27 anos morando na Europa.
Mais um ano e mais um aniversário. Hoje faz 27 anos que deixei a minha casa em Santos e meus pais, literalmente, chorando no portão quando entrei no carro com os meus avós para a minha nova vida em Lisboa.
Eu dizia que voltava quando terminasse a faculdade. Não aconteceu. Esse voltar nunca se realizou, prova está a celebração do dia de hoje. Os meses foram passando se tornaram em anos, décadas e ainda estou por aqui.
Curiosa para saber o que as pessoas pensam a cada ano que passa morando fora, convidei 26 Brasileiras Pelo Mundo para compartilharem o que sentem a cada ano fora do Brasil.
Vamos ver o que elas dizem:
1 ano fora do Brasil: ano de descobertas e de novidades, aonde aprendi a dirigir na mão inglesa e meus filhos aprenderam a falar outro idioma. No final deste primeiro ano já sinto a saudade começar a apertar e começo a escutar músicas brasileiras que não gostava até então, também tenho desejos de comer comidas brasileiras que não comia nunca quando estava no Brasil. Daniela – Quênia
2 anos fora do Brasil: com dois anos fora todos os medos do primeiro ano ja foram apaziguados. Ainda aprendo muita coisa nova a cada dia, mas hoje com mais tranquilidade que antes. Os costumes locais ja não assustam tanto e começam a parecer normais. Gabi – Arábia Saudita
3 anos fora do Brasil: já vivi todo tipo de sentimentos: a saudade avassaladora do primeiro ano (comparando, inevitavelmente, os dois mundos), o segundo ano de ambientação (e estranhamento quando retornei ao Brasil pela primeira vez) e, finalmente, o terceiro ano, onde experimento um sentimento de pertencimento cada vez maior, pois já consigo compreender muito mais a cultura, a língua e a história. Claro que ainda sinto falta de muita coisa, mas entendi que o Brasil que era meu lar eu deixei para trás, e o que tenho aqui comigo é o meu Brasil, pois este, nunca sairá de mim. Vivian – Polônia
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4 anos fora do Brasil: o período de adaptação já passou, já aprendi a manter contato com as pessoas queridas à distância e meu lar, agora, é aqui. Já tenho um grande círculo de amigos; já conheço os restaurantes locais e sei que festivais acontecerão em cada época. Todo domingo vou ao mercado de Columbus comer meu donut vegano preferido e passeio no parque com meu marido. Minha vida está enraizada aqui. Paula – EUA
Tudo o que você precisa saber para morar na Inglaterra!
5 anos fora do Brasil: percebo que nada e muita coisa mudou ao mesmo tempo. Ainda sinto saudade da família, mas muita coisa mudou, já que lido com pessoas de diferentes culturas. Passei a ver o mundo e me enxergar de outra forma. Sempre achei que era uma pessoa séria, mas aqui muitos me elogiam por estar sempre sorrindo. Os ingleses é que são muito sérios e o jeitinho brasileiro de ser acaba me diferenciando naturalmente. Por outro lado, como estrangeira você sempre vai se esforçar mais que os outros. Parece que a gente quer se provar o tempo todo. E sim, o que falam é verdade: morar fora é sempre ter seu coração em dois lugares ao mesmo tempo! Nathália – Londres
6 anos fora do Brasil: eu brinco que estou na fase do desajuste porque já não me sinto ambientada em meu país, mas ainda não me adaptei completamente onde moro. Viver fora me mudou de uma maneira tão profunda que eu jamais imaginei. O migrante é como uma fênix, morre e nasce a cada passo da jornada de ambientação, sem perder jamais a esperança. E é assim que me sinto! Marcele – Suécia
7 anos fora do Brasil: diminuiu muito o número de pessoas que continuam em contato e ao visitar minha cidade começo a me sentir uma estranha no ninho, mas não dói mais como antes. Bárbara – Alemanha
8 anos fora do Brasil: após 8 anos, me sinto orgulhosa dos obstáculos que superei, pois a mudança nunca é fácil. Por mais preparada que estivesse senti a dificuldade do idioma,da cultura , das pessoas. Mas sempre conseguimos nos adaptar. Hoje, com o meu trabalho, minha empresa aberta e trabalhando na minha área na França, vejo o quanto essa mudança foi importante e me mostrou que dentro de nós, somos todos capazes de superar tudo, uma vez que estamos determinados a escrever o nosso futuro. Rafaela – França
