O dia-a-dia de uma brasileira cursando mestrado na Polônia.
1 de outubro de 2017: Universidade de Wroclaw, primeiro dia de aula da turma de mestrado de Direito Internacional e da União Europeia, mais ou menos 20 alunos na sala, o professor entra e pede para que cada um faça uma introdução sobre si: nome, de qual país veio, histórico acadêmico e qual a razão de ter escolhido o curso. As pessoas foram fazendo suas introduções e reconhecendo suas semelhanças, muitos alunos da Ucrânia, Rússia, Alemanha e até da própria Polônia. Chegou a minha vez ¨Oi, meu nome é Danielle, eu sou do Brasil…¨ e, então, fui interrompida pelo professor ¨Brasil? Tão longe! Como você veio parar aqui?”. Pronto, foi só a primeira de tantas outras reações como essa que ouvi ao longo do curso.
Após essa aula minha turma se reuniu para ir a um café com a ideia de nos conhecermos melhor, agora em um clima mais informal poderíamos falar de forma mais livre sobre nossas vidas. Todos falavam sobre suas expectativas em relação ao curso e futuro profissional, por alguma razão eu citei o fato de eu ter começado a trabalhar no mesmo ano que iniciei meus estudos na universidade de direito, no Brasil. Mais uma vez causei grande choque: por que eu estava cursando mestrado tanto tempo depois de formada na graduação e como era possível eu ter trabalhado e estudado simultaneamente?
Nesse momento é importante mencionar que o sistema universitário europeu, incluindo a Polônia, é diferente do brasileiro. O curso universitário consiste em 2 ou 3 anos de bacharelado (a depender do curso) e, após, mais 1 ou 2 anos de mestrado, isso equivale à graduação em uma universidade brasileira. Além disso, diferentemente do Brasil, aqui o mestrado tem muita relevância profissional, o que o torna quase que indispensável para o acesso ao mercado de trabalho na maioria das áreas.
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Ainda tentando explicar as diferenças culturais, mencionei que a valorização do tempo de estudo é muito diferente do que vivemos no Brasil. Analisando um panorama geral, no Brasil estamos acostumados a conciliar estudo e trabalho, não que seja fácil, mas damos nosso jeito. Já aqui na Polônia, os anos são em regra reservados para o estudo e somente ele, com exceção da possibilidade de fazer alguns estágios de verão. A própria faculdade faz com que você fique impossibilitado de trabalhar, fazendo com que esteja à disposição das aulas o dia todo. Estou quase finalizando meu curso e ainda não consegui explicar de uma maneira que eles entendam como é a nossa realidade.
Os dias passaram e, como em qualquer lugar, as pessoas foram se aproximando e formando alguns grupos. Eu não fazia parte de nenhum deles e é fácil entender o porquê: eu era a que menos tinha semelhanças com qualquer um ali, para começar pela língua nativa. Apesar do nosso curso ser todo em inglês, é inevitável que pessoas que falam a mesma língua nativa se aproximem, é muito mais fácil de conviver com pessoas que entendem de forma fácil o que você fala. Falando pelo lado pessoal, claro que teria sido muito legal fazer amigos no curso, mas estar ali sozinha no meio da turma não era algo que me incomodava tanto. Porém, falando pelo lado acadêmico, passei por alguns perrengues como trabalhos em grupo que eu não tinha grupo, trabalhos em conjunto com outro aluno que não apareceu no dia da apresentação, se eu faltava em uma aula não tinha com quem pegar a matéria dada.
Por mais que eu sinta essa distância com relação aos meus colegas, eu não posso dizer que é pessoal. Quando fazemos trabalhos em grupo, todos me tratam bem e em nenhum momento me colocam de forma inferior ou diferente, nos intervalos conversamos sobre assuntos da nossa rotina. O que nos distancia é o nosso histórico de vida, nossas experiências passadas, nossas culturas. Contudo, na hora do debate acadêmico, todas essas diferenças tornam o nosso conhecimento muito mais rico.
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A ideia de contar aqui um pouco da minha história como estudante brasileira em uma universidade polonesa foi mostrar que nem sempre é festa, que nem sempre é fácil, que nem mesmo o jeitinho brasileiro conquista a todos. Quero ressaltar que essa é a minha experiência e não necessariamente todo estudante brasileiro passará pela mesma situação. Inclusive, estudantes que vêm para fazer intercâmbio dificilmente terão uma experiência parecida, a realidade é outra.
Por fim, esse texto não tem como objetivo desencorajar ninguém a fazer um mestrado em outro país, inclusive na Polônia. Para você que está se perguntando se eu me arrependo de ter vindo e estar cursando esse mestrado aqui na Polônia, a resposta é: não! Essa está sendo uma das melhores experiências da minha vida, tanto pessoal como acadêmica, e quando eu pegar meu diploma, terei ainda mais certeza que tudo valeu a pena.