Para nossa família não há nada de espantoso em comemorar Natal e Ano Novo no Uzbequistão, pois desde 2011 moramos em países de maioria muçulmana e estamos acostumados a celebrar as festas de fim de ano do nosso jeito. Geralmente participamos de festas nos condomínios, com os amigos estrangeiros residentes no país. Esse ano, aqui vai ser do mesmo jeito, estamos preparando uma festa no nosso condomínio estrangeiro, onde a maioria dos residentes é britânica.
Aquelas celebrações tradicionais que normalmente são realizadas durante o Natal em países de origem cristã ocorrem aqui no Uzbequistão durante o Ano Novo. Este feriado foi introduzido ao povo Uzbeque juntamente com a adoção do calendário gregoriano, no final do século XIX pelos russos, quando o país ainda fazia parte da antiga União Soviética. Desta maneira, o povo Uzbeque utiliza os mesmos símbolos da Rússia, sendo o principal uma árvore verde decorada, mas os locais não a associam à comemoração do nascimento de Jesus, nunca foi algo religioso. O país é predominantemente muçulmano, com uma história de 70 anos de ateísmo soviético. A maioria dos cristãos é ortodoxa e celebra o Natal no dia 7 de janeiro.
Celebrando o Ano Novo
O dia de ano novo é uma das celebrações mais aguardadas por todos. É celebrado por todas as famílias e normalmente em Tashkent, a capital do país, é colocada uma grande árvore verde na praça principal, brilhando com luzes e guirlandas. Exatamente à meia-noite de 31 de dezembro, com as 12 badaladas do relógio central, chega o tão esperado Feliz Ano Novo Uzbeque. O dia 1 de janeiro é feriado. Nesta praça, nos dias seguintes são celebradas algumas comemorações, incluindo o Avô Frost e sua companheira Snow Maiden que são nomeados em Uzbeque como sendo Korbobo e Korkiz, e outros personagens de livros infantis.
O Ano Novo do Uzbequistão é um feriado verdadeiramente familiar, à mesa, os parentes e amigos se reúnem, relembrando de tudo de bom que aconteceu no ano anterior e, sob os sinos, dançam e cantam o ano novo que está nascendo. Fogos de artifícios e outras atividades de festas habituais são também comuns. Eles também organizam um banquete onde o prato principal é uma melancia, simbolizando que o próximo ano será bem sucedido e feliz. Como em algumas culturas, aqui eles costumam comer 12 uvas como forma de esperar prosperidade no novo ano. Algumas pessoas se reúnem em restaurantes ou boates, onde são organizados shows especiais.
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De acordo com o site Vatican News, existem apenas cinco igrejas católicas em todo o Uzbequistão e uma comunidade católica bem pequena, com cerca de 350 fiéis, 11 sacerdotes e um bispo, também há 10 irmãs de Madre Teresa de Calcutá. Apesar de ser bem pequena, é uma comunidade ativa que mantém o batismo e a catequese, bem como encontros bíblicos em cursos para formação espiritual. Os poucos cristãos no país celebram o nascimento de Jesus Cristo, enquanto a maioria da população sabe muito pouco ou nada do seu significado.
Quando o Uzbequistão estava sob o domínio soviético, todas as tradições religiosas, sejam cristãs ou muçulmanas, foram negligenciadas. O regime atual, com medo do terrorismo islâmico, limitou a liberdade religiosa e mantém uma vigilância rigorosa sobre todas as religiões.
Para a mídia Uzbeque, a religião não existe e raramente é mencionada. O Natal não é diferente, e quando mencionado, é desprovido de aspectos religiosos e só é tratado como algo comemorado em todo o mundo. Símbolos e decorações de Natal, como os encontrados na Europa ou nos EUA, adornam as ruas das principais cidades do Uzbequistão.
Nas escolas, sendo elas estrangeiras ou locais, é proibido comemorar Natal e algumas outras datas festivas como o Halloween, pois no país existe a “política de restrição às influências estrangeiras”. Entretanto, árvores de Natal e outras decorações já estão disponíveis em diversas lojas da cidade.
E o gostoso clima natalino?
Geralmente as festas de final de ano são marcadas pela confraternização entre famílias, e para nós seria impossível passarmos junto de nossas famílias, uma vez que meu marido é da Nova Zelândia e eu brasileira, nossas famílias estão separadas por oceanos, sendo assim somos gratos pela tecnologia que nos ajuda a matar um pouco a saudades que nos aperta.
Aqui não sentimos aquele clima natalino espalhado pela cidade, mas por outro lado, temos a oportunidade de criar nossas próprias tradições, experimentar novidades, fazer coisas diferentes daquelas que estávamos acostumados a fazer no Brasil. É muito bom ter essa liberdade de descobrir novas possibilidades e portanto, aqui estamos, esperando por mais um Natal e Ano Novo em um país na Ásia Central, com belezas e magias que ainda estamos descobrindo.
Desejo a todos um Natal harmonioso, comemorando a vida e espalhando amor pelo mundo. Renovando a esperança de que o ano de 2020 traga muitos dias felizes e prósperos.