Em um país como os Estados Unidos, que tem um PIB (Produto Interno Bruto) de quase 17 trilhões de dólares, que gastou em 2015 mais de 600 bilhões de dólares com seu Departamento de Defesa, é difícil de acreditar que, esse mesmo país, considerado como a maior potência do mundo, sofra com problemas de pessoas desabrigadas. Para ser mais exata, 564.708 pessoas em 2015 moravam nas ruas, de acordo com estudos.
Quando eu me mudei para os Estados Unidos morei por um ano e meio no subúrbio de St. Louis, uma área nobre onde vive a camada mais alta da população da cidade. Não consegui enxergar muitos dos problemas com os quais o “americano comum” sofre enquanto morei lá, porém, ao me mudar para Denver ano passado, comecei a perceber as várias deficiências que o país enfrenta. Entre elas, a que mais me surpreende é o grande número de pessoas que vivem nas ruas, principalmente no centro da cidade. Esse é um problema enfrentado, principalmente, nas grandes cidades americanas e que, para mim, antes da mudança, não aparecia. Acredito que eu tinha uma ideia muito fantasiosa e utópica sobre o país.
O National Alliance to End Homelessness é uma organização que tem o objetivo de erradicar o problema de desabrigados nos Estados Unidos por meio de medidas como: aprimoramento de políticas focadas nessa temática, capacitação de comunidades para lidar e implementar essas políticas e, também, educação de líderes da sociedade quanto a essa questão e possíveis soluções. Essa organização desenvolve relatórios anuais desde de 2011, que são conhecidos como The State of Homelessness in America, e têm por objetivo alinhar os dados sobre a população de desabrigados nos Estados Unidos, além de servir como material de apoio para líderes políticos, mídia e comunidade.
Os dados utilizados nesses relatórios são provenientes da Point-in-Time Count, que é uma pesquisa realizada em várias cidades americanas em que voluntários saem, em uma determinada noite de janeiro, a cada dois anos, e fazem uma contagem de pessoas que vivem nas ruas ou em abrigos emergenciais para, assim, ter uma estimativa do tamanho da população de rua no país. Essa pesquisa não revela o número real da população desabrigada, pois é realizada em janeiro, em pleno inverno, quando acredita-se que muitas dessas pessoas recorram a abrigos com parentes e amigos, além de buscarem lugares mais isolados onde os voluntários não têm acesso. Mesmo não sendo a forma mais eficaz, ainda não há outras ferramentas que permitam uma melhor contagem dessa população e, mesmo com as deficiências dos resultados dessa pesquisa, esses dados ainda são muito importantes para vários estudos que visam a eliminação ou diminuição desse grave problema social.
A população de rua é dividida em grupos com características em comum, tais como:
- Desabrigados crônicos – esse grupo é formado por pessoas que moram nas ruas por no mínimo um ano ou que ficaram desabrigados no mínimo 4 vezes nos últimos 3 anos. Normalmente, também apresentam alguma deficiência mental ou física e estão entre os grupos considerados mais vulneráveis. Em 2015, foram contados 83.170 indivíduos nesse grupo, o que corresponde a 15% da população de rua;
- Famílias – como sugere o nome, trata-se de um grupo formado por famílias, geralmente lideradas por mulheres solteiras, com baixo nível educacional, jovens, que sofreram violência doméstica ou que tenham alguma deficiência mental. Essas famílias acabam nas ruas por conta de problemas financeiros gerados, por exemplo, pela morte do familiar que ajudava nas despesas da casa, pela perda de emprego, contas inesperadas ou qualquer outra situação que os impossibilite de manter uma moradia. Em 2015 foram contados 206.286 indivíduos em famílias, e também crianças, nas ruas. O grupo corresponde a 36% da população de desabrigados;
- Veteranos de guerra – grupo de pessoas que voltaram de guerras ou áreas de conflitos. Muitos deles voltam a seus lares com muitos problemas mentais e físicos e acabam indo morar nas ruas por vários motivos. Alguns deles também saem muito novos do país e retornam sem nenhuma habilidade profissional, o que dificulta sua colocação no mercado de trabalho. Em 2015, foram contados 47.725 veteranos nas ruas, esse número tem caído consideravelmente desde que Obama se comprometeu, em 2009, a eliminar esse grupo;
- Jovens – esse grupo começou a ser contado em 2013 e considera pessoas de até 24 anos que vivem nas ruas. É considerado um grupo difícil de ser mensurado, pois muitos dos jovens não se consideram moradores de rua e sim pessoas que vivem um estilo de vida diferenciado. Em 2015 foram contados 36.907 jovens nas ruas. Esse número, no entanto, é considerado subestimado, pois acredita-se que há um número muito maior de jovens desabrigados;
Dentre as 10 cidades americanas com maior número de pessoas nas ruas, Nova York ocupa o primeiro lugar, contado com 75.323 pessoas em 2015, seguida de Los Angeles, Seattle, São Diego, Las Vegas, Distrito de Columbia, Chicago, São Francisco, São Jose, Santa Clara e Boston.
Apesar da população moradora de rua nos Estados Unidos ser grande, as políticas implementadas têm mostrado bons resultados. Em 2015, por exemplo, 33 estados mais o Distrito de Columbia apontaram diminuição na população e apenas 16 estados apontaram aumento. Esses números não são suficientes para eliminar de uma vez por todas esse problema no país, porém, são significativos. Esperamos que possam diminuir cada vez mais e que os líderes da sociedade fortaleçam projetos que ajudem a tirar essas pessoas das ruas.
3 Comments
Adoro o que você escreve e como escreve 😀
Muito triste esta situação, em muitos casos as pessoas vão morar na rua por causa de drogas ou por causa de problemas financeiros.
obrigado pelas informações.