Eu pensei em escrever sobre dicas de viagens, mas quando um dos locais conversou comigo e me contou algumas histórias dignas de pescadores, eu fiquei perplexa e não consegui parar de pensar sobre o assunto durante alguns dias. Talvez você já tenha conhecimento sobre algo que irei abordar, mas a minha ideia é sair um pouco do óbvio
hoje.
O valor de uma concha
Numa dessas noites, o meu amigo Kevin falou sobre o valor que uma concha pode ter. Para início de conversa, eu nem imaginava que conchas podem ter uma abertura virada para a direita ou para a esquerda. Se você por acaso der a sorte de encontrar uma bela concha como a da imagem e conseguir colocar sua mão esquerda dentro dela com o bico virado para cima, você tem literalmente um grande investimento na mão. Essas espécies de concha são raríssimas e normalmente passeiam por águas profundas.
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Há colecionadores dispostos a pagar uma fortuna por uma belezinha dessas. Mas não se anime muito. Você pode passar a vida toda procurando, mas a chance de encontrá-la é extremamente baixa. E se assim como eu, você se preocupa com o ecossistema, vale lembrar que apesar de lindas e com muita história (antigamente na Ásia e África, as conchas eram utilizadas como moeda), é ilegal coletar conchas, areia e coral, mesmo as conchas menores. Se não lhe barrarem no aeroporto daqui, você poderá enfrentar problemas no seu destino final.
Muitos comerciantes vendem coral seco e conchas “certificadas”, que na prática você até consegue se safar aqui dentro, mas uma vez no aeroporto, prepare-se para pagar uma multa.
Vômito de baleia
A outra história envolve uma substância mal cheirosa: o “ vômito de baleia”, também conhecido mais sofisticadamente como âmbar-gris ou âmbar cinza. Trata-se nada mais nada menos do que fezes. Esse material fecal já foi afrodisíaco no Oriente Médio, produto culinário, incenso no Egito e até mesmo usado como remédio na Europa. Hoje em dia é cobiçado pelas grandes marcas de perfume (Tom Ford, Chanel, Givenchy, Dior…). Parece até brincadeira que um odor tão particular vindo de um cachalote doente
possa ser transformado em artigo de luxuoso.
Esse excremento valioso muda de cor com o passar das décadas (preto, cinzento e branco). Quanto mais tempo passar no mar, melhor é sua qualidade. Quando seco, cheira muito melhor e é útil para aprimorar a fixação do produto. Existe um processo artificial para a fabricação do âmbar cinza, mas é claro que o natural é o mais caçado.
Diz a lenda que por aqui um pescador acabou encontrando e conseguiu mudar de vida em um piscar de olhos. Para você ter uma noção, a melhor qualidade dessa matéria pode ser negociada por até $25/grama. É como ganhar na loteria, pois cada “vômito” sempre vem pesando muitos quilos.
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Nos Estados Unidos e na Austrália, importação e exportação dessa matéria foram banidas.
Mas por aqui, a primeira coisa que os locais fazem quando se deparam com um cachalote morto na praia é abri-lo para verificar se há presença do âmbar cinza. Só imagino a discórdia e o tamanho da confusão que isso traz. Então por isso, na próxima vez que for se banhar aqui nas Ilhas Maldivas ou no Brasil, fique de olhos e narinas bem abertas. Nunca se sabe.
Tartarugas albinas
A próxima curiosidade é bem mais fofa e mais possível de se ver do que a anterior. Inclusive o Kevin viu de perto e na beira da praia. As tartarugas albinas são uma espécie rara (Chelonia Mydas ou simplesmente tartaruga-verde). Uma tartaruga despigmentada nasce a cada centena de milhares de ovos. Além dos raros nascimentos, a vida para uma tartaruga nessas condições se torna imensamente difícil devido à falta de camuflagem, tornando-se alvo fácil para os predadores. Elas levam mais tempo para se adaptarem ao clima e até o acasalamento é um desafio. É ainda mais raro uma tartaruga-verde chegar a vida adulta.
Plâncton bioluminescente
Esse último ponto é um fenômeno natural e parece um sonho. Tive que perguntar para o Kevin se é real. O mar de estrelas não é exclusivo das Maldivas. Vários outros países como a Colômbia ou o Brasil podem apreciar o plâncton bioluminescente, que decora o mar com brilho azulado ou esverdeado. É imprevisível, por isso se torna ainda mais especial para quem consegue ver de perto. Esse fenômeno, dependendo das condições ideais, pode ser apreciado em qualquer local das Maldivas, mas costuma acontecer entre meados de verão e inverno. O plâncton é um organismo abundante no oceano Índico e libera energia em forma de luz, deixando a gente de boca aberta. Esse fenômeno eu realmente quero ver. Parece incrível!
Eu me pego refletindo como aqui na superfície tem dias tão calmos; algumas ilhas são inabitadas; em alguns pontos a água parece nem se movimentar, e quando você se aventura debaixo d’água, vê tanta vida e diversas cores, e há tantos mistérios ainda por resolver e ver.
Respeitemos todas as coisas naturais. Até a próxima.