As relações pessoais na Alemanha
Uma das coisas que menos sabemos de uma cultura estrangeira é como os nativos interagem entre si. Costumamos partir do pressuposto de que as pessoas (re)agem da mesma maneira com a qual estamos acostumados. Isso é um engano. Outra cultura, outra relação pessoal. Não fogem à regra as relações pessoais alemãs. Dependendo do ambiente e da profundidade, as interações podem ser bem diferentes das brasileiras. Gostaria de lembrar que sempre há exceções, mas a maioria acontece como descrevo a seguir.
Colega não é amigo
Essa é uma das maiores diferenças com o que estamos acostumados no nosso país. Na Alemanha, não se mistura pessoal com profissional. Trata-se os chefes com muito respeito, muitas vezes pelo sobrenome. Na língua alemã, há um pronome pessoal para ser usado nesse tipo de situação, o “Sie”. “Sie” é um você formal, utilizado com pessoas que você não conhece e no ambiente profissional, a não ser que seja explicitamente aceito o tratamento informal. Os colegas não são, geralmente, tratados de forma tão formal. Mesmo assim, não espere que eles lhe convidem para um barzinho às sextas-feiras após o expediente.
Há exceções, é claro, como para tudo na vida. Mas apesar de alguns assuntos pessoais que possam ser contatos no escritório, risadas e brincadeiras, colega permanece colega. Uma relação no ambiente de trabalho pode se desenvolver para uma amizada, mas é bom não forçar.
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Amigos de anos
A impressão que tenho é de que os alemães vivem rodeados de poucos amigos. São aqueles normalmente da época da infância. Existem pessoas extremamente comunicativas e abertas aqui também, mas a maioria é fechada e contam mesmo com poucos. Conhecer um amigo de amigo em um evento e sair adicionando nas redes sociais não é muito atitude alemã. E adicioná-lo não significaria chamá-lo de amigo. Os alemães usam muito a palavra “conhecido(a)”. Se não podem contar com aquela pessoa ou não tiver uma convivência próxima, será chamada de conhecida.
Com os amigos os alemães são bem simpáticos, têm bom humor, contam piadas, fazem zoações, assim como estamos acostumados. Mas ao se encontrarem, é um aperto de mão ou um abraço. Dar beijos na bochecha não é muito comum, talvez seja coisa para melhores amigas, mas mesmo assim, não são todas que o fazem.
Relações familiares
As famílias alemãs costumam ser pequenas. O mais comum é ter um ou dois filhos. A estatística atual diz que uma mulher alemã tem 1,5 filho, isso é, a maioria tem mesmo um filho apenas. A idade média para se tornar mãe é de 30 anos.
Com isso, o núcleo familiar é menor do que estamos acostumados no Brasil. As relações entre eles também é um pouco diferente. Na Alemanha, os filhos têm menos dependência emocional dos pais. Essa coisa de minha mãe é sagrada não é algo que se sente por aqui. Há respeito pelos pais e irmãos, mas o carinho físico é mais contido. Tem filhos que cumprimentam os pais com um aperto de mão.
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Na questão rede de apoio para famílias com filhos pequenos, os familiares podem ajudar no que for preciso. Mesmo assim, espera-se que se você fez o filho, você que tem que cuidar dele. Então, não é comum que familiares fiquem sempre com as crianças para você. Farão se houver necessidade ou uma vez ou outra.
Relacionamentos afetivos
Essa relação é também um tanto diferente do que estamos acostumados no Brasil. Já escrevi sobre relacionamento com os alemães aqui. Os nativos são românticos e não costumam ser ciumentos. Respeita-se também a privacidade do outro. Entretanto, é um carinho mais contido. Beijos e abraços em público não são coisas típicas alemãs. Eles gostam muito de beijar celinho. Aquela paixão toda, só se for no quarto fechado.
E sobre ser solteiro na Alemanha? Ultimamente, há a mesma dificuldade de se conhecer alguém legal de forma espontânea como no Brasil. Hoje em dia aqui os solteiros usam aplicativos de namoro. Isso me faz lembrar de um programa de televisão sobre casamento, que contava as histórias dos casais. Era muito comum ouvir que eles se conheceram através de algum site ou aplicativo.
Enfim, os alemães são mais sinceros nesse sentido. Eles não precisam de muita gente ao redor, são independentes emocionalmente e mais contidos. Você vive com uma família alemã ou tem conhecidos por aqui? Conta aqui nos comentários qual foi a sua experiência. Para toda regra há uma exceção.