Nove pontos negativos da vida na Armênia.
Já falei aqui e n’ O Mundo é a Minha Casa muitas vezes sobre o quanto estou amando morar em Yerevan, bem como sobre as muitas qualidades da Armênia, do povo armênio e da delícia que é a culinária armênia!
Eu não gosto de reclamar das coisas, mas nenhum lugar é perfeito, nem mesmo Yerevan. Mesmo vivendo uma experiência bastante positiva na capital da Armênia, há algumas coisas que dificultam um pouco (ou melhor, bastante) o dia a dia, que são até mesmo irritantes, e que vou dividir agora com vocês em caráter informativo; penso que, se alguém tivesse me preparado psicologicamente para algumas dessas coisas, talvez a dificuldade de adaptação fosse menor.
O idioma
É claro que eu tinha que começar por ele. Pode parecer muito óbvio, mas, sim, o idioma impõe uma dificuldade terrível para o estrangeiro por diversos motivos. O alfabeto armênio é completamente diferente de qualquer outro, e a sonoridade não é familiar. A língua armênia é diferente até mesmo do russo, que é quase a segunda língua do país. É bem verdade que os armênios são, em geral, muito solícitos e têm muita vontade de ajudar, tentar compreender o que você precisa, tentando orientar e explicar da melhor maneira possível. Ainda assim, há situações em que nem sempre as coisas são fáceis. Mesmo com o meu russo pobre, eu tenho preferido me explicar em russo (quase sempre gramaticalmente incorreto) do que depender do inglês quase sempre precário deles, que pode causar bastante confusão.
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Os endereços são confusos
Diferentemente de outras cidades no mundo, em Yerevan há alguns endereços bem confusos – e é difícil até de explicar como é essa confusão! As entradas dos lugares nem sempre são nas ruas dos respectivos endereços. O meu prédio, por exemplo, tem duas entradas, por ruas paralelas, mas um único endereço – e a minha entrada fica justamente na rua cujo nome não é definido pelo endereço. Quando chegamos e fomos procurar a imobiliária, tivemos muita dificuldade de encontrar o prédio porque o endereço era de uma rua, mas na verdade o prédio ficava dentro de uma praça daquela rua, acessível por uma pequena passagem (e imaginem fazer isso num frio de -17ºC, nevando e com muita neve acumulada no chão).
Delivery raramente dá certo
É claro que, porque os endereços são confusos, pedir delivery raramente é uma tarefa bem-sucedida. Como nós não temos carro, fazemos as compras de mercado online e pedimos para entregar. O site do supermercado está disponível também em inglês, e há um suporte por telefone com atendentes que falam inglês (nem sempre a compreensão é perfeita, mas funciona). Eu sempre escrevo, no pedido, que não falo armênio nem russo (porque é terrível falar russo no telefone), e explico como faz para usar a entrada correta do meu prédio, pedindo para que a mensagem seja transmitida ao courrier. 90% das vezes, os entregadores me telefonam e tenho que me virar para explicar (em russo, é claro) como é que faz para chegar no meu apartamento. Com entregas de restaurantes, fica mais difícil ainda porque, por mais que usemos o aplicativo de entrega (também disponível em inglês) e escrevamos as instruções para chegar ao apartamento, os entregadores sempre erram, telefonam, e aí é o mesmo drama de sempre. Teve uma vez que o entregador desistiu e não entregou a nossa pizza, e nós ficamos com fome.
A mania de telefonar
Ah, o telefone. Eles telefonam para qualquer coisa. Como já contei no item acima, a questão do delivery sempre gera ligações telefônicas. A minha compreensão de russo ao vivo já é sofrível, imagina no telefone?! Isso quando eles não desatam a falar em armênio!! E não é só nos serviços de entrega: o GG, o aplicativo local equivalente ao Uber, tem a opção para que o passageiro indique, caso não queira receber ligações telefônicas dos motoristas, a menos que haja alguma situação extraordinária. Mas é claro que eles telefonam mesmo assim, e nunca é por causa de uma situação extraordinária. Foge da minha capacidade de compreensão a necessidade de telefonar quando você tem um GPS apontando e guiando o caminho que levará o motorista até o passageiro!
As estradas são muito ruins
Mas muito, muito ruins mesmo! Temos viajado pelo país muito menos do que gostaríamos por esse motivo. A grande maioria das estradas não é duplicada e as faixas são muito estreitas, além de serem bastante esburacadas. Um trecho de 100km, que levaria cerca de 1h para ser percorrido em condições normais, dentro dos limites de velocidade, pode precisar do dobro do tempo por conta das condições rodoviárias. Quando fomos a Gyumri, por exemplo, a estrada era tão esburacada e a gente sacolejava tanto que o meu Apple Watch registrou que eu estava fazendo exercícios enquanto, na verdade, estava sentada no carro em movimento!
Eles dirigem feito loucos
O trânsito em Yerevan é terrível. É muita buzina, é muita cortada feia, é muita velocidade; são muitas ruas estreitas, vários sinais de trânsito quebrados, e muita pressa dos motoristas. O resultado disso são acidentes de trânsito constantes, muito engarrafamento e vários carros sem parachoques transitando pela cidade.
Mais de 60ºC de amplitude térmica
Em um único ano, podemos vivenciar -20ºC e +42ºC, ou seja, uma amplitude térmica de mais de 60º! Ao mesmo tempo em que é legal ver as estações do ano bem definidas, a saúde sofre para se adaptar a temperaturas tão extremas.
Os armênios andam MUITO DEVAGAR
Mas MUITO DEVAGAR MESMO! E eles conseguem ocupar a calçada INTEIRA, mesmo se for uma única pessoa caminhando. Eles andam balançando o corpo de um lado para o outro, com os braços razoavelmente abertos. Se estiverem com sacolas, então, desista de “ultrapassar”.
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Não é proibido fumar
Deixei o pior para o final. Sim, a coisa que mais me irrita na Armênia é que não há lei antifumo, e eles fumam em todos os lugares, fechados ou abertos. A cultura daqui é fumar – aparentemente, errado é quem não fuma. Alguns restaurantes até dedicam uma área para não-fumantes, mas é sempre minúscula e sempre colada aos fumantes, no mesmo ambiente, sem de fato uma separação. Isso já seria péssimo para a saúde de qualquer pessoa mas, pra mim, é ainda mais desagradável porque tenho asma e muitas alergias respiratórias. O resultado dessa convivência forçada entre fumantes e não-fumantes nos lugares públicos são roupas e cabelo sempre com cheiro de cigarro, que precisam ser lavados diariamente, não importando a hora.