto para ver todo o tipo de pessoa que se junta nestes eventos para se exercitar. Senhores e senhoras com mais de 60-70 anos, famílias com crianças, grupos de amigos às vezes até carregando caixa de som e ouvindo música enquanto passeiam, profissionais passando por você numa velocidade absurda e dando a impressão que você está parado… Tendo a oportunidade, é um passeio que vale a pena.
Mas nem tudo são flores, como em qualquer lugar. Existe bastante roubo de bicicleta por aqui, como em qualquer lugar do mundo. Como as bicicletas não tem documentação ou placa, é muito difícil recuperar. Eu tenho mais de um amigo que já teve a bicicleta roubada. Na frente da universidade, deixadas em estações de trem (mas não naqueles estacionamentos trancados) e até de dentro de casa. A regra é tomar cuidado e não dar bobeira de parar em qualquer lugar (mesmo com cadeado) e, se você tiver uma bicicleta mais cara, fazer um seguro. Se você curte muito bicicleta, sabe quão cara uma bicicleta de fibra de carbono pode custar, então fazer um seguro é quase obrigatório!
Mas tomando os devidos cuidados, a diversão é garantida!