As dificuldades que você vai encontrar por não falar russo.
Здравствуйте. (Olá) Спасибо. (Obrigada) До свидания. (Tchau) Я хочу воды, пожалуйста. (Eu quero água, por favor). Cinco meses morando na Rússia e isso é quase tudo que eu sei falar. Eu faço um mestrado em inglês, dividido entre Alemanha e Rússia, mas precisava escolher uma língua para focar. Como eu pretendo ficar na Alemanha quando me formar, escolhi o alemão, então nunca estudei russo, não tenho contato com muitos russos e, os que eu conheço, só conversam comigo em inglês.
Dessa forma, me perdoem o trocadilho, mas morar na Rússia sem falar o idioma local é mesmo RUSSO! Isso porque lá simplesmente ninguém fala inglês. Ah, Priscilla, o que você quer dizer com “ninguém”? Obviamente, não quero dizer que 0% da população fala inglês, mas que a porcentagem é muito baixa. E olhe que eu moro em São Petersburgo, a cidade mais “internacional” e “europeia” do país, com maior número de estudantes estrangeiros. Dá pra imaginar como é nas pequenas vilas da Sibéria?
Antes de tudo, permitam-me esclarecer que isso não é uma crítica aos russos. Afinal, seria hipocrisia criticar um país onde as pessoas não falam inglês, já que apenas 5% da população brasileira fala inglês fluente.
A diferença é que o brasileiro é um povo aberto, amigável e que AMA estrangeiros. Quando vimos algum “gringo”, já queremos fazer amizade e conversar, mesmo que não saibamos falar nada. Na Rússia, o buraco é mais em baixo. As pessoas não são nada simpáticas, nem sorridentes, e muito menos dispostas a se envolverem em uma conversa com quem não fala o idioma. Quantas vezes eu ouvi a pergunta: “Se você não fala russo, o que você está fazendo aqui?”
Então, o que eu quero é contar as dificuldades de uma estrangeira que vive em um país do qual não sabe a língua. Não é fácil, mas também não é impossível. Aproveite e cheque esse vídeo com algumas dicas básicas de Russo para te ajudar na sua vinda para a Copa do Mundo!
Vou dividir os meus “causos” em tópicos para que vocês entendam melhor o DRAMA.
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- Comprar comida!
Lembro que no meu primeiro dia em São Petersburgo, eu cheguei no dormitório morrendo de fome e a única opção era uma lanchonete que havia na frente do prédio. Eu nem sabia que tipo de comida vendia, mas estava azul de fome e decidi que ia tentar lá mesmo. Pedi, em inglês, um sanduíche sem carne.
A mulher, obviamente, não me entendeu e começou a me falar várias opções de comida (pelo menos, eu acho que era isso que ela estava falando). Tivemos que apelar para a mímica e, algumas cacarejadas depois, eu acabei conseguindo um sanduíche de frango! Êêêê. Ponto pra mim!
Além disso, o mercado também pode ser bem complicado na hora de comprar temperos e verduras. Além da oferta de vegetais na Rússia ser pouca, eu não sou a pessoa mais entendida da cozinha, então acontece com frequência de eu não achar o que eu quero e acabar substituindo por algo nada a ver.
Também tem o fato de que, em alguns mercados, você mesmo precisa ir na balança pesar sua verdura/fruta, ou seja, tem que escolher direitinho as opções lá na telinha russa. Com o tempo, você vai se adaptando e aprendendo o que é o quê, especialmente se você for sempre no mesmo mercado né? Eu, por sorte, já fiz amizade com o homenzinho das verduras e toda vez que ele me vê, ele grita “BRASIL”. Hahaha
Outra dificuldade é pedir a comida certinha nas lojas de fast-food. Mesmo você apontando no cardápio, eles vão te fazer perguntas e te dar opções (exatamente como aqui), que vão acabar te confundindo toda!
- Usar o transporte público ou o Uber.