9 anos fora do Brasil: eu me adaptei super bem aqui, acho que principalmente pelo fato do meu marido ser gales, e a família dele ter me acolhido como uma filha mesmo. Costumo dizer que o Pais de Gales me adotou – e vice-versa. Daniela – País de Gales
10 anos fora do Brasil: após estes anos, vivenciando as culturas de 4 países, passei a ver algumas coisas com outros olhos e a dar importância a outro estilo de vida. Gosto do meu país, mas não me vejo mais morando lá. A saudade, claro, sempre está presente. Mas, com o tempo, aprendemos a lidar e conviver melhor com ela. Mel – Suíça
11 anos fora do Brasil: nunca achei que fosse ficar tanto tempo, mas depois dos 2 primeiros anos, você deixa de sofrer tanto e se acostuma. Aqui agora é a minha casa e não tenho mais vontade de voltar. Josy – Alemanha
12 anos fora do Brasil: apesar da dificuldade (ainda) com o idioma chinês, é estranho para mim pensar em voltar para o Brasil. Minha família chama a China de lar, apesar de sabermos que nenhum estrangeiro vive aqui para sempre. Christine – China
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13 anos fora do Brasil: as chances que tive de estudar aqui são incomparáveis. São anos de cursos e aperfeiçoamento que me permitiram algo que talvez nunca tivesse no Brasil. Ana Beatriz – Holanda
14 anos fora do Brasil: eu ainda não sei se quero viver aqui para toda a vida. A nostalgia bate forte mas me sinto uma cidadã do mundo. Viver com um pé em dois mundos totalmente diferentes me deu novas perspectivas e me fez conhecer a minha própria cultura na sua essência. Alessandra-EUA
15 anos fora do Brasil: Brasil, Brasil…a saudade deu lugar a uma imensa vontade de fazer parte do mundo, de viajar, de conhecer e querer mais e mais. Brasil é férias e caldo de cana apenas. Cláudia – Inglaterra
16 anos fora do Brasil: você não tem saudade? Não. Eu lembro do meu pais, da minha família, e dos meus amigos com carinho e amor. A distância nos une, e estamos um para o outro 24 horas do dia, 365 dias do ano. Se acontecer alguma urgência como já aconteceu, em menos de 24 horas estou chegando. Simone -México
17 anos fora do Brasil: nunca tinha pensado em sair do Brasil quando a oportunidade apareceu. O tempo passa rápido e o melhor que fazemos é seguir em frente sonhando e sendo feliz. Carla – Espanha
18 anos fora do Brasil: o medo do começo se transformou em munição para conquistar o futuro. Não foi fácil nos primeiros anos, mas depois de um tempo se você for forte e resolver ficar, vai valer a pena. Adriana – Portugal
19 anos fora do Brasil: eu não me arrependo de nada. Já viajei muito, conheci vários países, tive oportunidades que não teria se tivesse ficado no Brasil. Esses quase 20 anos me ensinaram muito. Sou muito mais forte do que imaginei. E ver os meus filhos crescendo falando duas línguas e aprendendo sobre outras culturas é sensacional. Carolina – EUA
20 anos fora do Brasil: vim passar 6 meses na Europa e cá estou há 20 anos. Que ALÍVIO ter saído do Brasil despretensiosamente e ter dado outro rumo a minha vida. Renée – Londres
21 anos fora do Brasil: apesar de muitos pensarem que a nossa vida aqui fora é puro glamour, não poderia estar mais longe da verdade. No começo são anos tentando conquistar o nosso espaço, aprender uma nova língua, criar relacionamentos, entender e passar a viver uma cultura nova. Enfim, nada fácil. Eliana – Itália
22 anos fora do Brasil: 3 filhos, casa, e ainda muitos sonhos a serem realizados, aqui por enquanto é o meu lugar. Amanhã? Quem sabe? Míriam – Inglaterra
23 anos fora do Brasil: com o passar dos anos vamos nos dando conta do que fizemos rs. Deixar a família para trás não é fácil, mas quando se tem determinação para algo, chegamos aonde queremos. Mas a saudade, essa nunca deixa a gente em paz. Lúcia – Inglaterra
