A pandemia na Inglaterra.
Minha primeira lembrança em relação ao SARS-CoV-2 (vírus que causa a doença Covid-19) é do dia doze de fevereiro de 2020.
Naquele dia, os noticiários na Inglaterra não paravam de anunciar o cancelamento das celebrações de Ano Novo na China (ou como o ocidente conhece, o Ano Novo Chinês) por causa do novo vírus que teria surgido na Província de Wuhan.
Antes disso, por aqui só ouvíamos falar em negociações do Brexit. E foi realmente em março que tudo pareceu se intensificar.
O começo da pandemia
Enquanto eu acompanhava os noticiários italianos pela internet e minhas amigas italianas começavam uma campanha para tirarem seus filhos das escolas aqui na Inglaterra.
Eu ainda tinha um evento importante marcado em uma universidade de Londres. Apesar das discussões a respeito, um jogo importante de futebol e uma corrida de cavalos famosa daqui tinham ganho autorização para prosseguir com as programações.
Mas, em questão de uma semana, os eventos foram sendo cancelados e o primeiro lockdown foi decretado no país.
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A pandemia no Reino Unido foi marcada pela forte critica à resistência inicial do governo de implementar um lockdown nacional. Houve inúmeras mudanças quanto às restrições quando não estávamos em lockdown e uma resistência inicial do governo em recomendar que as pessoas usassem máscaras. Além de ser um dos países do continente europeu com o maior número de mortes pela nova doença.
Desde aquele dia até hoje, nossas vidas passaram por maiores e menores restrições, mas ainda estão sendo fortemente abaladas pela pandemia do Covid-19.
Quando o vírus começou a se espalhar no país (e qual a origem do mesmo)
De acordo com pesquisa realizada pela Universidade de Cambridge, o vírus teria começado a se espalhar em algum momento entre setembro e dezembro de 2019. Ou seja, mais cedo do que se pensava inicialmente.
O vírus que teria entrado no país pela primeira vez veio a dar origem a pelo menos 3 cepas distintas.
Algumas datas-chave:
- 29/31 de janeiro de 2020: registrados os dois primeiros casos confirmados de Covid-19, na cidade de York, com dois cidadãos Chineses recém chegados de Wuhan.
- 6 de fevereiro: o terceiro caso – de um chamado “super spreader” – agora em Brighton, foi de um empresário Britânico, recém chegado de Singapura.
- 28 de fevereiro: primeiro caso confirmado de contágio do vírus em solo Britânico, em Surrey. No mesmo dia, veio a falecer o primeiro cidadão britânico a contrair a doença em um cruzeiro.
- 29 de fevereiro: teriam aparecido os primeiros casos identificados de passageiros provenientes da Europa, mais especificamente da Itália.
- 5 de março de 2020: ocorre a primeira morte por SARS-CoV-2 em solo britânico.
O primeiro lockdown
A partir do primeiro caso que resultou em morte, fomos vendo os números se multiplicando e as restrições aumentando. Teatros e cinemas foram fechados e, no dia 20 de março de 2020, as escolas tiveram seu último dia letivo, sem previsão clara de retorno.
Mas foi no dia 23 de março de 2020, depois de um final de semana de sol onde os parques Ingleses ficaram lotados, que foi anunciado que todo o Reino Unido – Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte – entraria em lockdown.
No dia 16 de abril, o mesmo foi extendido por mais 3 semanas e no dia 30 do mesmo mês, o Primeiro Ministro Boris Johnson, declarou que havíamos passado o pico da doença.
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Mas foi só em 10 de maio que a maioria das restrições foram sendo levantadas e, durante o verão, mais e mais atividades, autorizadas a funcionar. A famosa quarentena ao retornar de outros países foi relaxada aos poucos também, porém, revista semanalmente dependendo do país de origem.
No dia 1o. de junho de 2020, estudantes das classes “reception”, primeiro e sexto ano, retornaram às escolas por tempo reduzido. E todas as escolas e classes reabriram de vez em setembro, como normalmente seria depois do verão.
O clima ajudou muito à saúde mental, pois foi uma primavera e verão muito quentes e, aqui, nunca tivemos que parar de nos exercitarmos na rua, ou usar máscaras em espaços abertos.
Mas, o lockdown foi marcado por bastante rigidez em distanciamento social e um esforço nacional muito forte para evitar que saíssemos de casa (inclusive as idas ao supermercado deviam idealmente ser feitas uma vez por semana apenas).
O segundo lockdown
Em outubro, os casos de Covid-19 começarem a aumentar em todos os grupos etários e aumentaram, inclusive, as internações hospitalares e as mortes.
Assim, na Inglaterra, depois de um período onde as restrições eram diferentes para cada região – culminando em um sistema semelhante ao das bandeiras no Brasil – foi decretado o segundo lockdown, que começou no dia 5 de novembro.
Desta vez, não tivemos limite em termos de tempo de exercício, as escolas permaneceram abertas, as pessoas encorajadas a ir ao médico e muitos negócios grandes foram considerados essenciais, tanto que já existe uma campanha para usarmos mais as pequenas empresas depois da reabertura das mesmas.
Apesar de alguma resistência política, a opinião pública parecia apoiar essa decisão, uma vez que o governo estendeu mais uma vez o programa de retenção de emprego onde o mesmo se responsabiliza por 60 a 80% do salário de cada indivíduo que esteja empregado.
Porém, conforme as semanas foram passando, é possível perceber uma falta de observância geral das regras. Além de terem aumentando consideravelmente as vozes daqueles que defendem que, mesmo com apoio financeiro do governo, a conta a pagar por tanto tempo de lockdown será o desemprego e a recessão.
Previsões para um futuro próximo
O Reino Unido tem um grande motivo para orgulho: foi o país do mundo a distribuir a maior soma em dinheiro para diversos estudos de vacina que estão acontecendo globalmente.
Agora que sabemos que a vacina desenvolvida pela Pfizer apresentou 95% de eficácia em sua fase de testes. A vacina da Universidade de Oxford representou 70% (até 90% em um grupo menor que tomou uma dose leve primeiro e uma completa depois). Resta saber se ambas serão aprovadas para uso no RU e se ambas também serão utilizadas.
A vacina “nacional”
A vacina “nacional” é mais barata e mais fácil de distribuir (não precisa ser conservada a -70c) e portanto, deverá ser aquela utilizada para imunizar as massas na primavera.
Porém, o governo Britânico já garantiu 40 milhões de doses da vacina da Pfizer, sendo que 10 milhões estariam prontas ainda em dezembro. Dessa maneira, as pessoas mais vulneráveis poderiam vir a ser vacinadas ainda este ano.
Mas, até começarmos a sentir os efeitos deste grande avanço, o governo espera utilizar os bons resultados provenientes da cidade de Liverpool. Isso para controlar o vírus com testes rápidos e em massa e com a redução dos períodos de quarentena para aqueles infectados e para aqueles que tiverem contato com estes.
Como foi dito esta semana na BBC, o caminho ainda é longo, mas fica mais claro a cada dia.
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