Conforme prometido no meu primeiro texto para o blog, agora vou contar como foi a minha experiência durante o mestrado em Biotecnologia na University of Essex no ano acadêmico de 2009/2010.
O projeto do mestrado começou 3 anos antes em 2006, visto minha experiência na graduação, eu procurei analisar a grade do cursos de cada universidade do meu interesse para ver qual que seria a mais adequada.
Em janeiro de 2007 cheguei a visitar algumas dessas universidades durante minhas férias na Inglaterra e pude sentir como as coisas funcionam por aqui. Depois que me formei na licenciatura em 2009, entrei de cabeça no projeto do mestrado, mandei toda a documentação necessária para 6 universidades e Essex sempre foi minha primeira escolha, visto a grade do curso com um enfoque biológico e pela posição no antigo ranking acadêmico do RAE (Research Assessment Exercise). Além disso, queria uma universidade que fosse fora de Londres para poder me dedicar aos estudos de maneira integral e poder curtir o país no meu tempo livre.
Quando cheguei por aqui, por mais que já tivesse visitado o país anteriormente e com bastante conhecimento da cultura britânica, era a primeira vez que saía da casa dos meus pais. Eles sempre valorizaram a educação como um bem essencial e na ausência de bolsas na minha área, foram se programando ao longo dos anos e deram o máximo para me ajudar a realizar o meu sonho. Só que o sucesso nesta empreitada dependia única e exclusivamente de mim nas questões sob o meu controle.
Nas minhas primeiras semanas, o desafio foi me acostumar com a diversidade cultural da universidade (são mais de 130 diferentes nacionalidades no campus!) e com a intensidade da semana de recepção aos calouros (Freshers’ Week). A universidade dispõe de um centro de apoio ao estudante (Student Support) no qual diversos serviços de graça são oferecidos, entre eles apoio psicológico (wellbeing) no qual entrei em contato obtive ajuda de maneira efetiva quando precisei (outro fator que pesou na escolha da universidade).
Em Essex, o mestrado tem dois períodos (ou terms) nos quais você tem as disciplinas obrigatórias e as optativas para fazer. Um dos pontos fortes do curso foi a disciplina de Gene and Protein Technology, no qual a parte prática é baseada em dois mini-projetos de pesquisa para serem estudados ao longo de vários experimentos relacionados entre si e reportados de maneira conjunta no formato de artigo científico.
Já nas aulas, tive disciplinas que tanto da pós ou em conjunto com os alunos da graduação. Para alguns pode parecer estranho, mas visto que vários alunos da própria universidade resolvem engatar um mestrado depois, eles tem a opção de fazer módulos complementares à sua formação.
Em ambos os casos, são aulas de 50 minutos ou duplas, no qual o assunto é abordado de maneira como se fosse um guia de estudo e cabe ao aluno cuidar do restante em casa. Em termos da avaliação, eram trabalhos em forma de ensaios teóricos (essays) com 2000 a 3500 palavras (ser conciso é lei na educação britânica) sobre um dos temas abordados em sala de aula em mais profundidade. Foi um grande desafio me adaptar ao estilo de avaliação se comparado ao formato brasileiro calcado em provas, mas no final do processo achei extremamente válido.
No Brasil estamos acostumados a fazer provas, e tive duas durante as férias de Natal. Você é obrigado(a) a estudar todo conteúdo da disciplina em profundidade, já que um deles será escolhido para cair na prova,meio que loteria. Provas dos anos anteriores e simulados ajudam a você se direcionar na hora de estudar.
No último período do curso, você tem o projeto de mestrado, com duração de 3 meses. A escolha do orientador(a) depende de um formulário que você preenche contando sobre o seu histórico escolar, suas áreas de interesse dentro das oferecidas pelo departamento e suas aptidões que deseja explorar. No meu caso, dei sorte em pegar a minha área prioritária e fui parar num laboratório de bioquímica de proteínas bacterianas. Trabalhei no meu projeto das 9 às 6 da tarde durante a semana (finais de semana eram proibidos) e meu orientador era bastante disponível, me ajudando bastante ao longo do processo.
Ao contrário do Brasil, não tive uma defesa da dissertação, mas sim uma conferência interna no qual todos os alunos apresentaram seus trabalhos como pôster e apresentação oral, além de organizar o evento. Isso foi bastante interessante em termos de aprendizado de competências e habilidades que independente do caminho profissional no futuro, são de grande valia.
Foi durante o projeto no laboratório que tomei a decisão de continuar e encarar o doutorado por aqui, 100% no laboratório, sem disciplinas/provas/monitoria compulsória para a graduação…100% pesquisa e aprendizado diário.
A tentação era muito grande, eu tinha me adaptado super bem ao modelo educacional britânico e com um mestrado forte nas mãos, então resolvi encarar o desafio do doutorado.
Mas isso é assunto para os meu próximos textos aqui para o blog!
Leia mais sobre a Inglaterra: Tudo o que você precisa saber para morar na Inglaterra!
3 Comments
Inspirador! 🙂
Oi Tatiana, parabéns pelo seu post! Vc ainda está em Essex? Estou indo para aí começar meu LLM em outubro/2017 e gostaria de saber como as coisas funcionam na Universidade. Como faço para te contatar? Abraço
Daniela, a Tatiana parou de colaborar conosco. Por questões de privacidade nos reservamos a manter em sigilo as informações pessoais das colunistas. Entre em contato com a universidade, talvez eles possam indicar um grupo para troca de informações, ou você pode usar o Google ou procurar grupos de universitários estrangeiros em Essex nas redes sociais.
Boa sorte,
Equipe BPM