O que esperar quando se espera?
Parece uma pergunta confusa, talvez ambígua, porém o que foram e serão os próximos meses senão esperar!
Na verdade o verbo esperar faz parte de nós desde os primórdios. Esperamos meses para nascer, para sentar, para comer, para caminhar, para falar.
Continuamos esperando a resposta daquela garota quando a convidamos a sair. Esperamos os resultados da prova do vestibular.
A ligação da área de recrutamentos para aquela vaga esperada. Ser reconhecido profissionalmente e assim poder planejar (e esperar) a compra da casa.
O que esperar quando se espera?
Esperamos ansiosos o eterno caminhar da amada até chegar ao altar. Esperamos e assistimos aos filhos crescerem e claro, esperamos os netos. Esperamos o tempo passar e se possível com saúde e prazer. Até que esperamos a morte chegar.05
Enfim, a nossa vida é um eterno esperar!
Mas, se acrescentarmos a nossa espera outras letrinhas, teremos outro símbolo que permeia a humanidade atual: a ESPERANÇA (ou seu antônimo).
Então este texto é sobre esperar com esperança. O que muitos fizeram em 2020 e o farão ao iniciar um novo ano.
Por onde anda a esperança?
No meio de tantas notícias difíceis; no meio de tanto esperar, a voz da esperança foi perdendo a sua força. Por muitas vezes deixamos de ouvi-la ou a ignoramos.
Olhando o nosso entorno, pareceu até que a esperança estava ausente. De uma semana para a outra a rotina do mundo inteiro mudou.
O escritório virou a sala, a rua virou a varanda, os encontros viraram telas, os abraços… Bom, esses estão suspensos por um tempo.
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Mas acreditar na esperança é não desistir! É saber das nossas limitações e continuar a ver a realidade como ela nos apresenta, sem os óculos cor de rosa.
Manter a esperança é olhar para si, é se permitir sofrer, chorar, ter medos, inseguranças e angústias. É pedir ajuda e é também acolher. Manter a esperança é errar, mas continuar a buscar caminhos para fazer dar certo. É tentar, persistir. Ter esperança é amar!
A esperança requer uma certa perseverança — acreditar que algo é possível mesmo quando há indicações do contrário. E o último ano testou em demasiado a nossa crença de perseverar.
“Se você sente que sabe como obter o que você quer da vida, e você tem a vontade para fazer isso acontecer, então você tem esperança.” (Jennifer Cheavens).
A esperança é diferente do otimismo, que é uma expectativa generalizada de que coisas boas irão acontecer. A esperança envolve ter objetivos, juntamente com a vontade e com planos para alcançá-los.
A ideia de esperança também está implícita na ideia de salvação; a salvação da vida ameaçada por avassaladoras forças sociais ou imersa na frustração existencial, característica da nossa época de desesperança.
A busca pela resiliência
O conceito original de “resiliência” vem da física e se refere à capacidade de certos materiais se recuperarem e voltarem ao seu estado original, tendo anteriormente resistido a grandes impactos e cargas.
Resiliência não é apenas a capacidade de enfrentar crises ou situações potencialmente traumáticas, mas também podermos sair mais “resistentes” delas, tornando-nos pessoas ainda mais fortes do que éramos antes.
Podemos pensar na resiliência como algo semelhante a fazer uma viagem rio abaixo em uma jangada.
Nesse rio, podemos encontrar corredeiras, curvas, águas lentas e áreas rasas. Como na vida, as mudanças que experimentamos ao longo do caminho nos afetam de maneira diferente.
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Viajar ao longo do rio ajuda a conhecê-lo e relembrar as experiências anteriores que tivemos.
Perseverança e confiança em nossa habilidade de evitar pedras e outros obstáculos são importantes.
Podemos ganhar coragem e discernimento navegando com sucesso em águas turbulentas. Acompanhados e amparados nos ajudará especialmente a lidar com as dificuldades do rio.
Podemos descer da jangada e descansar na margem do rio. Porém, para terminar a jornada, é preciso voltar à jangada e continuar.
O que esperar deste novo ano?
Mais do que esperar, é preciso confiar. Acreditar que a ciência vencerá e que reduziremos a contaminação, porque não, a eliminaremos.
Confiar na criatividade do trabalhador e na benevolência de nossos governantes para a reconstrução da economia.
Sou avessa a romantizações, mas realmente espero (e tenho que) a realidade não seja normalizada, mas sim reorganizada, pois acredito no poder da resiliência, de que mesmo comprimidos ao extremo, voltamos, ao menos para curar as feridas.
Ainda não estou convencida de uma mudança comportamental generalizada, pois há os maus. Os que se alimentam da dor alheia e veem nos desastres o potencial da inveja – o prazer da auto afirmação.
Mas ainda haverá muito a esperar…e como preencher esta espera? Com esperança.
“Os que conhecem a estreita relação que existe entre o estado de ânimo de uma pessoa – seu valor e suas esperanças, ou a falta de ambos – e a capacidade de seu corpo, para conservar-se imune, sabem também que se repentinamente perdem a esperança e o valor, isto pode ocasionar a morte” (Frankl, 1982)