O transporte em São Petersburgo é relativamente bom (anos-luz melhor que o brasileiro) e o serviço de táxi/Uber é ridiculamente BARATO! Então eu faço muuuito uso desse meio de transporte, até porque o público só funciona até 1h da manhã. Apesar de todos os serviços de táxi serem feitos nos aplicativos – o que facilita muito –, às vezes acontece de o GPS enviar o motorista pra um ponto diferente e não encontrar o cliente de imediato.
Daí que vem o problema: geralmente, o motorista liga para confirmar o local. Mas como eu vou responder ou entender? Eu sempre tento, mas nunca funciona, e acabamos desligando o telefone frustrados um com o outro. Lá vou eu cancelar a corrida, pedir um novo Uber e rezar para que esse venha para o local certo. Uma vez, tive que cancelar TRÊS vezes até um carro me achar!
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No ônibus também passo uns perrengues, como quando eu preciso saber se eles param na parada que eu preciso, e não consigo perguntar; ou quando eles dão algum aviso no meio da viagem, e eu, obviamente, não entendo e acabo ficando no meio do caminho. Já aconteceu mais de uma vez de o motorista avisar “Esse ônibus hoje vai parar em 3 paradas”, e eu pagar a viagem feliz da vida, só pra ter que descer depois sem saber onde estou.
- Paquerassssss
Essa parte é punk! Diferente dos alemães, os russos até têm atitude, então é normal que eles puxem papo em bares e baladas! No entanto, a comunicação quase sempre é péssima.
Primeiro, porque praticamente nenhum deles fala inglês. Dos 5 meses que eu fiquei na Rússia, acho que conversei em inglês com dois caras nessas festas porque os outros que tentavam conversar comigo tinham que recorrer à mímica ou à tradução dos meus amigos e, sinceramente, eu não tenho saco nem paciência. Prefiro usar meu tempo dançando e rindo com a minha galera!
Segundo, porque mesmo com a ajuda dos amigos, o papo acaba sendo muito chatinho, principalmente porque os russos são MUITO machistas e eu acabo brigando com quase todos.
Claro que há exceções (como tudo na vida) e esses dois que eu consegui manter um papo em inglês acabaram se mostrando pessoas interessantes. Então, não é impossível você conhecer alguém na Rússia, mas é muito difícil! E, a menos que você esteja MUITO disposta (o que não é meu caso), não vai rolar! Então, foco no Mestrado e na academia!
- Burocracia
Por último, mas não menos importante, a parte de conseguir documentos, vistos, exames, cartões, foi muito difícil. A burocracia do país já é algo absurdo e está em TUDO, desde o visto de estudante a um simples cartão de transporte. Além disso, a barreira da língua torna tudo ainda mais difícil. Pra vocês terem uma ideia, no departamento que lida com alunos estrangeiros da Universidade de São Petersburgo, apenas duas pessoas falam inglês.
No departamento de comunicação, fora os professores e o funcionário designado sozinho para lidar com os mais de 50 estudantes internacionais, NINGUÉM fala inglês. Agora imaginem a dificuldade que é pegar um simples comprovante ou pedir alguma informação na secretaria.
Eu tive que ir TRÊS vezes ao departamento de transporte público pra pegar meu cartão de estudante. E olhe que, todas as vezes, eu levei pessoas que falavam russo, porque, caso contrário, estaria até hoje sem o documento. É triste!
É, a dificuldade não significa impossibilidade. Com a ajuda do meu AMADO Google Translator, dos meus queridos amigos russos, da minha cara de pau em falar mesmo sem saber, além de alguns russos muito pacientes e legais que eu encontrei no caminho, sobrevivi meus 5 meses na Rússia e estou aqui para contar a história!
1 Comment
Boa noite !
Sinto que tens vocação para ser cidadã do mundo e louvo a tua vontade de ajudar os viajantes com teus relatos.Pois eu pretendo visitar a Rússia e ainda não fui por causa da barreira da ĺingua.penso em contratar interpréte,mas não podem ficar junto todo o tempo e devem custar muito caro.