24 anos fora do Brasil: Para mim parece que foi ontem. Se faria tudo novamente? Sem sombra de dúvida. Morar fora nos transforma. Ana – Portugal
25 anos fora do Brasil: os desafios da vida no exterior realmente me ensinaram muito e criaram novos significados na minha vida. Não penso em voltar para o Brasil tão cedo, mas também não desejo morar aqui pra sempre. Existe um lado de Londres que me encanta: a sua magia, o seu sólido estilo, mas por outro lado, sinto falta de um certo aconchego vivencial mais íntimo como familiares, o sol e o mar. Regina – Londres
26 anos fora do Brasil: quando cheguei deixei para traz a tal “zona de conforto” no Brasil. Não foi fácil enfrentar as mudanças tão radicais, mas não vacilei, me despi do preconceito e venci as barreiras! Sou muito grata a este pais que adotei como Pátria amada e tenho um marido inglês que me chama de Rainha, que mais posso querer? Beth – Londres
27 anos fora do Brasil: comigo não foi diferente, passei por várias das fases mencionadas acima. Nos primeiros anos senti tanta saudade que me fez chorar e me odiar por ter ido morar fora. Perdi muito contato com a família e amigos ao longo dos anos. Mudei, cresci, me transformei inúmeras vezes em busca de uma aceitação talvez, já que não mais voltaria. Para mim, o ponto mais marcante de se morar fora há tanto tempo é quando você descobre que não tem mais para onde voltar, porque simplesmente o que deixou no Brasil não mais existe. Nesse momento você passa a construir um futuro onde quer que esteja e tenha escolhido. O olhar para trás trará muitas lembranças e saudades, mas não irá mais impedir que você siga adiante. Ann – Londres
E vocês, Brasileiras Pelo Mundo, como se sentem morando fora e vendo os anos passarem, tornando o Brasil cada dia mais distante?
5 Comments
Depois de ter morado na República Tcheca, Praga, e agora aqui em Portugal/Porto – sinto-me uma cidadã do mundo. Duas culturas distintas. E Portugal sendo Portugal em sua essência, mas tão próximos e tão longe de nós Brasileiros, super interessante morar neste pequeno país… Dois pontos que foram essenciais até agora nestes quase 4 anos na Europa: o desapego (principalmente o material) e o desapego da certa “obsessão” que nós brasileiros, no Brasil, temos com corpo, roupas, aparência… Até agora sem grandes sofrimentos em relação a saudade. Uma vivência incrível de boas experiências e aventuras!
Gisele!
Vendo o texto de vocês me emocionei. Não sai do Brasil mas me mudei pra uma região completamente diferente e isso já me causou mudanças parecidas com a de você.
Marcella- uma goiana que morou 8 anos em Brasília e há 2 está em Belém
Lendo todas vocês tive uma sensação dúbia de entusiasmo e apreensão. Explico: já passei dos 60 anos, meus filhos estão criados, já estou aposentada, mas sempre tive uma alma muito cigana. Gosto de conhecer pessoas e lugares novos.E tem tanto mundo pra se ver… Acho estimulante e enriquecedor o contato com novas culturas. Penso em ir para Portugal, onde posso fazer uma pós em literatura (sou jornalista) e me adaptar mais rapidamente, pela semelhança da língua. A Espanha também é uma boa opção, além de ter sobrinhos por lá. Sinto um pouco de receio por ir sozinha. Mas ainda me mantenho estimulada. E o Brasil atualmente não é atrativo por nenhum ponto de vista. Então…..que Deus me ajude. E vamos em frente!
Muito bom o texto! Parabéns Ann e meninas!
Comigo não fica muito diferente de vocês…. No começo a saudade aperta demais, o choror é livre.. A primeira ida ao Brasil é tranquila…. A segunda, coração aperta ainda mais na hora da despedida! Depois, vamos nos acostumando e a cada dia que passa fica mais fácil chamar de “lar” o novo país onde mora!
Meu único medo é o que você comenta no fim, Ann, e esse “medo” se torna evidente, pois realmente o que deixamos não existe mais! Mas bem como a Christine falou, ninguém vive na china para o todo sempre! Então nós tentamos ao mesmo tempo manter algo nosso no Brasil, para o dia que essa tão difícil decisão de voltar acontecer!
Beijos, minha querida!
Essa página <3 <3 <3