Achei interessante escrever sobre esse assunto, pois acredito que muitas pessoas que vivem há pouco tempo na Alemanha ou aquelas que têm interesse no país, desconhecem o termo Kevinismo. Primeiramente, a escolha do nome do bebê é dos pais. Entretanto, o cartório civil (Standesamt) pode negar o registro se o achar necessário. Não é permitido, por exemplo, qualquer nome de marca de produto ou loja, que comprometa a reputação da criança (insulto), bíblico com histórico negativo (Cain, Judas etc.) e com a escrita errada. É possível dar nomes compostos, mas o limite é de cinco. Sobrenomes também não podem ser usados como primeiro nome. Em todo caso, o cartório pode se negar na hora do registro da criança, e os pais devem pensar em uma alternativa.
Mesmo com essas regras do cartório civil, os pais na Alemanha têm tido cada vez mais imaginação na hora de escolher um nome para seus filhos. A intenção é de ser algo único ou raro. Nem sempre a consequência é boa. Esse fenômeno de dar um nome estranho ou exótico para os filhos recebeu a denominação de Kevinismo ou Chantalismo (uma referência ao nome feminino Chantal). O termo, que ainda não faz parte do dicionário Duden, tem uma conotação preconceituosa de classe social baixa.
Como em todos os países que posso pensar nesse momento, a Alemanha também tem diferentes classes sociais e preconceito entre elas. Os nomes exóticos como Kevin e Chantal são frequentemente escolhidos por pais com renda mais baixa. O que isso quer dizer? Bem, nome é só um nome, pelo menos na minha opinião, mas a população alemã encara isso de maneira diferente. Digamos que o nome apresenta um peso social. Pessoas com os nomes exóticos, como os dois mencionados, enfrentarão, desde a infância, o preconceito.
Leia também: Choque cultural na Alemanha
A tese por trás do preconceito
Já está claro para a sociedade alemã que os alunos chamados Kevin sofrem preconceito de colegas e professoras, obtendo, inclusive, notas mais baixas. O nome tem uma má reputação. Os Kevins são vistos como crianças com problemas de aprendizado e educação, assim como as Chantals. Outros nessa lista são Justin, Mandy, Peggy, Cindy, Jacqueline, Cedric e Angelina. Li que uma professora disse que Kevin não é nome, mas uma diagnose (Descrição detalhada que define e caracteriza uma espécie).
A tese de sociólogos é que pais de baixa renda procuram nomes de classe mais alta para melhorar a sua condição e os procuram em sociedades com bom padrão de vida, como os Estados Unidos.KF
Há um site na internet que cria o seu nome exótico com um “Chantalisator”. Para criar o seu, clique aqui.
Na vida adulta, os Kevins e as Chantals também podem enfrentar dificuldades para conseguir um emprego, na hora de enviar seus currículos. A inteligência dessas pessoas já é “avaliada” antes mesmo de conhecê-las pessoalmente.
Nomes antigos são a nova moda
A tendência no país agora é dar nomes alemães antigos. Alguns dos mais escolhidos são Sophie, Emma, Paul, Maximiliam, Elisabeth, Charlotte, Jakob, Karl, Oskar, Anton e Marie. Cada vez mais pais alemães pensam em dar os nomes de seus avós ou pais em seus filhos. Dessa maneira, o nome passa a ser original, já que atualmente ainda não são muito comuns.
Leia também: Tudo que você precisa saber para morar na Alemanha
Mas quais foram os nomes, em geral, mais escolhidos em 2017? A lista ficou assim:
Meninos: Ben (1°), Leon (2°), Noah (3°), Louis (4°), Paul (5°), Jonas (6°), Henry (7°), Felix (8°), Elias (9°) e Finn (10°)
Meninas: Emma (1°), Emilia (2°), Mia (3°), Hannah (4°), Sophia (5°), Lina (6°), Mila (7°), Ella (8°), Marie (9°) e Leni (10°)
Kevin e Chantal não estão entre os 100 nomes mais populares de 2017 na lista do Baby Center.
Nomes exóticos proibidos e aceitos
Como mencionei anteriormente, a escolha dos nomes é dos pais, mas a última palavra é do cartório. Consegui encontrar online uma lista de nomes escolhidos por pais, mas que foram proibidos. Alguns exemplos são: Lenin, Fanta, Atomfried, Satan, Judas, McDonald, Lord, Gucci, Whisky. Meninas também não podem ter nomes masculinos, como Paul, e vice-versa.
Por incrível que pareça, algumas pessoas dão nomes muito exóticos e que são aceitos. Nas certidões de nascimento desses bebês constam: Pepsi-Carola, Ikea, Apple, Schneewittchen, Leonardo da Vince Franz, Popo, Dee-Jay etc.
Questão de gosto e responsabilidade
É claro que na hora de selecionar um nome para o bebê, os pais devem pensar se ele pode causar algum constrangimento futuro. Às vezes, o nome escolhido é estrangeiro e nem a própria criança consegue falar claramente ou escrevê-lo no início da alfabetização. As alterações na escrita, com mais consoantes do que necessárias ou com Y em vez de E ou I, nem sempre deixam o nome mais bonito. O simples pode ser chique (e mais fácil).
Kevin ou Chantal, não importa. O valor de cada pessoa não está no nome, mas é importante selecionar com cuidado e responsabilidade.