Olá, meu nome é Luanda, sou nova aqui no BPM e estou morando pela segunda vez na Inglaterra. Sim, rendi-me à “Síndrome do Retorno” que acredito afetar várias pessoas que já moraram fora do Brasil. Vou contar aqui um pouco de como as coisas aconteceram e como eu vim parar de volta à terra da Rainha.
Em 2004, meu marido teve uma oportunidade de trabalho na Inglaterra e mudou-se para cá. Confesso que nunca tive o sonho de sair do país, sempre quis passear, conhecer lugares novos, mas nunca tinha pensado em morar fora do Brasil. Mesmo assim, decidi aproveitar aquela oportunidade para me desafiar e reinventar-me. Recém-formada, livre, pronta, era a hora! Ele veio primeiro porque nosso filho tinha 3 anos na época, apesar de meio louca não sou irresponsável e não estava disposta a me aventurar e arriscar o bem-estar do nosso pequeno.
Eu e o meu filho nos mudamos em 2005, e por aqui ficamos quase 5 anos. Foi, com certeza, a experiência mais enriquecedora da minha vida! Passamos por todos os perrengues da adaptação ao novo país, nova língua, nova cultura, mas tudo era tão prazeroso que mesmo os perrengues mais difíceis serviram para me mostrar o quão forte eu podia ser (só percebemos a força que temos quando precisamos usá-la)! Tive mais um filho em 2008 e, definitivamente, meu coração já estava bem dividido entre o Brasil e a Inglaterra!
Por mais que estivesse bem adaptada e estabilizada aqui, a saudade da família apertava, o colo de mãe fazia falta, o Skype não era mais suficiente. Resolvi que era hora de voltar.
A volta ao Brasil foi ótima! Fui muito feliz lá. Tanta festa, tantos amigos, tanto colo de mãe, tanta coisa que fazia falta! Mas, mesmo assim, lá no fundo, sempre soube que um dia retornaríamos, era a tal “angústia de expatriado”, quando morava na Inglaterra sentia falta do Brasil, morando no Brasil sentia falta da Inglaterra. Sei que será assim a vida toda, não tem jeito! Quem já morou fora sabe do que estou falando.
Em 2013, a vida resolveu me dar uma rasteira, minha mãe faleceu, com isso perdi meu chão, meu teto, meu ar! Mais uma vez tive que buscar forças de onde eu nem sabia que podia. Mas, nem precisamos falar sobre isso agora…
Esse acontecimento mudou para sempre a minha vida e, depois disso, a vontade de voltar só foi aumentando. Meu filho mais velho queria estudar aqui, ir para uma universidade e, eu pensava sempre na ideia. Porém minha vida estava tão estabilizada com trabalho, amigos, apartamento, por que voltar? Será que valia a pena arriscar? Por outro lado, por que não arriscar?
Tenho grandes amigos na Inglaterra, já conhecia o país, a língua, a cultura. Será que seria um risco assim tão grande?
Em meio a tantas dúvidas, o coração foi só apertando. Claro, questões como segurança e qualidade de vida sempre pesavam muito. Quem já morou aqui sabe que não dá para comparar esses critérios. Embora eu seja uma defensora apaixonada do meu país, isso eu não posso negar!
Sempre que falávamos na possibilidade de mudança, meus olhos brilhavam, mas quando estamos acomodados na nossa zona de conforto não é fácil sair.
Entre tantas conversas sobre o assunto, um dia me perguntei o que eu realmente queria da vida. Estava trabalhando, sentia-me recompensada e reconhecida profissionalmente, vida tranquila. O que eu tinha era suficiente. Mas, faltava alguma coisa. Faltava o frio na barriga, os desafios de morar fora (cada dia é uma coisa diferente), as viagens maravilhosas e baratas que sempre fizemos. Faltava sentir a tranquilidade de deixar meus filhos irem sozinhos para a escola, faltava…
Foi então que me rendi e, vi que estava na hora de partir para uma nova aventura! Preparada? Siiimm!!! Certo, não foi muito fácil dizer tchau aos meus pacientes e colegas tão queridos, mas acredito que tudo o que foi conquistado se mantém, não perdemos nada. Na vida vamos sempre acrescentando novas experiências, novos amigos, novos ciclos. Não perdemos o que é, de fato, nosso.
E, então, chegou o momento. Despedir dos amigos e família foi, sem dúvida, a parte mais difícil. Graças a Deus, as redes sociais ajudam a minimizar o trauma, mas preciso confessar que, hoje, a saudade é companheira constante.
Voltamos recentemente e estamos naquele processo de readaptação, meus filhos na escola (o mais novo não fala a língua, mas vai aprender logo), marido cheio de desafios no trabalho e eu me organizando para enfrentar toda a burocracia necessária para trabalhar como fisioterapeuta…
Enfim, a vida aqui está realmente corrida e longe de cair na rotina, pelo menos por enquanto!
Ah! E aquele friozinho na barriga está de volta! Como é bom acordar com a expectativa de um mundo novo a conquistar. Está valendo a pena toda esta loucura. E, aos poucos, vou escrevendo uma nova história, trilhando um novo caminho nesta terra que eu tanto gosto, sem é claro, perder o jeitinho brasileiro de ser.
Hi England, I am back (olá Inglaterra, eu voltei)!
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5 Comments
Adorei o seu texto e me identifiquei bastante, pois estou de volta a Europa 10 anos depois de voltar para o Brasil! Realmente quem já morou fora sabe que sempre sentirá saudade. No Brasil, sentimos falta da Europa. Na Europa sentimos falta do Brasil. E a família? Como é difícil a despedida! E a saudade é enorme!! Boa sorte em sua nova vida!
Muito obrigada Manoela! Realmente não é fácil, coração sempre dividido. Boa sorte pra vc tb e obrigada pelo carinho! Beijos
Muito obrigada pelo carinho e que bom que voce gostou! Acho que a saudade sera nossa companheira constante, nao tem jeito! Boa sorte pra voce tambem! Beijos… Luanda
Olá Luanda! Voltei da Inglaterra no ano passado e concordo com tudo o que escreveu. Estou na duvida agora do que fazer. Será que você poderia entrar em contato comigo para eu lhe fazer algumas perguntas? Se puder, eu agradeço!
Olá Luanda fazendo as pesquisas aqui e encontrei a sua história aqui e achei ótima. Estamos nessa incerteza também, voltar ou não voltar, como você disse já conhecemos e sabemos os pontos positivos da Inglaterra, pontos esses que aqui estão longe de ser como aí. Muito obrigada por transmitir a sua experiência a nós.